segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Como deter a escalada da violência?


De acordo com o Mapa da Violência 2015, morrem quase cinco pessoas por hora no Brasil. E essa violência vem aumentando, ano após ano. Em 1980, o total de mortos por armas de fogo foi de 8.710 pessoas. Em 2012, esse número subiu para 42.416. Sendo que, nesse mesmo período, a população brasileira cresceu 61%. Esses números são chocantes, como explica-los? Com certeza, parte do problema tem origem na questão social. O Brasil sempre foi, desde o período colonial, um país marcado pela pobreza e desigualdade extremas. E toda essa injustiça social é com certeza combustível para violência. Todavia, desde 1994, tanto PSDB quanto PT contribuíram para incluir os grupos mais vulneráveis da população. Esse movimento foi em grande medida uma reação à ampliação da desigualdade ocorrida durante o período militar. Desde a implementação do Plano Real, tem havido uma clara redução da desigualdade e da pobreza.

Isso nos leva necessariamente a uma indagação: se a situação econômica tem melhorado, por que a violência tem aumentado em vez de diminuir? Para quem acha que a questão social não é relevante e a solução é simplesmente reprimir, convém notar que, em 2014, policiais civis e militares mataram 3.022 pessoas no Brasil - uma média de oito pessoas por dia. Esse número representa um crescimento de 37% em relação a 2013. A polícia no Brasil é extremamente letal e cadeia parece que também não é a solução. Com 607.700 presos, o Brasil tem a quarta maior população encarcerada do mundo, atrás somente de China, Estados Unidos e Rússia.

Particularmente, acredito que esse aumento da violência tem a ver com uma combinação explosiva: liberdade sexual e baixos níveis de instrução. Explico melhor. Por volta dos anos 1970 – com um certo atraso –, a revolução sexual chegou finalmente ao Brasil. Isso, por um lado, foi positivo. Vivíamos em uma sociedade patriarcal, com mulheres submissas e oprimidas. Quem (da minha geração) não se lembra da então sexóloga Marta Suplicy argumentando contra o tabu da virgindade no programa TV Mulher?

Sou plenamente favorável à emancipação sexual das mulheres. Mas, por outro lado, acredito que toda essa liberdade sexual em um país com baixíssimo nível de instrução produziu resultados indesejados: famílias desestruturadas, crianças abandonadas, violência doméstica, entre outras coisas. Adolescentes passaram a ter filhos cada vez mais cedo e ser mãe solteira se tornou algo cada vez mais normal. Sem essa base familiar, muitas dessas crianças oriundas de famílias pobres e de pouca instrução acabam se transformando em marginais.

Não acredito num retorno aos valores morais dos anos 1950-60. Isso pode acontecer para alguns grupos, mas não para a sociedade como um todo. A humanidade, por vezes, parece caminhar em círculos, mas creio que estamos na realidade seguindo em frente. Certas mudanças são definitivas, não há como voltar atrás. Portanto, não existe outra alternativa, as pessoas têm de aprender a lidar com essa liberdade. Entendo que a educação poderia dar uma grande contribuição para redução da violência. Pessoas mais instruídas normalmente têm maior capacidade de discernimento e consequentemente tendem a evitar comportamentos destrutivos. Basta fazer uma comparação do Brasil com algum país desenvolvido. Na Suécia, por exemplo, as pessoas, de um modo geral, são liberais do ponto de vista sexual, mas o país apresenta baixíssimos níveis de violência. É evidente que a Suécia é um país rico, com alta renda per capita e um Estado de Bem-Estar Social generoso. Tudo isso ajuda, mas acredito que o ponto mais importante está na educação. Enquanto não resolvermos essa questão, continuaremos sendo uma das nações mais violentas do mundo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Uma solução liberal para o problema da educação no Brasil



Não existe relato de nenhum país no mundo que tenha se desenvolvido sem ter investido massivamente em educação. Se o Brasil conseguir realizar essa proeza, seremos os primeiros.

Periodicamente, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realiza levantamentos para verificar a qualidade da educação básica em diferentes países. E, ano após ano, o Brasil está sempre no fim da lista, entre os países com piores desempenhos. Como solucionar esse problema? Primeiramente, temos de entender que educação é algo de longo prazo: uma geração semeia e outra colhe. Se não houver um certo altruísmo intergeracional, as coisas não andam. E que fique bem entendido: nós ainda nem começamos a semear.

Educação pública é sempre ruim? Não necessariamente. Alguns países conseguiram desenvolver modelos de educação pública de qualidade. Isso é possível, mas acredito que existe uma maneira mais prática, simples e rápida de resolver essa questão. Vamos descomplicar os fatos. Educação é algo que se compra e vende. Existe, portanto, um mercado para a educação. Pais e alunos são consumidores, compram esse serviço. Professores e administradores são ofertantes, vendem

Por que a educação no Brasil é tão precária? Por uma razão muito simples, ela sofre dos mesmos problemas dos serviços públicos de uma forma geral. Não existem incentivos para melhorar. Já que estamos falando de mercados, façamos uma breve comparação entre escolas e restaurantes. Bons restaurantes tendem a se expandir e criar filiais. Restaurantes ruins tendem a fechar as portas. Com relação a escolas, a lógica não é diferente. Pais e alunos querem estudo de qualidade. Boas escolas particulares tendem a crescer a abrir filiais. Escolas particulares ruins fecham as portas. Essa é a lógica do mercado.

A melhor saída para a educação no Brasil está na privatização. Mas e os pais que não têm recursos para pagar pelos estudos dos filhos? O que fazer? Penso que a melhor solução para esse caso é a proposta de Milton Friedman. Esse importante economista fez um estudo e concluiu que, em 1978, o governo norte-americano tinha um gasto anual em educação de aproximadamente dois mil dólares por criança. Façamos uma breve reflexão. Se alguns pais optam por manter seus filhos em uma escola privada e não usam esse serviço oferecido "gratuitamente" pelo governo, nada mais justo que serem reembolsadas por isso. Friedman sugere então que os pais que matriculam seus filhos em escolas particulares deveriam receber um voucher de dois mil dólares. Esse voucher seria entregue na escola privada como forma de pagamento. O objetivo é aumentar a qualidade através da competição. Se as escolas públicas não oferecem uma boa educação, os pais podem requerer esse beneficio do governo e transferir seus filhos para escolas particulares. A concorrência entre escolas públicas e privadas faria com que as escolas mais eficientes permanecessem no mercado e a menos eficientes fechassem as portas.

Esse tipo de política certamente encontraria grande resistência por parte de alguns “educadores”. Não porque ela não seja boa ou viável mas porque tende a reduzir privilégios de uma “aristocracia da educação”. Para esse grupo, quanto mais centralizada, burocrática e estatizada a educação, tanto melhor. O problema da educação é na realidade muito semelhante a muitos outros problemas do Brasil. Existe uma solução relativamente simples, mas grupos privilegiados pelo atual modelo tendem a defender seus interesses mesquinhos em detrimento do benefício social e vão tentar convencer a população de que a proposta liberal não é adequada.

Em relação ao ensino superior, a situação é também dramática. O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo. Seria bastante razoável que nosso país tivesse pelo menos uma universidade entre as cinquenta ou cem melhores do mundo. Concordam? Mas não é bem assim. De acordo com o Times Higher Education, a nossa melhor universidade - a Universidade de São Paulo (USP) - não está nem entre as 250 melhores do mundo.

Além do fator qualidade, há outro talvez tão grave quanto. O ensino público superior gratuito é um instrumento brutal de concentração de renda. Jovens de classe média e alta têm seus estudos integralmente subsidiados pelo governo. Enquanto isso, jovens pobres têm de pagar para poder obter um diploma de nível superior. Vejam bem, o ensino superior aumenta a produtividade, mas isso não justifica que o governo deva oferecê-lo de forma gratuita. Em economia, "não existe almoço grátis". Ensino superior gratuito? Ledo engano. O aluno não paga, mas alguém tem de assumir a conta e esse alguém é o contribuinte. Qual a vantagem que eu, contribuinte, tenho em subsidiar a educação superior de uma pessoa que eu não conheço e que não vai me dar nada em troca? Qual o sentido disso?

O mais correto do ponto de vista ético é que o ensino superior seja pago. Quem vai usufruir dos benefícios, que pague pelo serviço. Mas e os pobres? Em uma sociedade justa, o caminho deve estar aberto para todos. Qualquer pessoa, independente da cor, raça, sexo, condição social etc. tem o direito de cursar uma universidade, desde que pague por isso. Se esse jovem não dispõe de recursos financeiros, se sua família não tem como ajudar, deve haver algum mecanismo de financiamento que possibilite essa pessoa de estudar.

Façamos uma analogia bem simples. Se eu desejo possuir um carro, devo fazer uma poupança ou então um financiamento para poder adquiri-lo. Todos estão de acordo? Ou alguém acha justo que o governo cobre impostos e ofereça automóveis totalmente gratuitos às pessoas que se saírem melhor em um teste de volante? Pois é isso que o governo faz em relação ao ensino superior. E, por incrível que pareça, a imensa maioria dos brasileiros, inclusive aqueles que se sacrificam terrivelmente para pagar uma faculdade particular, entendem que isso está totalmente correto.

