Os fatos parecem indicar que
o PT está chegando ao fim. A combinação de crise econômica e corrupção é
mortal. Há ainda aqueles que defendem o partido, mas esses tendem a se tornar
cada vez mais raros e desacreditados.
Quando o PT foi criado, em
1980, muita gente ficou empolgada. A ideia de trabalhadores assumirem o poder
político era muito sedutora. Professores de história costumam ensinar que o
sufrágio universal civilizou o capitalismo. E tudo levava a crer que a
solução das mazelas sociais do Brasil também viria através do voto. O grande
problema do Brasil se resumia no fato de nosso país ter sido sempre governado
por uma elite conservadora, que não se importava muito com as feridas sociais da
nação. Vários intelectuais, artistas, jornalistas aderiram a essa tese. Os
trabalhadores tinham de assumir o poder. Essa era a única maneira de acabar com
as injustiças sociais. E foi assim que o PT se transformou no principal
movimento de esquerda do Brasil.
PT: o fim de uma era?
Confesso que eu também
acreditei nessa tese. Porém meu encanto com o PT foi relativamente breve. Aos
poucos, fui me desapontando com o partido. Meu rompimento definitivo ocorreu em
1994, quando foi implementado o Plano Real. Naquela época, eu me questionava: por
que o PT era contra o Plano? Simplesmente porque era obra de um outro partido? Ficou
claro para mim que o PT não estava comprometido com o Brasil e sim com um
projeto de poder. Depois disso, vieram outros fatos que me tornaram ainda mais
crítico. Em 2002, Lula foi eleito presidente com um discurso contra o
neoliberalismo. Mas, ao assumir o poder, deu continuidade à política econômica
de seu predecessor, o “neoliberal” FHC. Criticar o neoliberalismo não passava,
portanto, de retórica eleitoreira. Era na verdade um simples papo furado para
engambelar eleitores incautos.
Mas faltava ainda a cereja
do bolo. O PT passou a dizer que a estabilidade econômica não ocorreu com o
Plano Real e sim com o governo Lula. Essa tese era demasiado absurda. Não imaginei
que as pessoas iriam acreditar nela. Mas, por incrível que pareça, funcionou. Depois
disso, concluí que o PT era capaz de qualquer coisa para conquistar e se manter
no poder. O mensalão e o petrolão não me surpreenderam. Simplesmente reforçaram
minha opinião em relação ao partido.
O PT parece estar com os
dias contados. E eu deveria estar contente, mas não estou. Meu sentimento é
muito mais de desolação que de felicidade. O PT envergonha todos os
trabalhadores do país. Muita gente deve estar pensando: é melhor que o país
seja governado pelas elites. É melhor também que os trabalhadores continuem nas
fábricas, de onde nunca deveriam ter saído. O PT desperdiçou uma oportunidade
histórica, a de mostrar que trabalhadores podem governar com responsabilidade o
Brasil.
Essa não é a primeira vez
que o povo brasileiro se desaponta com uma teoria fantasiosa. O momento atual
guarda muita semelhança com o movimento Diretas Já, dos anos 1980. Naquela
época, o povo encampou a tese de que todos os males do Brasil eram decorrentes
de um governo autoritário. A democracia era a solução mágica para todos os
problemas: estagnação econômica, pobreza, desigualdade, inflação etc. Tudo
seria resolvido com a redemocratização do país. E quando o povo, após uma longa
espera de mais de vinte anos, teve oportunidade de escolher, pelo voto direto, o
Presidente da República, escolheram Fernando Collor de Mello. Fica a lição aos
brasileiros: a democracia pode falhar.
A lição deixada pelo PT é que
trabalhadores no poder não é a solução infalível para os problemas sociais. Trabalhadores,
mediante o sufrágio universal, podem ter civilizado o capitalismo inglês do
século XIX, mas não deixaram muitas contribuições importantes para o Brasil do
século XXI. Em vez de continuarmos
presos a esse conceito de classes sociais, penso que o melhor é escolher nossos
representantes políticos pelo caráter, experiência e capacidade. Em qualquer
classe social podemos encontrar pessoas corretas e competentes. E também
espertalhões que querem apenas se dar bem. A duras penas, vamos aprendendo como
funciona uma democracia.