sábado, 28 de março de 2015

As drogas deveriam ser legalizadas?

Na década de 2000, muita gente apostava suas fichas na economia brasileira. Em 2001, o economista inglês Jim O’Neill criou a sigla BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, que mais tarde se transformaria em BRICS, com a inclusão da África do Sul (em inglês, South África). Segundo o economista, essas eram cinco nações em desenvolvimento, mas com potencial de superar as maiores economias do mundo em algumas décadas. Em 2009, a revista britânica The Economist publicou em sua capa uma imagem do Cristo Redentor como um foguete prestes a alçar vôo. Título da reportagem: Brazil takes off, ou Brasil decola, em tradução livre.

Legalizar é a solução

Curiosamente, nessa mesma época, eu andava pelas ruas do centro de São Paulo e tinha a sensação oposta. A quantidade de moradores de rua era gigantesca e parecia aumentar a cada dia. Eu me questionava: como a economia podia estar indo tão bem se a quantidade de miseráveis crescia a cada dia? Eu me lembro da mesma São Paulo nos anos 1980. Durante a chamada “década perdida”, em meio à inflação descontrolada, estagnação econômica e crise do endividamento externo, havia poucos moradores de rua. Como entender esse aparente paradoxo? Levou um tempinho para eu compreender o que estava acontecendo. Na década de 1980, não existia o crack. Aquela imensa horda de miseráveis que se acumulava no centro da cidade era, na verdade, viciados em crack.

Eu sempre fui um defensor da legalização plena da produção, comércio e uso de drogas. O surgimento do crack veio reforçar essa minha convicção. O crack é a cocaína dos pobres e surgiu somente porque a cocaína custa caro. E por que a cocaína custa caro?  Porque é ilegal. A única forma de inibir o consumo de crack está na completa legalização das drogas.

O meu argumento de que todas as drogas deveriam ser legalizadas está fundamentado em convicções pessoais de cunho filosófico e evidências empíricas. Do ponto de vista filosófico, eu acredito no liberalismo. E, como liberal, eu entendo que o Estado tem suas funções, mas o Estado não é nosso dono. Não é o Estado que vai nos dizer o que é bom e o que é mau, qual caminho devemos ou não devemos seguir. Quando uma pessoa decide se enveredar pelo mundo das drogas, está fazendo uma péssima escolha. Mas essa decisão deve partir do indivíduo e não do Estado.

Do ponto de vista empírico, temos de admitir, a repressão ao comércio de drogas falhou em praticamente todo o mundo. Vamos analisar o caso brasileiro que é o que conhecemos melhor. Vender drogas pode ser uma atividade altamente lucrativa. Os chefões do tráfico têm muito dinheiro e com esse dinheiro compram armas potentes. E com essas armas podem enfrentar a polícia de igual para igual. Nessa guerra, morrem policiais, bandidos e pessoas que nada têm a ver com a história. Virou rotina, principalmente no Rio de Janeiro, pessoas serem atingidas por bala perdida.

Uma outra contradição é: por que algumas drogas são legalizadas e outras não? Por que cigarros e bebidas alcoólicas são comercializadas livremente enquanto a maconha continua ilegal? A nicotina dos cigarros é muito mais viciante que o THC da maconha. Acredito que uma pessoa alcoolizada ao volante é algo mais perigoso que outra que tenha fumado um “baseado” ou até mesmo usado cocaína.

Outro mito é que a maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas. Isso é uma bobagem. Eu tenho vários amigos que apreciam álcool, mas não fumam. Conheço várias outras pessoas que fumam, mas não bebem. E já conheci pessoas que usavam maconha e não bebiam nem fumavam. Gostar de consumir um tipo de droga não significa gostar de outras. Além disso, não existe essa escadinha das drogas mais leves para as mais pesadas. E todo mundo que está no primeiro degrau da escada vai querer subir até o topo.