Se essas mudanças aqui expostas fossem colocadas em prática no Brasil, já seria um avanço e tanto. Porém não vemos políticos defendendo essas ideias. Privatizar a educação básica e acabar com o ensino superior gratuito são políticas que desagradariam grande parte da população. Em português bem claro: são antipopulares, não rendem votos. Muitos brasileiros não conseguem entender a lógica de uma economia de mercado e isso nos mantém atados à velha armadilha ideológica que impede o Brasil de avançar.

sábado, 29 de agosto de 2015

O que muitos brasileiros não conseguem entender sobre o capitalismo

Em 2001, o economista britânico Jim O’Neill criou o termo BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China –, segundo ele, países emergentes que reuniam condições de se tornarem grandes potências econômicas nas próximas décadas. Essa expressão foi alterada posteriormente para BRICS, com a inclusão da África do Sul (South Africa, em inglês). Tudo isso é muito bacana, mas sejamos realistas: quais são as chances reais do Brasil se transformar em uma potência econômica nas próximas décadas?


Existe um grande fator pesando contra. Boa parte dos brasileiros tem uma visão bastante negativa do capitalismo. O Brasil tem diversas mazelas sociais: pobreza, violência, desigualdade, entre outras. A causa de todos esses problemas costuma ser atribuída ao capitalismo. Esse raciocínio está logicamente equivocado. Na verdade, o capitalismo é a única alternativa conhecida de tornar as nações mais ricas.

Isso é algo muito fácil de observar. Durante quase toda sua história, a humanidade viveu em situação de extrema pobreza. Somente a partir do final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo, esse quadro começou a mudar. Pessoas comuns passaram a usufruir de bens que antes eram destinados somente a pessoas muito ricas. Por exemplo, no Brasil colonial, objetos simples como talheres ou copos de vidro eram considerados bens de luxo. No Brasil dos anos 1960-70, somente pessoas alto poder aquisitivo podiam ter automóvel, telefone ou viajar para o exterior. O capitalismo tem um grande poder de baratear as mercadorias. A história nos mostra isso claramente. Com o passar do tempo, os produtos vão ficando melhores e mais baratos. Produtos antes de luxo se tornam acessíveis às pessoas de mais baixa renda. Mas não foi somente o consumo que se expandiu, a saúde também melhorou. No começo do século XX, a expectativa de vida no Brasil era de pouco mais de 30 anos, atualmente é de 75.

Outros dizem que o capitalismo gera exclusão social. Essa é outra falácia. O melhor mecanismo de inclusão social é um mercado de trabalho dinâmico, que gere emprego a todos. Somente o capitalismo concorrencial pode promover esse mercado. Quanto mais regulações o governo coloca ao funcionamento do mercado de trabalho, menos eficiente ele se torna.

Podemos concluir que o problema do Brasil não é excesso e sim falta de capitalismo. O Brasil na realidade nunca foi um país realmente capitalista. Temos no Brasil um espectro de capitalismo, um sistema meio público, meio privado, altamente intervencionista, governista, dirigista e patrimonialista. Um modelo econômico caracterizado por impostos elevados, corrupção desenfreada, distribuição de privilégios, burocracia infernal e profundamente hostil em relação a quem deseja empreender. Esse capitalismo de compadrio tem conseqüências nefastas. Empresas, em vez de buscarem inovação – como seria normal em um sistema realmente capitalista – , vão competir por privilégios distribuídos pelo governo. Falta ao Brasil um capitalismo verdadeiro, liberal e competitivo

Outros citam as experiências social-democratas como exemplo de sucesso. Ledo engano. A social-democracia não torna os países mais ricos. Ela simplesmente redistribui de maneira mais igualitária uma riqueza já existente. O que torna um país mais rico é o livre mercado. Países ricos são países economicamente livres. De acordo com o Índice de Liberdade Econômica (Index of Economic Freedom), criado pelo prestigioso centro de pesquisa norte-americano Heritage Foundation, o Brasil ocupa a 118ª posição, num ranking de 178 países, ordenados de acordo com o grau de liberdade econômica. Por todo mundo, vemos uma forte correlação entre liberdade econômica e qualidade de vida da população. Em países mais livres, as pessoas têm salários mais altos, direitos civis mais protegidos, meio-ambiente mais limpo e maior expectativa de vida. Em países mais livres, há menos corrupção, menos trabalho infantil e menos desemprego.

As pessoas não se dão conta de que as grandes conquistas da civilização não aconteceram em escritórios do governo. Henry Ford não revolucionou a indústria automobilística por ordem de um burocrata de Estado. O mesmo podemos dizer de Bill Gates e a indústria da informática. Empresários arriscam seus recursos, produzem riqueza e geram empregos. No entanto, no Brasil, as pessoas tendem a hostilizar os grandes empresários. Capitalistas normalmente são vistos como pessoas mesquinhas e gananciosas. No Brasil, ter lucro é quase um pecado, uma espécie de opróbrio moral, significa explorar trabalhadores e extrair mais valia.

Muitos brasileiros veem o capitalismo como um jogo de soma zero, no qual, para alguém ganhar, outro tem de perder. Dentro dessa perspectiva, empresários são ricos porque exploram trabalhadores. Isso tudo é um grande equívoco. Na realidade, no capitalismo, temos trocas voluntarias que proporcionam benefícios mútuos. Alguns podem ganhar mais, outros podem ganhar menos. Mas, no final, todos saem ganhando.

Em vez de valorizar o mercado, brasileiros esperam benesses do Estado. Porém o Estado não gera riqueza. O Estado somente extrai coercitivamente recursos da sociedade mediante impostos e gasta esses mesmos recursos, fornecendo serviços públicos para essa mesma sociedade. Como o Estado não costuma ser muito eficiente na hora de gastar esses recursos, o melhor seria se esses permanecessem na sociedade e cada indivíduo gastasse da forma que considera mais adequada. Quanto mais as pessoas clamam por serviços gratuitos, mais dinheiro o governo terá de extrair das pessoas. Portanto, o ideal é termos um Estado mínimo, que cobre menos impostos e se dedique somente às suas funções essenciais. Resta apenas a parte mais complicada: convencer os inimigos do capitalismo de que esse é o melhor caminho a ser trilhado.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O que esperar do Brasil pós-crise?

O Brasil vive uma crise econômica grave – ou melhor, gravíssima. A retração do PIB em 2015 deve ficar por volta de 2% e a maioria dos economistas acredita que em 2016 também teremos recessão. Provavelmente, só teremos crescimento a partir de 2017. A última vez que o Brasil teve dois anos seguidos de retração econômica foi na década de 1930. Será que isso é pouco? Bem, então some à estagnação econômica o problema da corrupção. O petrolão é sem dúvida o maior caso de corrupção da nossa história. O PT pode afirmar sem medo de errar que nunca antes na história desse país se roubou tanto. E para completar o quadro, temos também uma crise política, uma presidente pressionada por todos os lados que se transformou numa espécie de “rainha da Inglaterra”. Ou seja, tem uma função decorativa, mas não governa. Em meio a tantos fatos negativos, há algum motivo para estar otimista? Diferentemente da maioria dos brasileiros, creio que sim. Acredito que, como uma espécie de fênix, o Brasil vai renascer das cinzas. E acho que esse novo Brasil terá, no mínimo, uma vantagem em relação ao do passado. Esse novo Brasil será mais maduro do ponto de vista político.


Se sobreviver à crise, o PT sairá, sem dúvida, muito enfraquecido. As eleições para presidente em 2018 provavelmente serão disputadas por candidatos de dois partidos: PSDB e PMDB. O PT deve ficar de fora. Mas não é somente o PT que ficou desacreditado, é também toda a ideologia de esquerda que o partido vem pregando exaustivamente desde sua fundação, nos anos 1980.

Por que praticamente em toda América Latina – e mais especificamente no Brasil – esse sentimento anticapitalista está tão impregnado na mente das pessoas? Por que na América Latina o capitalismo é associado a tantas coisas ruins: pobreza, exploração, opressão, ganância, desigualdade e outras mais? Recentemente, até o papa Francisco entrou nessa discussão e disse que o capitalismo é uma “ditadura sutil” e que precisamos de uma “mudança de estruturas”.

Particularmente, acredito que essa aversão ao capitalismo tem relação com uma interpretação incorreta de nossa história. Explico melhor. O Brasil, pelo menos desde a Proclamação da República, foi governado por aristocracias rurais. O governo era usado para atender aos interesses de uma classe dominante e não aos interesses da nação. Esse capitalismo patrimonialista, ou capitalismo de Estado, ou como prefiram chamá-lo, existiu e existe, em certa medida, até hoje no Brasil. Porém essa promiscuidade entre o público e o privado nada tem a ver com os pressupostos do pensamento liberal clássico. Economistas liberais acreditam no capitalismo concorrencial e em um Estado mínimo que interfere na economia somente em situações bem específicas. Mas o PT conseguiu simplificar essa história toda. Por falta de conhecimento, ou simplesmente por motivos eleitoreiros, nunca procurou distinguir o capitalismo patrimonialista do concorrencial. O discurso sempre foi o mesmo. No capitalismo, existe de um lado uma classe dominante, chamada de burguesia, de capitalistas ou simplesmente de elite, e, de outro, os trabalhadores. O Brasil, desde o período colonial, foi governado pelas elites e para as elites. E essa característica inerente ao capitalismo somente vai mudar quando a classe trabalhadora chegar ao poder.

