No Rio de
Janeiro, entre os bairros da Gávea e São Conrado, localiza-se a Rocinha, a
maior favela (ou comunidade, como preferem os politicamente corretos) do
Brasil. A Rocinha é um símbolo da gigantesca desigualdade de renda e riqueza
existente no Brasil. Em São
Paulo , as coisas não são muito diferentes. Cravada dentro do
sofisticado bairro do Morumbi, está a favela de Paraisópolis. Novamente,
riqueza e pobreza convivendo lado a lado. É difícil observar esses fatos e
achar que tudo bem, que o capitalismo é um sistema justo, baseado na
meritocracia. É fácil concordar com Smith e dizer que as pessoas são
naturalmente egoístas, mas é difícil acreditar que a busca pelo interesse
pessoal sempre leve a benefícios sociais.
Rocinha: retrato da desigualdade no Brasil
Por que existem
pobres? É possível fazer algo para mudar essa situação? Ao longo do tempo
vários economistas tentaram responder essas questões. As conclusões foram as
mais diversas possíveis. Variaram entre simplesmente não fazer nada até a
perpetração de uma revolução socialista. Comecemos nosso estudo desse assunto
pelas idéias do pastor anglicano Thomas Malthus. O que esse homem muito
religioso teria a dizer sobre uma questão tão delicada? Já vou responder a essa
pergunta, mas convém lembrar antes de algo importante. A Revolução Industrial
começou na Inglaterra, no final do século XVIII. Entre as diversas inovações
tecnológicas introduzidas nesse período, a mais importante de todas foi, sem
dúvida, a máquina a vapor. Junto com a maquinaria, vieram as fábricas e junto
com as fábricas, as cidades industriais. A capacidade de produção de
mercadorias cresceu de forma avassaladora. E todo esse fantástico
desenvolvimento teve qual impacto na vida dos pobres? A resposta é
surpreendente. A Revolução Industrial piorou sensivelmente a condição de vida
da classe trabalhadora. A jornada de trabalho chegava a 18 horas. O trabalho
era perigoso e acidentes eram freqüentes. Industriais preferiam contratar
mulheres e crianças por serem mais obedientes e aceitarem salários mais baixos.
Diante de
tanto sofrimento, surgem alguns intelectuais em defesa dos pobres, alguns com
idéias socialistas. É dentro desse contexto que Malthus apresenta a sua Teoria
da População. De acordo com Malthus, as pessoas são movidas por desejos sexuais
quase que insaciáveis. Isso fazia com que as populações crescessem de acordo
com uma progressão geométrica. Mais precisamente, as populações tenderiam a
duplicar de tamanho a cada geração (aproximadamente 25 anos). Ora, todos nós
sabemos que as populações não crescem numa proporção tão elevada assim. Segundo
Malthus, alguns fatores como fome, guerras, pestes continham o crescimento
populacional. Além disso, a produção de alimentos poderia crescer, na melhor
das hipóteses, de acordo com uma progressão aritmética. Portanto, se todos os
outros controles falhassem, um deles não falharia: a morte pela fome.
Qual a
solução para a pobreza segundo Malthus? A resposta é simples. Não existe
solução. A dor e o sofrimento constituem o destino da maior parte das pessoas
que nascem nesse planeta e nada pode ser feito no sentido de diminuí-los. A diferença
fundamental entre o rico e o pobre está no nível moral. Os pobres,
diferentemente dos ricos, não conseguem conter seus desejos sexuais. Políticas
redistributivas devem ser evitadas, pois fariam com que os pobres tivessem mais
filhos, tornando o problema ainda pior.
Ao longo da minha vida, conheci algumas pessoas que tinham verdadeiro horror à Teoria da População de Malthus. Particularmente, acho que Malthus está certo em tudo que disse, exceto num ponto. Existe uma forma de diminuir a pobreza e o sofrimento humano. O acesso a educação de qualidade é o que pode libertar as pessoas do círculo vicioso da pobreza. Voltando a questão da Rocinha, concluímos que Malthus também está correto. A maioria das pessoas não conhece essa história: a comunidade da Rocinha, na década de 1930, era uma pequena roça, uma rocinha que abastecia com hortaliças moradores da zona sul do Rio de Janeiro. Essa rocinha foi acolhendo migrantes nordestinos que fugiam da fome e foi crescendo até tornar-se um bairro com dimensão de uma cidade, como é hoje. A história da rocinha não é muito diferente da de várias outras comunidades espalhadas pelos grandes centros urbanos do Brasil. E fica para nós a lição de Malthus, dinheiro e comida não podem sozinhos solucionar um problema tão complexo. Sem educação, essas pessoas estarão para sempre presas à armadilha malthusiana da pobreza.
Ao longo da minha vida, conheci algumas pessoas que tinham verdadeiro horror à Teoria da População de Malthus. Particularmente, acho que Malthus está certo em tudo que disse, exceto num ponto. Existe uma forma de diminuir a pobreza e o sofrimento humano. O acesso a educação de qualidade é o que pode libertar as pessoas do círculo vicioso da pobreza. Voltando a questão da Rocinha, concluímos que Malthus também está correto. A maioria das pessoas não conhece essa história: a comunidade da Rocinha, na década de 1930, era uma pequena roça, uma rocinha que abastecia com hortaliças moradores da zona sul do Rio de Janeiro. Essa rocinha foi acolhendo migrantes nordestinos que fugiam da fome e foi crescendo até tornar-se um bairro com dimensão de uma cidade, como é hoje. A história da rocinha não é muito diferente da de várias outras comunidades espalhadas pelos grandes centros urbanos do Brasil. E fica para nós a lição de Malthus, dinheiro e comida não podem sozinhos solucionar um problema tão complexo. Sem educação, essas pessoas estarão para sempre presas à armadilha malthusiana da pobreza.