domingo, 21 de junho de 2015

Liberdade econômica e desenvolvimento

Ao assistir a um vídeo com vários discursos proferidos durante o 5º Congresso Nacional do PT, senti um profundo desapontamento. Entre outros tantos absurdos, muitos palestrantes se manifestaram abertamente contra o capitalismo e a favor do socialismo. Isso demonstra o atraso do embate entre direita e esquerda no Brasil. A discussão sobre o melhor modelo econômico, socialismo ou capitalismo, está superada pelo menos desde a queda do Muro de Berlim. Nos países mais avançados, o debate é entre liberais e social-democratas, ambos a favor do capitalismo.


Cingapura: riqueza e liberdade econômica

O próprio Thomas Piketty, a grande estrela da esquerda na atualidade, já disse várias vezes ser a favor do capitalismo. Em seu livro “O capital no século XXI”, ele cita um exemplo bem interessante. Na França, na década de 1880, uma bicicleta custava o equivalente a seis meses de trabalho e era de péssima qualidade. Na mesma França, quase 100 anos depois, na década de 1960, uma bicicleta custava menos de uma semana de trabalho e a qualidade era muito superior. Qual sistema econômico proporcionou essa tremenda queda de preço?

Socialistas acreditam ainda que o liberalismo é uma simples invenção das elites para manter seu status quo. Esse é outro equívoco. Uma economia de mercado pode beneficiar a todos, ricos e pobres, capitalistas e trabalhadores.  Para Simon Kuznets (1901-1985), “o crescimento é como a maré alta: levanta todos os barcos”. Ou seja, levanta tanto um transatlântico, como uma jangada.

Muito bem. Mas se o capitalismo liberal é tão bom assim, por que existe tanta pobreza e desigualdade nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil? A resposta é relativamente simples. Falta ao Brasil justamente aquilo que os socialistas mais criticam: liberdade econômica. De acordo com o Índice de Liberdade Econômica (Index of Economic Freedom), criado pelo prestigioso centro de pesquisa norte-americano Heritage Foundation, o Brasil ocupa a 118ª posição, num ranking de 178 países, ordenados de acordo com o grau de liberdade econômica. O Brasil está atrás de países como Honduras, Gâmbia, Tanzânia, Nicarágua, Senegal, Costa do Marfim, Zâmbia, Bósnia e Hezergovina, Namíbia, Uganda, Suazilândia, Albânia, El Salvador, Cabo Verde e Guatemala. Ou seja, estamos muito mal na foto. É bom ressaltar também que, nas três últimas posições, estão: Venezuela (176), Cuba (177) e Coreia do Norte (178).

Mas o que significa liberdade econômica e como esse índice é calculado? Basicamente, ter liberdade econômica significa: proteção à propriedade privada, livre-comércio, estabilidade monetária e um Estado pequeno em relação ao tamanho da economia.

Por todo mundo, vemos uma forte correlação entre liberdade econômica e qualidade de vida da população. Em países mais livres, as pessoas têm salários mais altos, direitos civis mais protegidos, meio-ambiente mais limpo e maior expectativa de vida. Em países mais livres, há menos corrupção, menos trabalho infantil e menos desemprego.

Dentro desse contexto, um caso que chama bastante a atenção é Cingapura. Esse pequeno país asiático, ex-colônia britânica, independente apenas desde 1959 e muito pobre em seu passado recente, está hoje entre os países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Coincidentemente, no ranking dos países mais livres, Cingapura está em segundo lugar, atrás apenas de Hong Kong.

Finalizando, deixo aqui uma questão. Em qual modelo econômico o Brasil deveria se basear para melhorar o padrão de vida de todos, mas sobretudo dos mais pobres? No modelo capitalista-liberal de Cingapura ou no modelo socialista-centralizador de Cuba? A resposta é óbvia demais? Pois eu acho que essa pergunta deveria ser enviada aos dirigentes do PT. Talvez essa minha análise (e outras que tenho feito) seja muito superficial – petistas já me disseram isso mais de uma vez. É possível que os intelectuais petistas consigam analisar esses fatos com mais profundidade e perceber aquilo que eu não consigo enxergar: ou seja, que o modelo socialista-centralizador cubano é o melhor.



segunda-feira, 15 de junho de 2015

Imperialismo capitalista: mito e realidade

É muito recorrente entre os teóricos socialistas a crença na ideia de que a riqueza dos países capitalistas desenvolvidos provém da exploração de nações pobres. Isso logicamente não é verdade. Mas pior que uma mentira é uma meia mentira. Portanto, convém entender o que é mito e o que é realidade nessa história toda.