Pois bem, a classe trabalhadora chegou ao poder e essa grande transformação não aconteceu. Muito pelo contrário, os trabalhadores no poder rapidamente aprenderam a apreciar os bens de luxo produzidos pelo capitalismo, de ternos Giorgio Armani a viagens em jatinhos particulares. Petistas perceberam que o capitalismo não é tão mau assim, tudo depende da posição que o indivíduo ocupa na pirâmide da estrutura social. Os petistas aprenderam também a desviar recursos, superfaturar obras e outras coisinhas mais, que até então eram monopólio das elites. Isso me faz questionar se ainda existem comunistas autênticos no Brasil e no mundo. Nos anos 1920 e 1930, algumas pessoas acreditavam sinceramente que o socialismo era o caminho que levava ao paraíso na terra. No mundo moderno, poucas pessoas são assim tão ingênuas. Hoje, vejo muita demagogia, pessoas ávidas por usufruir dos mimos que o capitalismo pode oferecer e que utilizam essa retórica desgastada como simples meio de manipular eleitores incautos.

Diante desse quadro, a esquerda terá de reconstruir seu discurso, se quiser permanecer no jogo político. A velha pregação, nós contra eles, trabalhadores bonzinhos contra a elite gananciosa, não convence mais. Além disso, o problema da esquerda não é apenas de ordem moral e ideológica, é também uma questão de competência. O PT mostrou claramente que não tem um projeto de Brasil. Como reduzir a pobreza e as desigualdades de riqueza e renda? Através de programas assistencialistas? É somente isso que a esquerda tem a oferecer? Convenhamos, por mais que esses programas tenham melhorado a vida de algumas pessoas, tudo isso é muito pouco. Não se constrói uma grande nação simplesmente distribuindo bolsas. A esquerda terá de se reinventar e não creio que ela tenha essa capacidade.

Temos de considerar também que, apesar da crise, poderíamos estar numa situação muito pior. Quando a candidata Dilma Rousseff venceu as eleições de 2014, muitos economistas renomados acreditavam que ela iria fazer uma espécie de “aposta redobrada”. Ou seja, que ela iria insistir ainda mais na famigerada “nova matriz econômica”. Isso, felizmente não aconteceu. O instinto de sobrevivência da mulher sapiens prevaleceu e Dilma deu uma guinada radical na política econômica. Se isso não tivesse acontecido, estaríamos vivendo uma situação muito pior, difícil até de imaginar. Talvez algo próximo de e um estado de natureza Hobbesiano.

Se Dilma tivesse perdido a eleição, a situação também estaria complicada. Se o atual presidente fosse Aécio Neves, o PSDB teria de fazer o doloroso ajuste fiscal. Estaríamos numa situação muito parecida: cortes de gastos, aumento dos juros e recessão. Porém teria um agravante, o PT na oposição iria dizer: esse é o jeito deles de fazer política. Quando estávamos no poder, não havia nada disso. O nosso modelo é melhor que o deles. A crise que o PT criou e que agora está tendo de combater é uma fantástica aula de economia. O velho discurso de que “o nosso modelo” é melhor que “o modelo deles” não funciona mais.

Convém ressaltar mais um fato importante que tem passado quase que despercebido. O Ministro da Fazenda Joaquim Levy está fazendo um ajuste recessivo. Ninguém gosta de recessão, mas a população, de um modo geral, compreendeu que esse ajuste, apesar de doloroso, é necessário. E compreendeu também que esse aperto está sendo feito porque o governo petista conduziu mal a economia. Parece que os brasileiros finalmente entenderam o que significa austeridade fiscal, que o governo não pode gastar além do que arrecada e que isso não é uma questão ideológica. Responsabilidade fiscal não é coisa de direita ou de esquerda, mas sim uma questão de bom senso.

O Brasil obviamente vai sobreviver a essa crise e acredito que ela fará de nós uma nação mais madura. Brasileiros têm ainda um longo caminho de aprendizado político a percorrer. O povo deseja um Estado de Bem Estar Social generoso, que ofereça a todos serviços de educação e saúde gratuitamente. Mas esse modelo, próprio de alguns países ricos, não depende simplesmente do voluntarismo político. Ele está hoje além das nossas possibilidades. Antes de tudo, temos de fortalecer nossa economia, temos de nos tornar mais ricos. E nenhum país do mundo se desenvolveu hostilizando o mercado. O povo, lentamente, está aprendendo a lição. Segundo o economista norte-americano Thomas Sowell, quando os eleitores querem o impossível, somente políticos mentirosos podem satisfazê-los. Creio que os brasileiros estão aprendendo que o governo não pode prover tudo que a população deseja e que o controle do gasto público é fundamental. Estão aprendendo também que governos de esquerda não são necessariamente bons, que a corrupção, a mentira e a demagogia podem ter diferentes matizes ideológicas. Pode não parecer, mas tudo isso tudo já é um avanço e tanto.

domingo, 16 de agosto de 2015

Como o PT conseguiu estragar tudo?

Em 2009, a revista britânica “The Economist” publicou em sua capa uma imagem do Cristo Redentor em forma de foguete prestes a levantar voo, com o título “Brazil takes off” (“Brasil decola”, em tradução livre). Em 2013, o sentimento era outro. A mesma revista publicou uma imagem do Cristo Redentor, agora em trajetória de queda, sob o título “Has Brazil blown it?” (“O Brasil estragou tudo?”). Se em 2013 havia dúvida para tanto pessimismo, agora não há mais. O Brasil estava numa trajetória de crescimento e conseguiu realmente estragar tudo. Como se explica tamanha proeza? Particularmente, penso que foi um misto de miopia ideológica, incompetência e oportunismo eleitoreiro.


Comecemos pela questão ideológica. A esquerda não suporta a ideia de que o liberalismo possa gerar crescimento econômico. Isso é para eles uma obscenidade. Se funcionar, eles vão torcer o nariz e inventar histórias mirabolantes. Vão criar um falso programa de estímulo ao crescimento, dar um nome impactante e convencer a população – e, em alguns casos, até a si próprios – de que esse programa é que de fato está levando o país à diante. Mas o pior acontece quando o crescimento desacelera. Nesse caso, a esquerda vai sacar do seu keynesianismo mal compreendido soluções desastrosas. Ao problema ideológico, soma-se agora uma questão de incompetência.

Desde os tempos de Adam Smith (1723-1790), sabe-se que a riqueza de uma nação depende de sua capacidade de produzir mercadorias. Seria muito bom que essa riqueza dependesse da capacidade de consumo. Todos hão de concordar que é mais fácil estimular o consumo que a produção.

Em decorrência da crise de 2008, o governo adotou corretamente algumas políticas fiscais e monetárias de estímulo à economia. O resultado foi positivo. Em 2010, o crescimento foi de 7%. O problema do governo foi achar que poderia manter essas políticas por prazo indeterminado. Seria muito bom se as coisas funcionassem de forma simples assim, mas infelizmente a realidade é mais complexa.

Crescimento econômico depende essencialmente da manutenção de investimentos e de ganhos de produtividade. Em uma economia capitalista, os investimentos são realizados sobretudo pelo setor privado, que irá realizá-los somente quando sentir confiança nas políticas de manutenção da estabilidade macroeconômica. Do ponto de vista micro, o crescimento depende da produtividade, que, por sua vez, depende de uma série de fatores: qualidade das instituições, qualificação da mão-de-obra, logística, ambiente de negócios, entre outros. Resumidamente, na maior parte das vezes, para se gerar crescimento, é necessário estimular a oferta e não a demanda.

Esse foi um erro mortal do PT. O governo não atuou do lado da oferta, não efetuou esforços para aumentar produtividade e competitividade. Por outro lado, o estímulo a demanda via aumento do endividamento público e a aceleração inflacionária decorrente da redução forçada dos juros assustaram investidores. O setor privado percebeu claramente que os fundamentos macroeconômicos estavam comprometidos. Confiança é a melhor política industrial conhecida. E a falta dela é o caminho certo para a estagnação.

Por fim, a questão política-eleitoreira. Em 2003, quando Lula assumiu a presidência, muitos ficaram assustados. Quando estava na oposição, o PT era o partido do contra. Foram contra tudo que fez o Brasil avançar – desde a Constituição de 1988, até o Plano Real. Como essa esquerda radical iria se comportar no poder? Quem seria o novo Ministro da Fazenda? Havia uma grande expectativa em relação ao nome que Lula iria escolher. Isso seria o sinal de que o PT havia ou não abandonado suas teorias esquerdistas radicais.

Pois bem, entre tantos economistas heterodoxos de esquerda, Lula nomeou para o Ministério da Fazenda o médico Antonio Palocci. A escolha agradou os mercados. Palocci parecia um político moderado. O pânico foi dando lugar à confiança. O Brasil parecia ter passado por uma prova de fogo: um governo de esquerda assumiu o poder e isso não produziu nenhum trauma. Tudo indicava que a democracia havia enfim se consolidado no Brasil.

Durante o governo Lula, o país cresceu em média 4% ao ano. Esse bom desempenho teve duas razões principais: as reformas implementadas durante a gestão FHC e o aumento no preço das commodities no mercado internacional. Algumas políticas econômicas têm benefícios de longo prazo – ou seja, alguém planta e outro colhe. E, às vezes, esse que colhe é de outro partido político. Como se comportar em uma situação desse tipo? Políticos não costumam ser muito generosos na hora de reconhecer o mérito de seus adversários. Mas Lula foi ao extremo. Nunca reconheceu os benefícios que recebeu de seu antecessor. Com relação ao crescimento econômico, era tudo mérito seu, de FHC recebeu tão somente uma herança maldita. E, por fim, passou a dizer que inclusive a estabilização macroeconômica ocorreu na sua gestão.

