sexta-feira, 10 de julho de 2015

Papa Francisco e a visão medieval do capitalismo

O papa Francisco é comunista? Lamentavelmente, parece que sim. Nesta quinta-feira, dia 9 de julho, o papa esteve na Bolívia e recebeu de Evo Morales um crucifixo na forma de foice e martelo. Misturar símbolos de duas idéias tão díspares – cristianismo e comunismo – em um mesmo artefato é de um mau gosto atroz, para dizer o mínimo. O papa aparentemente não gostou do presente. Poderia ter recusado, mas não o fez. Acho que aceitar o presente não é tão grave. O pior foi sua fala, em que disse, entre outras coisas, que o capitalismo é uma “ditadura sutil” e defendeu uma “mudança de estruturas”.


Compreendo perfeitamente que o papa esteja descontente com a pobreza que assola boa parte da humanidade e com a devastação do meio ambiente. Na verdade, quem está contente com isso? Acho que qualquer pessoa sensata gostaria que o mundo fosse melhor, que não houvesse tanta miséria e tanta agressão à natureza. Mas qual o melhor caminho para chegar a essa sociedade mais próspera e consciente? Com certeza, não será através do socialismo. Tanto João Paulo II como Bento XVI estavam bem cientes disso, mas, infelizmente, não é o caso de Francisco.

O papa padece de uma enfermidade que assola o mundo inteiro, mas especialmente a América Latina, um misto de incompreensão com fantasia. Incompreensão de como funciona uma economia de mercado. E fantasia de que o socialismo possa solucionar problemas econômicos ou ambientais.

Já comentei mais de uma vez nesse espaço por que uma economia socialista, centralmente planejada, não pode ser eficiente. E, se não pode ser eficiente, não pode gerar prosperidade. Pode, no máximo, repartir pobreza.

Do ponto de vista ambiental, os comunistas também não têm muito do que se orgulhar. Nos idos dos anos 1970 ou 1980, eu me lembro de uma reportagem de TV sobre a cidade mais poluída do mundo, que, por acaso, ficava na Romênia. A União Soviética também nunca foi um exemplo de preservação ambiental. Há um vídeo bem interessante no YouTube, chamado “Let’s do it Estônia”, que mostra bem como os soviéticos tratavam o meio-ambiente.



Historicamente, a Igreja católica sempre foi resistente ao capitalismo. Clérigos católicos, desde o final da Idade Média, tinham uma postura claramente anticapitalista; criticavam a busca pelo lucro, a ambição e o desejo de acumular riqueza – ou seja, todos os motivos interesseiros que azeitam a máquina capitalista de produção. Coube aos protestantes libertar a classe capitalista do opróbrio moral imposto pelos católicos. A ética protestante foi peça fundamental na expansão capitalista.

Mas tudo isso é passado. Católicos e protestantes compartilham, no mundo de hoje, uma visão de mundo muito parecida. Ou, pelo menos compartilhavam, até agora. Não menosprezem a fala do papa e sua capacidade de influenciar pessoas. Com certeza, muita gente vai pensar: até o papa é contra o capitalismo, então esse sistema é realmente ruim. Muitos também vão se esquecer de que o marxismo é uma ideologia fundamentada no ateísmo e numa visão materialista do mundo. Se até o papa defende o socialismo, então o caminho é mesmo por aí. Infelizmente, o papa pode estar muito bem intencionado, mas está retroagindo à Idade Média com seu discurso e prestando um grande desserviço à humanidade.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Diga não à doutrinação ideológica

O socialismo é uma utopia muito interessante em termos teóricos, mas terrível na prática. Essa ideologia ceifou milhões de vidas em várias partes do mundo e somente foi capaz de produzir pobreza e opressão. Acho que não há nenhuma novidade nisso. O que realmente me impressiona é o fato de, apesar de tantos dados negativos, muitas pessoas ainda acreditarem que o socialismo possa, de alguma maneira, melhorar as condições de vida de uma nação.



Entre os que defendem o socialismo, há pelo menos três grandes grupos. Primeiramente, os oportunistas: pessoas que não se importam se uma economia estatizada é eficiente ou não. Os oportunistas não estão interessados nesse aspecto, para eles isso é irrelevante. O ideal socialista ainda é capaz de mover multidões, é um meio de se chegar ao poder e é isso que importa.

Um segundo grupo é o dos manipulados. São, de um modo geral, pessoas de pouca instrução e baixa capacidade cognitiva. Esse é provavelmente o grupo mais numeroso. São pessoas que não entendem nada de economia ou política, mas estão plenamente convencidas de que o capitalismo é opressivo e que o socialismo é a redenção.