O capitalismo, desde os seus primórdios, no século XVI, – período conhecido também como mercantilismo – sempre operou em escala global: conquista da América, entrada de metais preciosos na Europa etc. No final do século XVIII e início do século XIX, com a Revolução Industrial, esse ímpeto expansionista se abrandou. Porém, no final do século XIX, há um novo período de expansão colonial. O que explica essa mudança?

A Revolução Industrial proporcionou uma grande concentração de riqueza nas potências econômicas da época. Por vezes, as poucas alternativas de investimento dentro do próprio país levavam os capitalistas a buscarem investimento mais lucrativo em outras nações.

Aqui mesmo no Brasil, temos um caso que elucida bem essa questão. Nesse período, o Brasil sofria um dilema. O café era uma atividade econômica altamente rentável. Porém, apesar da grande disponibilidade de terras férteis para plantio, não havia como aumentar a produção devido à ausência de uma infra-estrutura de transportes. Solução: o Brasil fez acordos com capitalistas ingleses para a construção de ferrovias no estado de São Paulo. O transporte sobre trilhos deu grande impulso à economia cafeeira e, posteriormente, contribuiu para a industrialização do país.

Lenin: teórico do imperialismo e líder revolucionário

Temos nesse exemplo uma situação clara de trocas voluntárias e ganhos mútuos. Mas nem sempre as coisas funcionavam assim. Por vezes, as potências econômicas subjugavam pela força diferentes partes do mundo em busca de lucro. Os teóricos do imperialismo, sobretudo o líder bolchevique Vladimir Ilitch Lenin (1870-1924), acreditavam que essa era uma característica inerente ao capitalismo que não tinha como ser sanada e que a única solução seria uma revolução comunista. Lenin estudou esse assunto profundamente, mas cometeu alguns erros toscos que os próprios marxistas posteriormente vieram a admitir. Num momento em que o capitalismo estava se fortalecendo, Lenin disse que o imperialismo representava o último estágio do capitalismo. Acreditava que o fim do capitalismo estava muito próximo. Chegou inclusive a usar a expressão “capitalismo moribundo”.

Como podemos ver, o capitalismo continua bem vivo até hoje. Essa tese de Lenin, portanto, estava errada. Mas o que dizer dessa ânsia capitalista de dominar as nações mais pobres? No meu entendimento, esse neocolonialismo foi um processo complexo que não tem como ser compreendido meramente pela ótica econômica. Ele tem a ver com a política, com o nacionalismo, com o fervor religioso (levar o cristianismo a “povos selvagens”), com uma percepção errada de como a economia funciona e até mesmo com a loucura cega de alguns indivíduos. É bastante possível que o imperialismo não tenha favorecido as potências econômicas da época, pois manter nações inteiras sob o jugo militar envolvia elevadíssimos custos financeiros. As nações colonizadas podem ter sido exploradas, mas também foram favorecidas em alguns aspectos. As potências imperialistas construíram hospitais, escolas, ferrovias entre outras coisas. Povos colonizados tiveram acesso a vacinas, antibióticos e outros tratamentos médicos.  E, definitivamente, o imperialismo não explica por que existem nações ricas e pobres. Muitos países desenvolvidos da atualidade nunca foram imperialistas. Alguns exemplos: Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e Noruega. Outros países desenvolvidos são ex-colônias de países imperialistas, tais como: Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura.

Submeter coercivamente nações estrangeiras é algo moralmente errado. O imperialismo assemelha-se ao escravismo, é uma mancha no passado da humanidade, porém não é fruto do capitalismo, conforme argumentava Lenin. E, finalmente, o imperialismo não tem absolutamente nenhuma relação com os fundamentos da doutrina liberal.

domingo, 7 de junho de 2015

Olavo de Carvalho?

No meu último artigo, fiz algumas referências não muito lisonjeiras ao filósofo Olavo de Carvalho e muita gente não gostou. Me chamaram até de esquerdista por conta disso. Será que alguém deve ser taxado de esquerdista por discordar do pensamento de seja lá quem for? Penso que não. Geralmente, o pessoal da esquerda é que acredita em profetas iluminados. A turma de direita costuma ser mais racional.