Ingratidões à parte, tudo correu bem até a deflagração da crise econômica mundial. A partir de 2008, o PT abandonou a ortodoxia e passou a perseguir objetivos eleitoreiros de curto prazo. O importante deixou de ser os fundamentos macroeconômicos. O foco era vencer as eleições de 2010 e 2014. O estrago produzido, conserta-se depois. O resultado dessa política está aí para quem quiser ver. Ninguém está contente com a crise, mas vejamos o lado positivo: a bomba estourou nas mãos do PT e não na de seus adversários. Nada mais justo – quem comeu a carne, que roa os ossos. O populismo petista foi desmascarado, chegamos ao fim de uma era. Esse é o lado bom da história.

domingo, 9 de agosto de 2015

Gramscismo às avessas

Nesta última quinta-feira, dia 06 de agosto, eu estava em casa, quando ouvi um panelaço. Imediatamente pensei: nossa presidente deve estar fazendo um pronunciamento na TV. Liguei meu aparelho de televisão e assisti ao programa, no qual o governo tenta justificar o injustificável. A situação do Brasil é triste. Temos a presidente mais impopular da história. Mais impopular inclusive que Fernando Collor, que sofreu processo de impeachment.


O PT está liquidado, nunca mais será como antes. A proposta do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro de refundar o partido está fadada ao fracasso. Não existe capacidade moral, intelectual nem política para tanto. O PT cometeu o maior estelionato político da história do Brasil e as pessoas estão muito bravas com isso. Durante a campanha, a então candidata Dilma Rousseff disse que, caso a oposição ganhasse, haveria recessão, arrocho salarial, corte de gastos, aumento de juros, desemprego e todo um pacote de maldades, simplesmente porque essa era a maneira “deles” fazerem política. Muita gente acreditou nessa argumentação frágil, quase infantil, e votou no PT. E não é que, logo após ser reeleita, Dilma começa a por em prática tudo aquilo que ela disse que seu opositor faria. É evidente que as pessoas estão se sentindo traídas.

Para agravar ainda mais a situação, o povo brasileiro se vê também diante do maior escândalo de corrupção da história. Durante o mensalão, falava-se em milhões desviados. Subimos de categoria, agora estamos na casa dos bilhões. Se antes, alguns esquerdistas alucinados entendiam que o uso de dinheiro público para comprar parlamentares era um “mal necessário”, a única maneira possível de se fazer política, agora a situação é diferente. O dinheiro desviado da Petrobrás não foi usado somente para subornar políticos. Petistas de alto escalão usaram o dinheiro público simplesmente para engordar ainda mais suas polpudas contas bancárias. Para esse crime não há justificativa.

A esquerda, antes tão empedernida e arrogante, agora está calada. Onde estão as Marilenas Chauí que não defendem seu partido tão cheio de boas intenções? Mas se enganam aqueles que imaginam que a esquerda morreu. Os esquerdistas vão se esquecer desse episódio – assim como esqueceram (ou justificaram) as atrocidades produzidas por Stalin, Mao, Fidel e outros tantos heróis socialistas – e voltar com força ao embate político. É uma simples questão de tempo.

Historicamente, a esquerda perdeu a batalha econômica, pois foi incapaz de produzir riqueza. Perdeu também a batalha política pois se mostrou incompatível com a democracia. Mas venceu a batalha cultural. Querem um exemplo? Qualquer pessoa razoavelmente bem informada já ouviu falar de Karl Marx, Jean-Paul Sartre ou Michel Foucault. Porém muitas pessoas bem informadas nunca ouviram falar de Adam Smith, Michael Oakeshott ou Friedrich Hayek. A estratégia de Antonio Gramsci estava certa e tem funcionado de maneira eficiente: a instauração do socialismo em democracias consolidadas não pode se dar pela força. O socialismo deve ser introduzido de forma lenta e pacífica através da doutrinação ideológica subliminar.   

A esquerda dominou e domina até hoje a cena cultural do Brasil. A maioria dos grandes expoentes da cultura nacional – Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Florestan Fernandes, entre outros – eram de esquerda ou de centro-esquerda. O esquerdismo está enraizado em nossas escolas, pelo menos do ensino médio à universidade. Mesmo escolas caras onde estudam os filhos de pessoas de classe alta ensinam que o capitalismo é um sistema baseado na exploração do homem pelo homem, ou que a direita é do mal, enquanto a esquerda é do bem. Por isso tantos ricos brasileiros – no intuito de parecerem pessoas do bem, conscientes dos problemas sociais – se dizem de esquerda ou centro-esquerda.

A esquerda foi muito eficiente em convencer as pessoas de que a direita é do mal. Ser de direita significa defender os ricos e a ditadura militar, ser autoritário, fascista, sexista, homofóbico e insensível aos problemas sociais. Quem quer ser de direita dentro desse contexto? O pensamento de esquerda também está presente – embora não seja dominante – na grande mídia. Praticamente todos jornalistas brasileiros tiveram contato com ideias esquerdistas na universidade e muitos, depois de formados, continuam difundindo esse pensamento em veículos de comunicação em massa. O esquerdismo domina também a política. Atualmente, existem três grandes partidos no Brasil: um partido de esquerda (o PT), um partido de centro-esquerda (o PSDB) e um partido fisiológico (o PMDB). Não existe no Brasil um partido alinhado com o pensamento liberal.

Mudar esse quadro não é nada fácil. O primeiro passo é entender o que significa ser de direita. Esses termos – esquerda e direita – surgiram durante a Revolução Francesa. Grosso modo, os que se sentavam à direita do rei representavam os interesses do clero e da nobreza e à esquerda os representantes do povo. A partir disso, vem o conceito de que a direita quer conservar as instituições, enquanto a esquerda quer transformá-las. Parte daí também a ideia de que a direita representa os interesses das classes dominantes e a esquerda os interesses das classes dominadas.

Esses conceitos foram mudando com o passar dos tempos. Atualmente, entende-se que a direita defende a propriedade privada, a economia de mercado, a livre iniciativa e a liberdade individual. A esquerda defende a igualdade entre os indivíduos, o coletivismo e, na sua versão mais extrema, a socialização dos meios de produção. Não é preciso ser doutor em economia para perceber que todos os países desenvolvidos da atualidade chegaram a essa condição a partir de valores de direita. O máximo que a esquerda fez foi distribuir essa riqueza de maneira mais igualitária através de regimes social-democratas. Convém ressaltar, contudo, que a social-democracia não é um modelo de geração de riqueza, mas sim de redistribuição. Finalmente, chegamos ao óbvio ululante: se todas experiências socialistas fracassaram e algumas capitalistas foram muito bem sucedidas, acho que só nos resta um caminho a seguir. Porém, numa sociedade tão impregnada de esquerdismo, essa tarefa não é muito simples. Temos de usar a estratégia de Gramsci às avessas: difundir (não doutrinar) de forma lenta e gradual as ideias liberais e dessa forma realizarmos a verdadeira revolução. 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Papa Francisco e a visão medieval do capitalismo

O papa Francisco é comunista? Lamentavelmente, parece que sim. Nesta quinta-feira, dia 9 de julho, o papa esteve na Bolívia e recebeu de Evo Morales um crucifixo na forma de foice e martelo. Misturar símbolos de duas idéias tão díspares – cristianismo e comunismo – em um mesmo artefato é de um mau gosto atroz, para dizer o mínimo. O papa aparentemente não gostou do presente. Poderia ter recusado, mas não o fez. Acho que aceitar o presente não é tão grave. O pior foi sua fala, em que disse, entre outras coisas, que o capitalismo é uma “ditadura sutil” e defendeu uma “mudança de estruturas”.


Compreendo perfeitamente que o papa esteja descontente com a pobreza que assola boa parte da humanidade e com a devastação do meio ambiente. Na verdade, quem está contente com isso? Acho que qualquer pessoa sensata gostaria que o mundo fosse melhor, que não houvesse tanta miséria e tanta agressão à natureza. Mas qual o melhor caminho para chegar a essa sociedade mais próspera e consciente? Com certeza, não será através do socialismo. Tanto João Paulo II como Bento XVI estavam bem cientes disso, mas, infelizmente, não é o caso de Francisco.

O papa padece de uma enfermidade que assola o mundo inteiro, mas especialmente a América Latina, um misto de incompreensão com fantasia. Incompreensão de como funciona uma economia de mercado. E fantasia de que o socialismo possa solucionar problemas econômicos ou ambientais.

Já comentei mais de uma vez nesse espaço por que uma economia socialista, centralmente planejada, não pode ser eficiente. E, se não pode ser eficiente, não pode gerar prosperidade. Pode, no máximo, repartir pobreza.

Do ponto de vista ambiental, os comunistas também não têm muito do que se orgulhar. Nos idos dos anos 1970 ou 1980, eu me lembro de uma reportagem de TV sobre a cidade mais poluída do mundo, que, por acaso, ficava na Romênia. A União Soviética também nunca foi um exemplo de preservação ambiental. Há um vídeo bem interessante no YouTube, chamado “Let’s do it Estônia”, que mostra bem como os soviéticos tratavam o meio-ambiente.



Historicamente, a Igreja católica sempre foi resistente ao capitalismo. Clérigos católicos, desde o final da Idade Média, tinham uma postura claramente anticapitalista; criticavam a busca pelo lucro, a ambição e o desejo de acumular riqueza – ou seja, todos os motivos interesseiros que azeitam a máquina capitalista de produção. Coube aos protestantes libertar a classe capitalista do opróbrio moral imposto pelos católicos. A ética protestante foi peça fundamental na expansão capitalista.