Imagine um mundo sem repressão às drogas. Os traficantes desapareceriam. Com o fim do tráfico, os bandidos teriam menos dinheiro, menos armas e menos condições de enfrentar a polícia. A guerra contra o tráfico desapareceria, as drogas seriam produzidas por pessoas comuns que trabalham e pagam impostos. Muitas vidas seriam poupadas. Existe apenas um ponto negativo em liberar o comércio de drogas. Se as drogas se tornarem mais baratas e acessíveis, provavelmente o consumo irá aumentar. Isso não é bom. Mas, conforme disse anteriormente, essa é uma decisão pessoal. Drogas podem destruir a vida de uma pessoa. Eu não fico feliz ao ver alguém com a vida destruída por causa do vício em drogas. Porém, mais triste que isso são as pessoas que nunca usaram droga e estão morrendo pela repressão ao consumo.

sábado, 21 de março de 2015

Economia de mercado versus planejamento econômico

No final do século XVIII, o professor de filosofia Adam Smith percebeu que o mundo estava passando por uma profunda transformação. Era o início da Revolução Industrial e do liberalismo econômico. Smith, que futuramente viria a ser conhecido como pai da economia, chamou aquele novo sistema de produção de sociedade comercial – o termo capitalismo somente iria surgir quase cem anos depois.

Economia de mercado, o caminho da prosperidade 

A Revolução Industrial começou no século XVIII e nunca mais parou. Se durante o feudalismo, a Europa ficou imersa em um sono profundo de mil anos, com o capitalismo tudo iria mudar. A capacidade que o capitalismo tem de produzir e inovar é avassaladora. Informática, internet e celulares são uma prova disso.

O mundo dos anos 1970 era totalmente diferente do mundo de hoje. Naquela época, poucas pessoas tinham automóvel, telefone, máquina de lavar roupas, forno de microondas etc. Esses produtos eram considerados artigos de luxo, coisa de gente rica. Também não eram todos que tinham televisão e essas eram somente em preto e branco. Ter uma TV com cinqüenta canais era algo inimaginável. Na minha cidade, havia apenas um único canal de televisão, o canal quatro ou TV Tupi.

Eu me lembro que nos anos 1980 comprei uma calculadora científica e parcelei para pagar, acho que em doze vezes. Uma calculadora científica naquela época custava bem caro, hoje custa por volta de quarenta reais. Também nos anos 1980, comprei um vídeo cassete e, acreditem ou não, comprei através de um consórcio.

Muito bem, o que explica essa capacidade das economias de mercado de inovar, produzir e tornar as mercadorias cada vez melhores e mais baratas? Existem três fatores que são fundamentais nesse processo: a busca pelo lucro, a concorrência e o sistema de preços. Adam Smith dizia, as pessoas são essencialmente egoístas e estão sempre em busca do interesse pessoal, mas, apesar disso, essa atitude egoísta faz com que todos contribuam para o bem estar social. Smith dizia que não era da benevolência do açougueiro, do padeiro ou do cervejeiro que ele esperava obter seu jantar. Essas pessoas eram guiadas por interesses egoístas e interesseiros, mas involuntariamente eram guiadas por uma “mão invisível” para produzir um benefício social.

A concorrência é outro fator primordial. Quando não existe concorrência, as pessoas ficam preguiçosas e acomodadas. Um bom exemplo disso é a indústria brasileira antes da abertura comercial promovida nos anos 1990. O mercado fortemente protegido deixou os industriais preguiçosos e nos obrigava a consumir produtos caros e de baixa qualidade. Quem viveu essa época vai se lembrar do presidente Fernando Collor dizendo que os carros brasileiros eram verdadeiras carroças. Collor foi um péssimo presidente, mas sua afirmação sobre a indústria automobilística brasileira estava totalmente correta.

Finalmente, temos o sistema de preços. Em qualquer sociedade, as pessoas têm de decidir o que e o quanto vai ser produzido. Em uma economia de mercado, os preços sinalizam para os agentes econômicos o que eles devem produzir. Se há escassez de uma mercadoria, seu preço aumenta, produzir esse bem torna-se mais lucrativo e isso atrai pessoas para esse setor. Se há excesso de uma mercadoria, os preços caem e as pessoas tendem a sair desse setor. Ou seja, os preços sinalizam para os agentes econômicos o que deve e o que não deve ser produzido.