Vou fazer um breve relato sobre o que penso desse senhor. Muito bem, conheci Olavo de Carvalho navegando na internet. Comecei então a assistir aos seus vídeos. A princípio, fui gostando. Um cara muito inteligente, culto, que se comunica muito bem e tudo isso que vocês já sabem. Porém, sempre havia alguma coisa aqui, outra ali que me desagradavam. Por fim, fui desgostando a ponto de adquirir verdadeira ojeriza.

Vamos lá, quais são as críticas que eu faço a Olavo:

  • Ele usa xingamentos e palavrões. Tudo bem, é o estilo dele. Mas é algo que me desagrada. E acho que é uma atitude que não combina muito bem com uma pessoa que fala de moral, comportamento, religião, fé etc. É contraditório e soa algo falso, pelo menos para mim. Se você tiver um filho jovem ou adolescente, você recomendaria a ele assistir aos vídeos de Olavo? Será que ele é um bom exemplo para a juventude?

  • Ele acredita em teorias conspiratórias. Vou citar uma apenas. O presidente Obama não nasceu nos Estados Unidos. Vamos analisar com calma. Obama é filho de uma norte-americana e um queniano. Não faz diferença onde ele nasceu. Se a mãe dele é norte-americana, ele tem direito à cidadania norte-americana e ponto final. Por que Obama iria mentir sobre isso e forjar uma certidão de nascimento falsa? Isso não tem lógica para mim.

  • Às vezes, ele fala algumas coisas absurdas. Por exemplo, fumar não faz mal a saúde. Bem, se ele estiver certo, milhões de médicos e cientistas no mundo inteiro estão errados.

  • Ele é contra o feminismo e defende a família patriarcal. O que será que ele chama de família patriarcal? Isso me faz lembrar minha infância, uma época de maridos autoritários e mulheres submissas e oprimidas. Será que é esse mundo que ele quer de volta? Fico particularmente surpreso quando vejo mulheres elogiando Olavo sem objeções.

  • Por fim, não gosto da forma como ele discute a questão da homossexualidade. Por acaso, esse é um problema que envolve pessoas da minha família de quem eu gosto muito. É um problema complexo e que tem de ser tratado de forma respeitosa e delicada. Não gosto do tom de zombaria e deboche que ele usa ao tratar desse tema. Ele diz ser contra direitos gays. Não concordo. Nós ainda temos de avançar nessa questão. E entendo também que ele dissemina uma doutrina de ódio com suas teses, o que é o pior de tudo.

Bem, resumidamente, isso é o que eu penso sobre Olavo de Carvalho.

O Rodrigo Constantino e ele fizeram as pazes? Que bom, eu nem sabia. A paz é sempre melhor que a guerra.

Já que toquei no assunto, vou falar o que penso do Constantino. Descobri através de um amigo. Primeiro, vi seus vídeos. Depois, comecei a acompanhar seu blog. Concordo com quase 100% do que ele diz. Mas 100% acho que eu não concordo nem comigo mesmo. Não gosto muito quando ele fala mal do Rio de Janeiro, pois eu, assim como a maioria dos paulistas, adoro o Rio.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Liberalismo e homofobia

Penso que homofobia é muitas vezes um problema de falta de informação. O leitor conhece o caso David Reimer? Rapidamente: David Reimer nasceu no Canadá em 1965. Aos oito meses, Reimer teve seu pênis destruído após um acidente, durante uma cirurgia de fimose. Sem saber o que fazer, os pais do garoto procuraram orientação de um renomado psicólogo que defendia a tese de que a identidade de gênero é algo aprendido socialmente. O psicólogo sugeriu que o pênis destruído fosse removido juntamente com os testículos e que uma vagina fosse construída no local. David passou a se chamar Brenda e a ser criado como menina.

Neonazistas: a intolerância persiste

O resultado dessa experiência maluca não poderia ter sido pior. David nunca se sentiu como menina. Aos 14 anos, o adolescente entrou em depressão profunda. Os pais resolveram então contar-lhe toda a verdade sobre a sua mudança de sexo. Depois disso, David fez todo o caminho de volta. Passou a usar seu nome original e a vestir-se como um garoto. Posteriormente removeu as mamas – decorrente do uso de hormônios femininos – e passou a tomar hormônios masculinos. Ele chegou a casar-se e tornou-se padrasto dos três filhos de sua esposa. Mas nada deu certo. Ele voltou a entrar em depressão e suicidou-se aos 38 anos.