Mas tudo isso é passado. Católicos e protestantes compartilham, no mundo de hoje, uma visão de mundo muito parecida. Ou, pelo menos compartilhavam, até agora. Não menosprezem a fala do papa e sua capacidade de influenciar pessoas. Com certeza, muita gente vai pensar: até o papa é contra o capitalismo, então esse sistema é realmente ruim. Muitos também vão se esquecer de que o marxismo é uma ideologia fundamentada no ateísmo e numa visão materialista do mundo. Se até o papa defende o socialismo, então o caminho é mesmo por aí. Infelizmente, o papa pode estar muito bem intencionado, mas está retroagindo à Idade Média com seu discurso e prestando um grande desserviço à humanidade.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Diga não à doutrinação ideológica

O socialismo é uma utopia muito interessante em termos teóricos, mas terrível na prática. Essa ideologia ceifou milhões de vidas em várias partes do mundo e somente foi capaz de produzir pobreza e opressão. Acho que não há nenhuma novidade nisso. O que realmente me impressiona é o fato de, apesar de tantos dados negativos, muitas pessoas ainda acreditarem que o socialismo possa, de alguma maneira, melhorar as condições de vida de uma nação.



Entre os que defendem o socialismo, há pelo menos três grandes grupos. Primeiramente, os oportunistas: pessoas que não se importam se uma economia estatizada é eficiente ou não. Os oportunistas não estão interessados nesse aspecto, para eles isso é irrelevante. O ideal socialista ainda é capaz de mover multidões, é um meio de se chegar ao poder e é isso que importa.

Um segundo grupo é o dos manipulados. São, de um modo geral, pessoas de pouca instrução e baixa capacidade cognitiva. Esse é provavelmente o grupo mais numeroso. São pessoas que não entendem nada de economia ou política, mas estão plenamente convencidas de que o capitalismo é opressivo e que o socialismo é a redenção.

O terceiro grupo é o que eu considero mais complexo e interessante. São pessoas inteligentes, bem informadas, algumas inclusive com alto grau de instrução, e que, mesmo assim, defendem os ideais socialistas. Como entender esse grupo? Essas pessoas são anticapitalistas. Isso, até certo ponto, é compreensível. O capitalismo não é necessariamente bom. Ele pode ser bom, mas isso depende de uma série de condicionantes. A economia brasileira sempre, desde o período colonial, teve alguns elementos capitalistas: comércio, propriedade privada, obtenção de lucro, acumulação de capital etc. Com o passar do tempo, o escravismo, o monopólio comercial e outros resquícios pré-capitalistas foram superados. Todavia, o Brasil sempre foi e continua sendo uma sociedade profundamente desigual e com imensos bolsões de pobreza. Por que o capitalismo no Brasil não foi capaz de gerar riqueza para todos? Essa é a grande questão.

O principal fator de mobilidade social e geração de riqueza em uma sociedade é a educação. Para que uma sociedade seja justa, o governo tem de assegurar que todas as crianças e adolescentes tenham acesso à educação básica de qualidade. Isso não significa que o governo deve necessariamente manter escolas públicas. As escolas podem ser privadas, mas, se os pais não tiverem recursos suficientes para pagar o estudo dos filhos, o governo deve prover esse benefício.

Em vez de escolas privadas e uma assistência apenas para as famílias muito pobres, o Brasil optou por uma solução muito mais onerosa: o ensino público e gratuito, ofertado a todos indistintamente. O grande problema é que esse ensino público e gratuito tem um baixíssimo nível de qualidade. Hoje, no Brasil, é comum um jovem terminar o ensino médio semialfabetizado, capaz de ler um texto, mas sem entender o que leu. Esse mesmo jovem, muitas vezes, é incapaz de realizar operações aritméticas básicas. Logicamente, uma pessoa com tal nível de formação não vai disputar os melhores empregos no mercado de trabalho. Esse jovem não será médico, engenheiro ou advogado. Para ele estão destinadas as funções de segunda ou terceira categoria. Em outras palavras, a educação no Brasil, em vez de funcionar como um fator de mobilidade social, funciona como um cimento que solidifica ainda mais o circulo vicioso da pobreza.

Esse modelo de educação disfuncional que vigora no Brasil é um terreno fértil para a difusão de ideias socialistas e marxistas. Quando os professores ensinam aos alunos que a sociedade está dividida em classes sociais, que existe uma classe dominante e uma classe dominada, os alunos tendem a aceitar essa ideia, porque ela parece condizente com a realidade em que eles estão inseridos. Um estudante pobre, que mora em uma região carente, filho de pais pouco escolarizados é uma presa fácil de ideias esquerdistas.

Além disso, alguns professores entendem que a decadência do ensino – escolas mal conservadas, falta de equipamentos, salários baixos, etc. – é um subproduto do capitalismo. Somente em uma economia socialista, estudantes pobres poderão ter acesso à educação de boa qualidade. Professores difundem esse pensamento em escolas públicas, que se transformam em verdadeiros centros de ódio ao capitalismo. Alguns desses jovens carentes chegam a universidade, onde, muitas vezes, a pregação ideológica e anticapitalista continua.

Como mudar tudo isso? Particularmente, acredito que esse quadro somente pode ser mudado a partir do momento que a educação passar a ser levada realmente a sério no Brasil. Façamos uma comparação. A Coreia do Sul, no começo da década de 1960, era um país paupérrimo, sem indústrias, sem riquezas naturais, com uma população iletrada e assolado por uma guerra sangrenta. Em aproximadamente 40 anos, esse país asiático deixou para trás um quadro de miséria e se transformou em uma nação desenvolvida. Como explicar tanto sucesso em tão pouco tempo? A Coreia fez há mais de 50 anos o que o Brasil não fez até hoje: levou a educação a sério. De acordo com o PISA (Programme for International Student Assessment ), a Coreia do Sul é um dos países mais bem ranqueados no mundo, em termos de educação básica.

Resumindo, educação é a alavanca da mobilidade social, ela pode reduzir desigualdade e pobreza. Ela é também um elemento fundamental no desenvolvimento econômico. Nenhum país do mundo se desenvolveu sem investir em capital humano. Por outro lado, escolas sucateadas, ensino de má qualidade e professores desvalorizados abrem espaço para a difusão de ideias socialistas. Já passou da hora do Brasil levar educação a sério.

domingo, 21 de junho de 2015

Liberdade econômica e desenvolvimento

Ao assistir a um vídeo com vários discursos proferidos durante o 5º Congresso Nacional do PT, senti um profundo desapontamento. Entre outros tantos absurdos, muitos palestrantes se manifestaram abertamente contra o capitalismo e a favor do socialismo. Isso demonstra o atraso do embate entre direita e esquerda no Brasil. A discussão sobre o melhor modelo econômico, socialismo ou capitalismo, está superada pelo menos desde a queda do Muro de Berlim. Nos países mais avançados, o debate é entre liberais e social-democratas, ambos a favor do capitalismo.


Cingapura: riqueza e liberdade econômica

O próprio Thomas Piketty, a grande estrela da esquerda na atualidade, já disse várias vezes ser a favor do capitalismo. Em seu livro “O capital no século XXI”, ele cita um exemplo bem interessante. Na França, na década de 1880, uma bicicleta custava o equivalente a seis meses de trabalho e era de péssima qualidade. Na mesma França, quase 100 anos depois, na década de 1960, uma bicicleta custava menos de uma semana de trabalho e a qualidade era muito superior. Qual sistema econômico proporcionou essa tremenda queda de preço?

Socialistas acreditam ainda que o liberalismo é uma simples invenção das elites para manter seu status quo. Esse é outro equívoco. Uma economia de mercado pode beneficiar a todos, ricos e pobres, capitalistas e trabalhadores.  Para Simon Kuznets (1901-1985), “o crescimento é como a maré alta: levanta todos os barcos”. Ou seja, levanta tanto um transatlântico, como uma jangada.

Muito bem. Mas se o capitalismo liberal é tão bom assim, por que existe tanta pobreza e desigualdade nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil? A resposta é relativamente simples. Falta ao Brasil justamente aquilo que os socialistas mais criticam: liberdade econômica. De acordo com o Índice de Liberdade Econômica (Index of Economic Freedom), criado pelo prestigioso centro de pesquisa norte-americano Heritage Foundation, o Brasil ocupa a 118ª posição, num ranking de 178 países, ordenados de acordo com o grau de liberdade econômica. O Brasil está atrás de países como Honduras, Gâmbia, Tanzânia, Nicarágua, Senegal, Costa do Marfim, Zâmbia, Bósnia e Hezergovina, Namíbia, Uganda, Suazilândia, Albânia, El Salvador, Cabo Verde e Guatemala. Ou seja, estamos muito mal na foto. É bom ressaltar também que, nas três últimas posições, estão: Venezuela (176), Cuba (177) e Coreia do Norte (178).

Mas o que significa liberdade econômica e como esse índice é calculado? Basicamente, ter liberdade econômica significa: proteção à propriedade privada, livre-comércio, estabilidade monetária e um Estado pequeno em relação ao tamanho da economia.

Por todo mundo, vemos uma forte correlação entre liberdade econômica e qualidade de vida da população. Em países mais livres, as pessoas têm salários mais altos, direitos civis mais protegidos, meio-ambiente mais limpo e maior expectativa de vida. Em países mais livres, há menos corrupção, menos trabalho infantil e menos desemprego.

Dentro desse contexto, um caso que chama bastante a atenção é Cingapura. Esse pequeno país asiático, ex-colônia britânica, independente apenas desde 1959 e muito pobre em seu passado recente, está hoje entre os países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Coincidentemente, no ranking dos países mais livres, Cingapura está em segundo lugar, atrás apenas de Hong Kong.