O terceiro grupo é o que eu considero mais complexo e interessante. São pessoas inteligentes, bem informadas, algumas inclusive com alto grau de instrução, e que, mesmo assim, defendem os ideais socialistas. Como entender esse grupo? Essas pessoas são anticapitalistas. Isso, até certo ponto, é compreensível. O capitalismo não é necessariamente bom. Ele pode ser bom, mas isso depende de uma série de condicionantes. A economia brasileira sempre, desde o período colonial, teve alguns elementos capitalistas: comércio, propriedade privada, obtenção de lucro, acumulação de capital etc. Com o passar do tempo, o escravismo, o monopólio comercial e outros resquícios pré-capitalistas foram superados. Todavia, o Brasil sempre foi e continua sendo uma sociedade profundamente desigual e com imensos bolsões de pobreza. Por que o capitalismo no Brasil não foi capaz de gerar riqueza para todos? Essa é a grande questão.

O principal fator de mobilidade social e geração de riqueza em uma sociedade é a educação. Para que uma sociedade seja justa, o governo tem de assegurar que todas as crianças e adolescentes tenham acesso à educação básica de qualidade. Isso não significa que o governo deve necessariamente manter escolas públicas. As escolas podem ser privadas, mas, se os pais não tiverem recursos suficientes para pagar o estudo dos filhos, o governo deve prover esse benefício.

Em vez de escolas privadas e uma assistência apenas para as famílias muito pobres, o Brasil optou por uma solução muito mais onerosa: o ensino público e gratuito, ofertado a todos indistintamente. O grande problema é que esse ensino público e gratuito tem um baixíssimo nível de qualidade. Hoje, no Brasil, é comum um jovem terminar o ensino médio semialfabetizado, capaz de ler um texto, mas sem entender o que leu. Esse mesmo jovem, muitas vezes, é incapaz de realizar operações aritméticas básicas. Logicamente, uma pessoa com tal nível de formação não vai disputar os melhores empregos no mercado de trabalho. Esse jovem não será médico, engenheiro ou advogado. Para ele estão destinadas as funções de segunda ou terceira categoria. Em outras palavras, a educação no Brasil, em vez de funcionar como um fator de mobilidade social, funciona como um cimento que solidifica ainda mais o circulo vicioso da pobreza.

Esse modelo de educação disfuncional que vigora no Brasil é um terreno fértil para a difusão de ideias socialistas e marxistas. Quando os professores ensinam aos alunos que a sociedade está dividida em classes sociais, que existe uma classe dominante e uma classe dominada, os alunos tendem a aceitar essa ideia, porque ela parece condizente com a realidade em que eles estão inseridos. Um estudante pobre, que mora em uma região carente, filho de pais pouco escolarizados é uma presa fácil de ideias esquerdistas.

Além disso, alguns professores entendem que a decadência do ensino – escolas mal conservadas, falta de equipamentos, salários baixos, etc. – é um subproduto do capitalismo. Somente em uma economia socialista, estudantes pobres poderão ter acesso à educação de boa qualidade. Professores difundem esse pensamento em escolas públicas, que se transformam em verdadeiros centros de ódio ao capitalismo. Alguns desses jovens carentes chegam a universidade, onde, muitas vezes, a pregação ideológica e anticapitalista continua.

Como mudar tudo isso? Particularmente, acredito que esse quadro somente pode ser mudado a partir do momento que a educação passar a ser levada realmente a sério no Brasil. Façamos uma comparação. A Coreia do Sul, no começo da década de 1960, era um país paupérrimo, sem indústrias, sem riquezas naturais, com uma população iletrada e assolado por uma guerra sangrenta. Em aproximadamente 40 anos, esse país asiático deixou para trás um quadro de miséria e se transformou em uma nação desenvolvida. Como explicar tanto sucesso em tão pouco tempo? A Coreia fez há mais de 50 anos o que o Brasil não fez até hoje: levou a educação a sério. De acordo com o PISA (Programme for International Student Assessment ), a Coreia do Sul é um dos países mais bem ranqueados no mundo, em termos de educação básica.

Resumindo, educação é a alavanca da mobilidade social, ela pode reduzir desigualdade e pobreza. Ela é também um elemento fundamental no desenvolvimento econômico. Nenhum país do mundo se desenvolveu sem investir em capital humano. Por outro lado, escolas sucateadas, ensino de má qualidade e professores desvalorizados abrem espaço para a difusão de ideias socialistas. Já passou da hora do Brasil levar educação a sério.