Esse caso deixa claro que a tese do tal renomado psicólogo estava completamente errada. Identidade de gênero não é algo socialmente aprendido e sim inato. Todos nós nascemos com uma identidade sexual. Ou em outras palavras, todos nós já nascemos hétero ou homossexuais. E não existe nenhum tratamento que possa reverter essa situação. Ou seja, não existe cura gay.

É verdade que alguns neurocientistas costumam dizer que a identidade de gênero depende de fatores orgânicos e sociais. Isso acontece porque cientistas de um modo geral costumam ser muito comedidos ao divulgar os resultados de suas pesquisas. Eu, particularmente, estou convencido de que a identidade de gênero decorre totalmente de fatores congênitos. Várias pesquisas científicas apontam nessa direção. Vou comentar apenas uma delas. Cientistas da Universidade Karolinska, na Suécia, realizaram exames de ressonância magnética e concluíram que os cérebros de homens homossexuais têm várias semelhanças físicas ao de mulheres heterossexuais. Por outro lado, os cérebros de mulheres homossexuais têm semelhanças aos de homens heterossexuais.

Tanto o caso David Reimer como a experiência dos cientistas suecos apontam na mesma direção: a identidade de gênero é uma característica congênita. Agora, sejamos razoáveis, discriminar (ou odiar) pessoas por um aspecto biológico não é algo muito inteligente. Algumas pessoas homofóbicas são desinformadas, acham simplesmente que homossexualidade é safadeza, pouca vergonha. Há ainda um outro grupo: os neonazistas, que querem promover uma limpeza na sociedade eliminando tudo que está corrompido, estragado ou deformado.

Para os liberais, por sua vez, esses dois casos (Reimer e Karolinska) não acrescentam nada, ou quase nada, em relação a como os gays e lésbicas devem ser tratados. Se a homossexualidade não fosse uma característica biológica e sim uma escolha pessoal, não mudaria nada. As pessoas verdadeiramente liberais entendem que todos os indivíduos são livres para buscar a felicidade. Todo indivíduo é livre para fazer o que bem entender da sua própria vida, desde que não prejudique ninguém com suas atitudes. É assim que as pessoas realmente liberais pensam.

Temos aqui uma clara divisão dentro do espectro ideológico direitista. De um lado, está a direita liberal que defende o liberalismo econômico e as liberdades individuais. De outro, a direita conservadora que também defende o liberalismo econômico, mas é restrita em relação às liberdades individuais.

Essa direita conservadora dificilmente é moderada. Ela é, quase sempre, retrógrada, teocrática e fascista. Seus líderes dizem que não são homofóbicos, mas difundem uma doutrina de preconceito e ódio entre seus seguidores. Um dos principais representantes dessa direita fascista, um filósofo muito popular no YouTube, usa a estranha expressão “gayzismo” para se referir aos grupos de ativismo LGBT. Esse filósofo não tem nenhuma simpatia por esses grupos e logicamente faz isso para associar esse movimento a outros nada veneráveis, como: fascismo, nazismo, comunismo etc.

Segundo esse senhor, o gayzismo politicamente organizado começou em Roma, no século I. Durante trezentos anos, a elite gayzista romana perseguiu, torturou e matou centenas de milhares de cristãos. Esse ódio anticristão, responsável pela morte de milhões de pessoas, persiste até hoje. E o principal representante desse movimento hoje, no Brasil, é, acreditem ou não, o deputado federal pelo PSOL e ex-BBB, Jean Wyllys.

Segundo o tal filósofo direitista, Jean Wyllys (e os gayzistas em geral) é movido pelo mesmo ódio que movia a elite romana. Ele é impulsionado por um desejo psicótico de remodelar o mundo à luz do seu desejo sexual. E o que Jean Wyllys deseja de fato é implantar uma ditadura gayzista no Brasil que vai terminar inexoravelmente numa perseguição de cristãos.

É evidente que tudo isso é uma bobagem que nem merece ser discutida. Porém muitas pessoas levam essas ideias a sério. Isso é preocupante. Ou melhor, muito preocupante. Na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930, um homenzinho desprezível também difundia sentimentos de preconceito e ódio fundamentados em teorias fantasiosas sobre determinados grupos da sociedade. Muitos acharam que aquele homem era demasiadamente ridículo e não o levaram a sério. O homenzinho desprezível foi em frente com seu projeto de purificar a sociedade de todo o mal. O final dessa história, todos nós conhecemos bem.