Apesar de tudo isso, ainda existem pessoas que são contrárias à economia de mercado e defendem o modelo socialista e o planejamento econômico. Essas pessoas olham para as mazelas sociais do Brasil e dos países em desenvolvimento em geral e acreditam que o capitalismo é o grande responsável por situações de pobreza e desigualdade. Essas pessoas não conseguem entender que a pobreza extrema é causada pela falta de capitalismo e não por excesso. Países pobres possuem instituições deficientes que impedem que as forças de mercado operem livremente.

Todos países que substituíram o mercado pelo planejamento econômico fracassaram. Vou comentar apenas dois casos sobre as aberrações produzidas pela planificação da economia. Na Polônia, durante o regime comunista, planificadores tiveram uma idéia genial. Como a Polônia tem muito carvão mineral, eles passaram a usar esse carvão em estufas para produzir frutas tropicais. De forma bem simples, passaram a usar algo caro (carvão mineral) para produzir algo barato (banana). Se os poloneses exportassem carvão, poderiam importar muito mais frutas que produzindo através de estufas. Ou seja, os poloneses, mediante a planificação econômica, encontraram uma forma eficiente de destruir valor.

Bem, se você ainda acha que o planejamento econômico funciona, segue mais um exemplo. Quando houve a distensão do regime soviético, em meados dos anos 1980, assisti a uma reportagem que me deixou bem impressionado. Uma cidade da União Soviética era a campeã mundial de abortos. Qual a causa disso? Muito simples. Os planificadores entenderam que era necessário cuidar da saúde da população. Construíram e equiparam hospitais, formaram médicos, mas se esqueceram de produzir algo simples e barato chamado preservativo. Resultado, os casais não tinham meios de evitar a gravidez, mas contavam com um aparato estatal eficiente para “consertar” ex post o problema.

Resumindo, a economia de mercado é o caminho para um mundo mais próspero. Se eu não fui capaz de te convencer, sugiro que você assista ao vídeo abaixo. A partir de um simples lápis, Milton Friedman dá uma aula magnífica de como o capitalismo funciona.





domingo, 15 de março de 2015

Ingovernabilidade

Hoje, dia 15 de março de 2015, é um dia para se comemorar, mas também para se ficar apreensivo. O povo brasileiro deu uma aula de democracia. Foi às ruas e, em clima familiar, protestou pacificamente contra o governo mais corrupto da nossa história. Nunca antes na história desse país, um movimento político levou tanta gente à rua. Estima-se que só na Avenida Paulista, em São Paulo, havia um milhão de manifestantes. Isso nunca aconteceu na nossa história, nem durante o Diretas Já, nem durante os protestos de junho de 2013.


15 de março de 2015, um dia para ficar para a história

A parte ruim dessa história é que, tudo indica, estamos caminhando para uma situação de ingovernabilidade e não sabemos como isso vai terminar. A presidente, assustada, não deu as caras, escondeu-se no Palácio do Planalto e mandou dois ministros para uma coletiva de imprensa. Os ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo repetiram o mesmo discurso requentado que não convence mais ninguém. Primeiramente, Cardozo disse que as manifestações fazem parte do processo democrático. Que moral um partido que defende os regimes de Cuba e Venezuela tem para falar sobre democracia? Cardozo disse que o governo vai propor um pacote anti-corrupção. Que moral o partido mais corrupto da história tem para isso? Disse ainda que o governo vai propor uma reforma política. Novamente, que moral um partido que recorre às medidas mais sórdidas para chegar ao poder tem para tanto?

As ponderações de Rossetto foram ainda mais infelizes. Repetiu novamente que a crise econômica se deve a fatores externos. Todos nós sabemos que isso não é verdade. Com relação às manifestações, alegou que elas foram produzidas por pessoas que não votaram em Dilma. Ou seja, as pessoas nas ruas estavam com raiva de Dilma ter ganhado as eleições. O povo na rua nada tem a ver com os desvios da Petrobrás, com a crise econômica e com as mentiras ditas pela presidente durante a campanha. É só raiva de quem perdeu as eleições.