Finalizando, deixo aqui uma questão. Em qual modelo econômico o Brasil deveria se basear para melhorar o padrão de vida de todos, mas sobretudo dos mais pobres? No modelo capitalista-liberal de Cingapura ou no modelo socialista-centralizador de Cuba? A resposta é óbvia demais? Pois eu acho que essa pergunta deveria ser enviada aos dirigentes do PT. Talvez essa minha análise (e outras que tenho feito) seja muito superficial – petistas já me disseram isso mais de uma vez. É possível que os intelectuais petistas consigam analisar esses fatos com mais profundidade e perceber aquilo que eu não consigo enxergar: ou seja, que o modelo socialista-centralizador cubano é o melhor.



segunda-feira, 15 de junho de 2015

Imperialismo capitalista: mito e realidade

É muito recorrente entre os teóricos socialistas a crença na ideia de que a riqueza dos países capitalistas desenvolvidos provém da exploração de nações pobres. Isso logicamente não é verdade. Mas pior que uma mentira é uma meia mentira. Portanto, convém entender o que é mito e o que é realidade nessa história toda.

O capitalismo, desde os seus primórdios, no século XVI, – período conhecido também como mercantilismo – sempre operou em escala global: conquista da América, entrada de metais preciosos na Europa etc. No final do século XVIII e início do século XIX, com a Revolução Industrial, esse ímpeto expansionista se abrandou. Porém, no final do século XIX, há um novo período de expansão colonial. O que explica essa mudança?

A Revolução Industrial proporcionou uma grande concentração de riqueza nas potências econômicas da época. Por vezes, as poucas alternativas de investimento dentro do próprio país levavam os capitalistas a buscarem investimento mais lucrativo em outras nações.

Aqui mesmo no Brasil, temos um caso que elucida bem essa questão. Nesse período, o Brasil sofria um dilema. O café era uma atividade econômica altamente rentável. Porém, apesar da grande disponibilidade de terras férteis para plantio, não havia como aumentar a produção devido à ausência de uma infra-estrutura de transportes. Solução: o Brasil fez acordos com capitalistas ingleses para a construção de ferrovias no estado de São Paulo. O transporte sobre trilhos deu grande impulso à economia cafeeira e, posteriormente, contribuiu para a industrialização do país.

Lenin: teórico do imperialismo e líder revolucionário

Temos nesse exemplo uma situação clara de trocas voluntárias e ganhos mútuos. Mas nem sempre as coisas funcionavam assim. Por vezes, as potências econômicas subjugavam pela força diferentes partes do mundo em busca de lucro. Os teóricos do imperialismo, sobretudo o líder bolchevique Vladimir Ilitch Lenin (1870-1924), acreditavam que essa era uma característica inerente ao capitalismo que não tinha como ser sanada e que a única solução seria uma revolução comunista. Lenin estudou esse assunto profundamente, mas cometeu alguns erros toscos que os próprios marxistas posteriormente vieram a admitir. Num momento em que o capitalismo estava se fortalecendo, Lenin disse que o imperialismo representava o último estágio do capitalismo. Acreditava que o fim do capitalismo estava muito próximo. Chegou inclusive a usar a expressão “capitalismo moribundo”.

Como podemos ver, o capitalismo continua bem vivo até hoje. Essa tese de Lenin, portanto, estava errada. Mas o que dizer dessa ânsia capitalista de dominar as nações mais pobres? No meu entendimento, esse neocolonialismo foi um processo complexo que não tem como ser compreendido meramente pela ótica econômica. Ele tem a ver com a política, com o nacionalismo, com o fervor religioso (levar o cristianismo a “povos selvagens”), com uma percepção errada de como a economia funciona e até mesmo com a loucura cega de alguns indivíduos. É bastante possível que o imperialismo não tenha favorecido as potências econômicas da época, pois manter nações inteiras sob o jugo militar envolvia elevadíssimos custos financeiros. As nações colonizadas podem ter sido exploradas, mas também foram favorecidas em alguns aspectos. As potências imperialistas construíram hospitais, escolas, ferrovias entre outras coisas. Povos colonizados tiveram acesso a vacinas, antibióticos e outros tratamentos médicos.  E, definitivamente, o imperialismo não explica por que existem nações ricas e pobres. Muitos países desenvolvidos da atualidade nunca foram imperialistas. Alguns exemplos: Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e Noruega. Outros países desenvolvidos são ex-colônias de países imperialistas, tais como: Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura.

Submeter coercivamente nações estrangeiras é algo moralmente errado. O imperialismo assemelha-se ao escravismo, é uma mancha no passado da humanidade, porém não é fruto do capitalismo, conforme argumentava Lenin. E, finalmente, o imperialismo não tem absolutamente nenhuma relação com os fundamentos da doutrina liberal.

domingo, 7 de junho de 2015

Olavo de Carvalho?

No meu último artigo, fiz algumas referências não muito lisonjeiras ao filósofo Olavo de Carvalho e muita gente não gostou. Me chamaram até de esquerdista por conta disso. Será que alguém deve ser taxado de esquerdista por discordar do pensamento de seja lá quem for? Penso que não. Geralmente, o pessoal da esquerda é que acredita em profetas iluminados. A turma de direita costuma ser mais racional.


Vou fazer um breve relato sobre o que penso desse senhor. Muito bem, conheci Olavo de Carvalho navegando na internet. Comecei então a assistir aos seus vídeos. A princípio, fui gostando. Um cara muito inteligente, culto, que se comunica muito bem e tudo isso que vocês já sabem. Porém, sempre havia alguma coisa aqui, outra ali que me desagradavam. Por fim, fui desgostando a ponto de adquirir verdadeira ojeriza.

Vamos lá, quais são as críticas que eu faço a Olavo:

  • Ele usa xingamentos e palavrões. Tudo bem, é o estilo dele. Mas é algo que me desagrada. E acho que é uma atitude que não combina muito bem com uma pessoa que fala de moral, comportamento, religião, fé etc. É contraditório e soa algo falso, pelo menos para mim. Se você tiver um filho jovem ou adolescente, você recomendaria a ele assistir aos vídeos de Olavo? Será que ele é um bom exemplo para a juventude?

  • Ele acredita em teorias conspiratórias. Vou citar uma apenas. O presidente Obama não nasceu nos Estados Unidos. Vamos analisar com calma. Obama é filho de uma norte-americana e um queniano. Não faz diferença onde ele nasceu. Se a mãe dele é norte-americana, ele tem direito à cidadania norte-americana e ponto final. Por que Obama iria mentir sobre isso e forjar uma certidão de nascimento falsa? Isso não tem lógica para mim.

  • Às vezes, ele fala algumas coisas absurdas. Por exemplo, fumar não faz mal a saúde. Bem, se ele estiver certo, milhões de médicos e cientistas no mundo inteiro estão errados.

  • Ele é contra o feminismo e defende a família patriarcal. O que será que ele chama de família patriarcal? Isso me faz lembrar minha infância, uma época de maridos autoritários e mulheres submissas e oprimidas. Será que é esse mundo que ele quer de volta? Fico particularmente surpreso quando vejo mulheres elogiando Olavo sem objeções.

  • Por fim, não gosto da forma como ele discute a questão da homossexualidade. Por acaso, esse é um problema que envolve pessoas da minha família de quem eu gosto muito. É um problema complexo e que tem de ser tratado de forma respeitosa e delicada. Não gosto do tom de zombaria e deboche que ele usa ao tratar desse tema. Ele diz ser contra direitos gays. Não concordo. Nós ainda temos de avançar nessa questão. E entendo também que ele dissemina uma doutrina de ódio com suas teses, o que é o pior de tudo.

Bem, resumidamente, isso é o que eu penso sobre Olavo de Carvalho.

O Rodrigo Constantino e ele fizeram as pazes? Que bom, eu nem sabia. A paz é sempre melhor que a guerra.

Já que toquei no assunto, vou falar o que penso do Constantino. Descobri através de um amigo. Primeiro, vi seus vídeos. Depois, comecei a acompanhar seu blog. Concordo com quase 100% do que ele diz. Mas 100% acho que eu não concordo nem comigo mesmo. Não gosto muito quando ele fala mal do Rio de Janeiro, pois eu, assim como a maioria dos paulistas, adoro o Rio.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Liberalismo e homofobia

Penso que homofobia é muitas vezes um problema de falta de informação. O leitor conhece o caso David Reimer? Rapidamente: David Reimer nasceu no Canadá em 1965. Aos oito meses, Reimer teve seu pênis destruído após um acidente, durante uma cirurgia de fimose. Sem saber o que fazer, os pais do garoto procuraram orientação de um renomado psicólogo que defendia a tese de que a identidade de gênero é algo aprendido socialmente. O psicólogo sugeriu que o pênis destruído fosse removido juntamente com os testículos e que uma vagina fosse construída no local. David passou a se chamar Brenda e a ser criado como menina.

Neonazistas: a intolerância persiste

O resultado dessa experiência maluca não poderia ter sido pior. David nunca se sentiu como menina. Aos 14 anos, o adolescente entrou em depressão profunda. Os pais resolveram então contar-lhe toda a verdade sobre a sua mudança de sexo. Depois disso, David fez todo o caminho de volta. Passou a usar seu nome original e a vestir-se como um garoto. Posteriormente removeu as mamas – decorrente do uso de hormônios femininos – e passou a tomar hormônios masculinos. Ele chegou a casar-se e tornou-se padrasto dos três filhos de sua esposa. Mas nada deu certo. Ele voltou a entrar em depressão e suicidou-se aos 38 anos.

