sexta-feira, 5 de junho de 2015

Liberalismo e homofobia

Penso que homofobia é muitas vezes um problema de falta de informação. O leitor conhece o caso David Reimer? Rapidamente: David Reimer nasceu no Canadá em 1965. Aos oito meses, Reimer teve seu pênis destruído após um acidente, durante uma cirurgia de fimose. Sem saber o que fazer, os pais do garoto procuraram orientação de um renomado psicólogo que defendia a tese de que a identidade de gênero é algo aprendido socialmente. O psicólogo sugeriu que o pênis destruído fosse removido juntamente com os testículos e que uma vagina fosse construída no local. David passou a se chamar Brenda e a ser criado como menina.

Neonazistas: a intolerância persiste

O resultado dessa experiência maluca não poderia ter sido pior. David nunca se sentiu como menina. Aos 14 anos, o adolescente entrou em depressão profunda. Os pais resolveram então contar-lhe toda a verdade sobre a sua mudança de sexo. Depois disso, David fez todo o caminho de volta. Passou a usar seu nome original e a vestir-se como um garoto. Posteriormente removeu as mamas – decorrente do uso de hormônios femininos – e passou a tomar hormônios masculinos. Ele chegou a casar-se e tornou-se padrasto dos três filhos de sua esposa. Mas nada deu certo. Ele voltou a entrar em depressão e suicidou-se aos 38 anos.

Esse caso deixa claro que a tese do tal renomado psicólogo estava completamente errada. Identidade de gênero não é algo socialmente aprendido e sim inato. Todos nós nascemos com uma identidade sexual. Ou em outras palavras, todos nós já nascemos hétero ou homossexuais. E não existe nenhum tratamento que possa reverter essa situação. Ou seja, não existe cura gay.

É verdade que alguns neurocientistas costumam dizer que a identidade de gênero depende de fatores orgânicos e sociais. Isso acontece porque cientistas de um modo geral costumam ser muito comedidos ao divulgar os resultados de suas pesquisas. Eu, particularmente, estou convencido de que a identidade de gênero decorre totalmente de fatores congênitos. Várias pesquisas científicas apontam nessa direção. Vou comentar apenas uma delas. Cientistas da Universidade Karolinska, na Suécia, realizaram exames de ressonância magnética e concluíram que os cérebros de homens homossexuais têm várias semelhanças físicas ao de mulheres heterossexuais. Por outro lado, os cérebros de mulheres homossexuais têm semelhanças aos de homens heterossexuais.

Tanto o caso David Reimer como a experiência dos cientistas suecos apontam na mesma direção: a identidade de gênero é uma característica congênita. Agora, sejamos razoáveis, discriminar (ou odiar) pessoas por um aspecto biológico não é algo muito inteligente. Algumas pessoas homofóbicas são desinformadas, acham simplesmente que homossexualidade é safadeza, pouca vergonha. Há ainda um outro grupo: os neonazistas, que querem promover uma limpeza na sociedade eliminando tudo que está corrompido, estragado ou deformado.

Para os liberais, por sua vez, esses dois casos (Reimer e Karolinska) não acrescentam nada, ou quase nada, em relação a como os gays e lésbicas devem ser tratados. Se a homossexualidade não fosse uma característica biológica e sim uma escolha pessoal, não mudaria nada. As pessoas verdadeiramente liberais entendem que todos os indivíduos são livres para buscar a felicidade. Todo indivíduo é livre para fazer o que bem entender da sua própria vida, desde que não prejudique ninguém com suas atitudes. É assim que as pessoas realmente liberais pensam.

Temos aqui uma clara divisão dentro do espectro ideológico direitista. De um lado, está a direita liberal que defende o liberalismo econômico e as liberdades individuais. De outro, a direita conservadora que também defende o liberalismo econômico, mas é restrita em relação às liberdades individuais.

Essa direita conservadora dificilmente é moderada. Ela é, quase sempre, retrógrada, teocrática e fascista. Seus líderes dizem que não são homofóbicos, mas difundem uma doutrina de preconceito e ódio entre seus seguidores. Um dos principais representantes dessa direita fascista, um filósofo muito popular no YouTube, usa a estranha expressão “gayzismo” para se referir aos grupos de ativismo LGBT. Esse filósofo não tem nenhuma simpatia por esses grupos e logicamente faz isso para associar esse movimento a outros nada veneráveis, como: fascismo, nazismo, comunismo etc.

Segundo esse senhor, o gayzismo politicamente organizado começou em Roma, no século I. Durante trezentos anos, a elite gayzista romana perseguiu, torturou e matou centenas de milhares de cristãos. Esse ódio anticristão, responsável pela morte de milhões de pessoas, persiste até hoje. E o principal representante desse movimento hoje, no Brasil, é, acreditem ou não, o deputado federal pelo PSOL e ex-BBB, Jean Wyllys.

Segundo o tal filósofo direitista, Jean Wyllys (e os gayzistas em geral) é movido pelo mesmo ódio que movia a elite romana. Ele é impulsionado por um desejo psicótico de remodelar o mundo à luz do seu desejo sexual. E o que Jean Wyllys deseja de fato é implantar uma ditadura gayzista no Brasil que vai terminar inexoravelmente numa perseguição de cristãos.

É evidente que tudo isso é uma bobagem que nem merece ser discutida. Porém muitas pessoas levam essas ideias a sério. Isso é preocupante. Ou melhor, muito preocupante. Na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930, um homenzinho desprezível também difundia sentimentos de preconceito e ódio fundamentados em teorias fantasiosas sobre determinados grupos da sociedade. Muitos acharam que aquele homem era demasiadamente ridículo e não o levaram a sério. O homenzinho desprezível foi em frente com seu projeto de purificar a sociedade de todo o mal. O final dessa história, todos nós conhecemos bem. 

Um comentário:

  1. Parei de ler em "identidade de gênero não é algo socialmente aprendido e sim inato".

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