Resumindo, esse governo não tem nada mais a dizer e, mesmo se tivesse, ninguém aceitaria, pois sofre uma crise de credibilidade. Durante a entrevista, houve panelaço. A população não quer nem ouvir o que essa turma tem a dizer, preferem bater panela. E estão certos. A situação tende a piorar. Estamos caminhando para uma crise de governabilidade, uma paralisia do Poder Executivo. Se Dilma fosse uma pessoa mais correta, sensata e humilde, renunciaria para o bem estar da nação. Infelizmente, ela não fará isso. Vamos ter de esperar para ver como essa peça vai acabar. 

sábado, 14 de março de 2015

PT põe o lupemproletariado nas ruas

Na última sexta-feira, dia 13 de março, assistimos a um dos espetáculos mais degradantes da história recente do Brasil. O PT mostrou mais uma vez que não tem escrúpulos e que é capaz de fazer o que for preciso para se manter no poder. Num dia útil, em que trabalhadores estavam trabalhando, o PT conseguiu reunir uma horda de miseráveis e desocupados para manifestar apoio ao governo. Pagou a cada uma dessas pessoas 35 reais. Alguns não tinham idéia do que estavam fazendo ali, queriam apenas ganhar uma grana. No meio desses miseráveis, alguns africanos que nem sabem falar português e nem quem é a presidente do Brasil.

Manifestação a favor do governo, dia 13 de março

Os manifestantes se diziam contra a corrupção na Petrobrás e a política de arrocho salarial, mas eram a favor do governo. Mas os desvios na Petrobrás favoreceram o partido do governo e a política de arrocho está sendo feita pelo próprio governo. Ou seja, ninguém entendeu nada. Mas esta não foi a pior parte da história. O PT mostrou que seu projeto de poder consegue ser pior que o projeto marxista. Marx achava que a classe revolucionária contra o capitalismo era por excelência a classe trabalhadora. Havia uma classe abaixo da classe trabalhadora que Marx chamou de lupemproletariado. Essa classe era constituída por vagabundos, ladrões, prostitutas e afins. Segundo Marx, o lupemproletariado não tinha consciência de classe e era facilmente manipulável pela burguesia. Além disso, a ausência de valores morais do lupemproletariado poderia contaminar a classe trabalhadora e comprometer a revolução. Portanto, essa classe não deveria participar do movimento revolucionário. Muito bem. Os petistas jogaram fora a cartilha marxista e mostraram ao Brasil que, na política, vale tudo, até mesmo por na rua o lupemproletariado para defender o governo.


Cabe aqui uma reflexão. Se na Rússia, revolucionários sérios, que de fato acreditavam que o socialismo representava um grande passo na história da humanidade foram capazes de produzir tanto horror, o que se esperar do cínico lulo-petismo que paga desocupados para militar a seu favor? O Brasil está a caminho de se transformar em uma Venezuela. E depois, o que virá? Continuaremos retroagindo e nos transformaremos em uma Coréia do Norte. Se você não quer que o Brasil se transforme em uma Venezuela, vá para rua nesse domingo e manifeste a sua indignação. Em 1964, o povo na rua conseguiu destituir João Goulart. Em 1992, foi a vez de Collor. E agora é a vez de Dilma. Particularmente, não tenho nenhuma simpatia pelo vice Michel Temer. O PMDB, apesar de sua história, é hoje o partido mais fisiológico do Brasil. Mas acho difícil um governo pior que o atual. Domingo, eu vou estar nas ruas protestando. Eu sou brasileiro e não tenho dupla cidadania. Se esse país der errado, não tenho para onde ir. Tenho de ficar aqui mesmo. Se você é brasileiro e ama esse país, tem um compromisso no dia 15.