Esse caso deixa claro que a tese do tal renomado psicólogo estava completamente errada. Identidade de gênero não é algo socialmente aprendido e sim inato. Todos nós nascemos com uma identidade sexual. Ou em outras palavras, todos nós já nascemos hétero ou homossexuais. E não existe nenhum tratamento que possa reverter essa situação. Ou seja, não existe cura gay.

É verdade que alguns neurocientistas costumam dizer que a identidade de gênero depende de fatores orgânicos e sociais. Isso acontece porque cientistas de um modo geral costumam ser muito comedidos ao divulgar os resultados de suas pesquisas. Eu, particularmente, estou convencido de que a identidade de gênero decorre totalmente de fatores congênitos. Várias pesquisas científicas apontam nessa direção. Vou comentar apenas uma delas. Cientistas da Universidade Karolinska, na Suécia, realizaram exames de ressonância magnética e concluíram que os cérebros de homens homossexuais têm várias semelhanças físicas ao de mulheres heterossexuais. Por outro lado, os cérebros de mulheres homossexuais têm semelhanças aos de homens heterossexuais.

Tanto o caso David Reimer como a experiência dos cientistas suecos apontam na mesma direção: a identidade de gênero é uma característica congênita. Agora, sejamos razoáveis, discriminar (ou odiar) pessoas por um aspecto biológico não é algo muito inteligente. Algumas pessoas homofóbicas são desinformadas, acham simplesmente que homossexualidade é safadeza, pouca vergonha. Há ainda um outro grupo: os neonazistas, que querem promover uma limpeza na sociedade eliminando tudo que está corrompido, estragado ou deformado.

Para os liberais, por sua vez, esses dois casos (Reimer e Karolinska) não acrescentam nada, ou quase nada, em relação a como os gays e lésbicas devem ser tratados. Se a homossexualidade não fosse uma característica biológica e sim uma escolha pessoal, não mudaria nada. As pessoas verdadeiramente liberais entendem que todos os indivíduos são livres para buscar a felicidade. Todo indivíduo é livre para fazer o que bem entender da sua própria vida, desde que não prejudique ninguém com suas atitudes. É assim que as pessoas realmente liberais pensam.

Temos aqui uma clara divisão dentro do espectro ideológico direitista. De um lado, está a direita liberal que defende o liberalismo econômico e as liberdades individuais. De outro, a direita conservadora que também defende o liberalismo econômico, mas é restrita em relação às liberdades individuais.

Essa direita conservadora dificilmente é moderada. Ela é, quase sempre, retrógrada, teocrática e fascista. Seus líderes dizem que não são homofóbicos, mas difundem uma doutrina de preconceito e ódio entre seus seguidores. Um dos principais representantes dessa direita fascista, um filósofo muito popular no YouTube, usa a estranha expressão “gayzismo” para se referir aos grupos de ativismo LGBT. Esse filósofo não tem nenhuma simpatia por esses grupos e logicamente faz isso para associar esse movimento a outros nada veneráveis, como: fascismo, nazismo, comunismo etc.

Segundo esse senhor, o gayzismo politicamente organizado começou em Roma, no século I. Durante trezentos anos, a elite gayzista romana perseguiu, torturou e matou centenas de milhares de cristãos. Esse ódio anticristão, responsável pela morte de milhões de pessoas, persiste até hoje. E o principal representante desse movimento hoje, no Brasil, é, acreditem ou não, o deputado federal pelo PSOL e ex-BBB, Jean Wyllys.

Segundo o tal filósofo direitista, Jean Wyllys (e os gayzistas em geral) é movido pelo mesmo ódio que movia a elite romana. Ele é impulsionado por um desejo psicótico de remodelar o mundo à luz do seu desejo sexual. E o que Jean Wyllys deseja de fato é implantar uma ditadura gayzista no Brasil que vai terminar inexoravelmente numa perseguição de cristãos.

É evidente que tudo isso é uma bobagem que nem merece ser discutida. Porém muitas pessoas levam essas ideias a sério. Isso é preocupante. Ou melhor, muito preocupante. Na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930, um homenzinho desprezível também difundia sentimentos de preconceito e ódio fundamentados em teorias fantasiosas sobre determinados grupos da sociedade. Muitos acharam que aquele homem era demasiadamente ridículo e não o levaram a sério. O homenzinho desprezível foi em frente com seu projeto de purificar a sociedade de todo o mal. O final dessa história, todos nós conhecemos bem. 

domingo, 31 de maio de 2015

Falácias marxistas: a teoria da mais valia e a exploração da classe trabalhadora


Em todos modos de produção que existiram – exceto no comunismo primitivo –, as sociedades sempre se dividiram em duas classes: os dominantes e os dominados. Com a divisão de classes, surge a exploração do homem pelo homem. Isso é muito fácil de perceber nos modos de produção mais antigos como o escravismo e o feudalismo. Mas, e no capitalismo? Existe exploração? Um trabalhador recebe salário, é pago pelo seu trabalho, então ele não é explorado, correto? Não, no capitalismo também existe exploração, só que essa é disfarçada. Todavia, Marx mostrou, através da teoria da mais valia, como ocorre a exploração no modo capitalista de produção.


Karl Marx: teorias equivocadas

Talvez o leitor não acredite nessa balela toda de divisão de classes, de explorados e exploradores e tudo mais. Porém, os adeptos do socialismo acreditam. Então acho que vale a pena gastar um pouco do nosso tempo para entender melhor essa teoria e onde estão seus equívocos. Se você tiver algum amigo socialista (eu tenho alguns), esse artigo vai lhe proporcionar alguns argumentos interessantes.

Muito bem, antes de tudo, convém ressaltar que a teoria da mais valia está baseada na teoria do valor trabalho. Entender como se determina o valor de uma mercadoria não é algo trivial. A teoria do valor trabalho é considerada ultrapassada pelos economistas modernos. Na realidade, na metade do século XIX, quando Marx desenvolveu a teoria da mais valia, muitos economistas já tinham percebido que não é a quantidade de trabalho embutida em um bem que determina o seu valor. Portanto, a teoria de Marx parte de uma premissa que hoje praticamente todos os economistas – exceto os marxistas, logicamente – consideram equivocada.

A forma mais fácil de entender a teoria da mais valia é através de um exemplo. Suponhamos que um operário trabalhe dez horas em uma empresa. Ele recebe um salário proporcional a essas dez horas. Porém esse salário estaria sempre no nível de subsistência – Marx e a maioria dos economistas de sua época supunham que os salários sempre se mantinham nesse nível. Mas digamos que o tempo de trabalho necessário para que operário produza o valor correspondente ao custo de sua subsistência seja de seis horas. O que acontece com as quatro horas excedentes? O valor gerado nesse período fica para o capitalista. A mais valia é, portanto, a materialização do trabalho excedente. A exploração no capitalismo ocorre mediante extração de mais valia.

Onde estão os erros dessa teoria? Marx considera que somente o trabalho humano gera valor. Capital (máquinas, equipamentos, instalações etc.) não produz valor. Para que não houvesse exploração, todo valor gerado na produção de mercadorias deveria pertencer à classe trabalhadora. O capitalista é um simples parasita que extrai mais valia dos trabalhadores.

Será que isso está correto? Vejamos. O capitalista em algum momento de sua vida – ou de alguém que legou a ele os meios de produção – teve de se esforçar, poupar recursos, para chegar a essa situação. Todo objeto da riqueza é fruto do sacrifício humano. O sacrifício dos operários é obvio. Porém a posse de meios de produção exige sacrifícios semelhantes dos capitalistas. Logo, trabalhadores e capitalistas têm justificativas morais semelhantes para auferir renda.

Vejamos outro ponto que Marx não analisou. Quem gera inovação tecnológica? Os capitalistas ou os trabalhadores? É evidente que são os capitalistas. O que acontece com uma economia sem capitalistas? Entra em estagnação. Foi justamente isso que levou ao fim do comunismo na União Soviética, na China e em quase todo o mundo.

A capacidade de inovação e produção de riquezas do capitalismo é algo simplesmente extraordinário. Eu não estou me referindo apenas à produção de carros chiques e sofisticados, computadores, celulares, internet e coisas do gênero. Estou me referindo também à saúde e à produção de alimentos.

No Brasil, no início do século XX, a expectativa de vida era pouco superior a 30 anos. Atualmente, está acima de 70. Isso aconteceu porque mais pessoas têm acesso a saneamento e a água potável. Também porque empresas capitalistas inovadoras desenvolveram vacinas e antibióticos que permitiram tratar de doenças que dizimavam milhões de indivíduos. A inovação capitalista está presente também na agricultura. Há algumas décadas, seria impossível produzir alimentos suficientes para alimentar a atual população do planeta.

E os socialistas? Deixaram alguma inovação relevante? Que eu me recorde, o único produto soviético que é comercializado até hoje em larga escala é o fuzil AK-47. Essa arma rústica e de fácil manuseio, desenvolvida em 1947 pelo engenheiro e militar russo Mikhail Kalashnikov, é até hoje largamente comercializada. É provavelmente a arma de fogo mais comercializada no mundo e também a favorita de terroristas e traficantes de drogas. Ao ver o destino que sua invenção tomou, Kalashnikov disse certa vez que preferiria ter inventado um cortador de grama.

Entre as inovações capitalistas e socialistas, eu já fiz a minha escolha. Mais complicado é convencer socialistas aonde a teoria da mais valia, quando levada às suas últimas conseqüências, pode chegar.

sábado, 23 de maio de 2015

A Suécia é um modelo para o Brasil?

Quando nós, brasileiros, lemos ou ouvimos falar alguma coisa sobre o Estado de Bem Estar Social escandinavo, e principalmente sobre o modelo sueco, costumamos ficar com uma certa inveja. Imagine viver em um país onde a educação, da pré-escola à pós-graduação, é totalmente gratuita e de altíssima qualidade. Imagine um país em que você não tem de pagar um plano de saúde particular para ter acesso a um serviço médico decente. O governo provê a população de bons hospitais e tratamentos médicos gratuitamente.

Suécia: um modelo para o mundo?

O que acontece na Suécia é tão diferente da nossa realidade que muitas vezes nos deixa perplexos. De acordo com o PISA (em inglês, Programme for International Student Assessment), que avalia o nível da educação básica em diferentes países, a Suécia possui escolas públicas e gratuitas de altíssima qualidade. Mas, se mesmo assim, algum cidadão não concorda com o método de ensino das escolas públicas, essa pessoa tem a opção de matricular seu filho em uma escola privada, que utiliza métodos alternativos. O detalhe é que as escolas particulares são subsidiadas pelo governo e também são totalmente gratuitas.

A notícia mais chocante que eu li sobre a Suécia foi que homens de meia idade (assim como eu) estavam reivindicando do governo serviços sexuais gratuitos. Todos sabemos que, depois de uma certa idade, fazer sexo extra-conjugal gratuitamente vai ficando cada vez mais difícil, principalmente para os mais exigentes. Por conta disso, os cinqüentões suecos acharam que o Estado deveria pagar pelos serviços oferecidos por prostitutas. E esse serviço é ofertado normalmente por mulheres estrangeiras, oriundas principalmente dos países mais pobres da Europa. Mulheres suecas raramente se dedicam a essa profissão.

Muito bem, antes de concluirmos que a Suécia é uma espécie de paraíso perdido, convém analisarmos alguns fatos. Todos nós sabemos que em economia “não existe almoço grátis”. Essa vasta rede de assistência social custa caro. Ou melhor, custa muito caro. E os recursos para financiá-la têm de vir de algum lugar. Para financiar esse modelo de bem estar, a Suécia tem de cobrar impostos altos. Esse país escandinavo tem uma carga tributária de quase 50% do PIB, uma das maiores do mundo. Superior inclusive que a do Brasil que gira em torno de 34%. A conclusão é muito simples. Se a Suécia cobrasse menos impostos, a população teria mais dinheiro para gastar e poderia custear por conta própria serviços de educação e saúde, entre outros.

Temos de lembrar também do seguinte: o setor público normalmente é menos eficiente que o setor privado. Essa afirmativa é verdadeira para qualquer país do mundo, inclusive para a Suécia. Deixar que o setor público administre 50% do PIB é confiar demasiadamente no Estado. Concordam comigo? Devemos refletir também se precisamos de um Estado que cuide de nós como se fôssemos criancinhas que não sabem tomar decisões. Essa ideia de Estado babá também não me agrada muito.

Outro aspecto que tem de ser considerado é que o governo sueco somente consegue prover a população de serviços de tão alta qualidade porque a Suécia é um país rico. E como a Suécia se tornou um país tão rico? Percorrendo o mesmo caminho que todos os outros países ricos percorreram: trabalho, livre-mercado e inovação. A social-democracia e o Estado de Bem Estar Social não deixaram a Suécia mais rica.

Finalmente, a questão mais importante: o modelo sueco pode ser replicado em outras nações, como no Brasil, por exemplo? Eu creio que não. Para se criar um forte Estado de assistência social, é necessário que as pessoas confiem muito umas nas outras. Isso é possível em um país com 9,4 milhões de pessoas, que falam a mesma língua, praticam a mesma religião e são fisicamente e culturalmente muito parecidas. Ou seja, o modelo sueco funciona em um país pequeno e homogêneo. Acho improvável que esse modelo funcione em um país com características tão diferentes como o nosso. Brasileiros tendem a esperar muito do Estado, por isso o modelo sueco de bem estar nos parece tão sedutor. Penso que está na hora de virar esse jogo. O melhor modelo para o Brasil, no meu entender, é o de um Estado menor, menos oneroso e de cidadãos que saibam gerir com responsabilidade e autonomia seus recursos.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O alto preço da incompetência

A década de 1950 foi um período particularmente interessante da história brasileira, que até hoje costuma ser lembrado com uma certa nostalgia, como uma espécie de “era de ouro” tropical. Além da figura simpática e carismática do presidente Juscelino Kubitschek, havia também uma certa percepção social de que o Brasil vivenciava um ciclo da mudanças. Aquele Brasil agrário, dos coronéis que mandavam e do povo simples que humildemente obedecia, estava ficando para trás. O Brasil, aos poucos, estava se transformando em um país moderno. A efervescência nos campos cultural, artístico e esportivo contribuía para consolidar esse sentimento coletivo de começo de uma nova era. No campo artístico-cultural, podemos citar a arquitetura modernista brasileira, a Bossa Nova e o Cinema Novo. No campo esportivo, o Brasil venceu, na Suécia, a sua primeira Copa do Mundo. E para coroar tudo isso, na década seguinte, mais precisamente em 21 de abril de 1960, inauguramos a nova capital federal.


Dilma: incompetência econômica

Porém pouco se comenta a herança que JK legou ao seu sucessor: inflação, queda no crescimento, aumento da dívida externa, queda nas exportações e desequilíbrio nas contas públicas. Com o passar do tempo, a crise econômica transformou-se em crise econômica e política. O desfecho final foi o golpe de 1964 e o início do período militar.

Com essa experiência, poderíamos ter aprendido a singela lição de que o crescimento tem de estar alicerçado em fundamentos macroeconômicos sólidos. Na realidade, hoje sabemos que a função essencial do governo é justamente garantir esses fundamentos. O governo deve criar um ambiente de confiança entre os agentes econômicos privados, que irão investir e gerar o tão desejado crescimento sustentável.

Passados alguns anos, mais precisamente em 1974, um ano após o primeiro choque do petróleo, o Brasil se vê diante de um ambiente externo de grandes incertezas. O que fazer? Os economistas ortodoxos, liderados por Mário Henrique Simonsen, advogavam que o país deveria aceitar as restrições externas e promover um ajuste interno de controle da demanda. Por outro lado, economistas heterodoxos, liderados por João Paulo dos Reis Velloso, defendiam o crescimento a qualquer custo. O Brasil deveria, mesmo nesse ambiente claramente adverso, aprofundar o processo de substituição de importações e manter o crescimento econômico.

O Presidente Ernesto Geisel acabou por escolher a solução heterodoxa. Em 1975, começou a ser colocado em prática o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), o maior programa de intervenção estatal de toda a história do Brasil. A partir de 1983, o Brasil passou a colher os frutos positivos do plano: redução das importações de bens de capital, redução da dependência externa por petróleo, diversificação da pauta de exportações em favor de manufaturados etc. Todavia, o preço a ser pago foi muito alto, sobretudo em relação ao endividamento externo. Em 1967, nossa dívida externa era de 3,4 bilhões de dólares. Em 1985, chegou a 95,8 bilhões. Em 1987, o Brasil decretou a moratória dos juros externos. A propósito, a combinação de estagnação econômica, inflação alta e endividamento externo fez com que os anos 1980 recebessem a triste alcunha de “década perdida”.

Tivemos, portanto, uma segunda oportunidade de aprender uma antiga lição. O crescimento a qualquer custo cobra um preço muito alto. Melhor evitá-lo.

Em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República e optou por uma gestão ortodoxa da política econômica. Tudo correu muito bem até 2008, quando eclodiu a crise das hipotecas nos Estados Unidos. A equipe econômica respondeu à crise com incentivos ficais e redução da taxa de juros. A política deu certo. O erro todo começa a partir daí. O PT achou que tinha descoberto o Santo Graal do crescimento econômico, que foi inclusive batizado com o pomposo nome de “nova matriz econômica”. Era só expandir as políticas fiscal e monetária indefinidamente. Isso iria produzir altas taxas de crescimento e, em alguns anos, nos tornaríamos uma potência mundial. Simples assim!

Esse desvio de rota foi sentido mais claramente no governo Dilma. O crescimento médio da economia brasileira durante a gestão da presidente, de 2011 a 2014, foi de 2,2% ao ano. Foi o pior resultado desde o governo Collor. Ou seja, em vez buscar fortalecer os fundamentos macroeconômicos, Dilma e sua trupe optaram por uma tentativa (frustrada) de crescimento a qualquer custo. Alguma semelhança com fatos anteriores da nossa história, ou será só implicância minha?

A previsão do mercado financeiro, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e até mesmo do próprio governo é de que o PIB sofra retração em 2015. De acordo com uma pesquisa realizada, neste ano, pelo Banco Central junto a mais de 100 instituições financeiras, o PIB deve sofrer uma contração de 1%. Ou seja, o pior resultado desde 1990.

Em 2014, de acordo com o IBGE, o PIB brasileiro foi de 5,5 trilhões de reais. Um por cento desse valor equivale a 55 bilhões de reais, ou seja, mais que o dobro do prejuízo de 22 bilhões da Petrobrás. Se considerarmos o que o Brasil poderia ter crescido de 2011 para cá (mas não cresceu) e somarmos o que vamos deixar de crescer em 2015, o prejuizo da nossa maior estatal vira mixaria.

Nos dias 15 de março de 12 de abril, milhões de brasileiros foram às ruas manifestar contra a corrupção. E também contra a crise econômica. Para a maioria dos brasileiros, o grande problema do país é a corrupção. Será mesmo? Acho que a população brasileira ainda não se deu conta de um fato extremamente importante: a incompetência pode ser, em alguns casos, muito mais grave que a corrupção.