sábado, 7 de março de 2015

O neoliberalismo petista

Em meados dos anos 1990, quando eu fazia graduação em economia, conheci uma garota do curso de letras. Um certo dia, começamos a falar sobre economia. Falei para ela sobre algumas ideias que eu acreditava. Ela não gostou nenhum pouco. Fechou a cara e me disse bem brava: “isso é neoliberalismo”. Essa foi a primeira de várias situações muito parecidas que viriam a ocorrer. Eu perdi a conta de quantas vezes fui chamado de neoliberal. Depois de um tempo, concluí que, para preservar as amizades, muitas vezes, era melhor evitar falar sobre política ou economia. Contudo, acho que nós, liberais, temos algo a comemorar. O pensamento anti-liberal já estava desacreditado há tempos, mas o fracasso do governo Dilma 1 foi a pá de cal que faltava para sepultá-lo de vez.

O PT aderiu ao neoliberalismo?

Vamos recordar como isso aconteceu. Quando Lula foi eleito em 2002, todos imaginavam que ele iria colocar em prática ideias heterodoxas e anti-liberais de algum economista de terceira classe. Quem seria o Ministro da Fazenda de Lula? Talvez a professora emérita da UFRJ, Maria da Conceição Tavares. Ou quem sabe, o guru dos desenvolvimentistas brasileiros, Luiz Gonzaga Beluzzo. Mas Lula, que não é bobo, – para quem não sabe, os petistas se dividem em dois grupos, os bobos e os cínicos – percebeu que nomear um desses economistas embusteiros seria a ruína de seu governo. Lula, entre tantos economistas desenvolvimentistas-keynesianos-heterodoxos, preferiu nomear para Ministro da Fazenda um quase desconhecido médico de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, chamado Antônio Palocci. Tão esperto quanto Lula, ou mais, Palocci deu o seguinte recado para o mercado. Fiquem tranquilos, nós vamos dar continuidade às boas políticas ortodoxas de FHC, mas não podemos dizer isso abertamente. Temos de continuar malhando o Judas. Temos de continuar falando mal do neoliberalismo. Mas essa fala é de mentirinha, é puro marketing eleitoral, serve somente para enganar os petistas bobos. E foi dessa forma que o PT se transformou aparentemente em um partido neoliberal.

De fato, parecia que o pensamento anti-liberal do PT tinha morrido ali, mas tudo mudou com a eleição da atual presidente. Dilma, juntamente com Guido Mantega e Aloízio Mercadante, fazem parte do outro grupo, o dos petistas bobos, aqueles mesmos que Lula e Palocci levaram no bico. Diante de uma desaceleração da economia mundial, eles resolveram – em vez de manter a ortodoxia econômica, que vinha funcionando até então – ressuscitar o moribundo nacional desenvolvimentismo, lá do período do general Ernesto Geisel. O resultado dessa brincadeira irresponsável, todos sabemos bem: estagnação da economia, endividamento público e inflação.

A situação atual do governo Dilma é crítica. Além da crise econômica, há uma crise política, perda de apoio popular e denúncias de corrupção. Mas, em meio a tantas notícias ruins, creio que há uma luz no fim do túnel. O Brasil que vai emergir findo o atual governo será um Brasil melhor. Seja qual for o partido que venha governar o país, dificilmente irá por tudo a perder flertando com políticas heterodoxas ou desenvolvimentistas como fez a nossa atual presidente e sua trupe de saltimbancos. Inconscientemente, Dilma deu uma contribuição e tanto a toda a nação. Deu uma lição de como não se deve governar. E todos os políticos com um mínimo de inteligência devem ter aprendido como provocar uma crise econômica sem ganhar nada em troca.

Na verdade, eu estava bem mais pessimista em relação ao futuro do país que agora. Quando Dilma venceu as eleições de 2014, pensei que um desastre estava por vir. Achei que a presidente iria dar continuidade à sua política econômica desastrosa e lançar o Brasil precipício abaixo. Mas a presidente me surpreendeu e mostrou que existe um pouco de capacidade cognitiva dentro de sua cabeça avantajada. Ao nomear Joaquim Levy como novo Ministro da Fazenda, ela reconheceu que o Brasil estava no caminho errado e que precisava de um economista ortodoxo para colocar o país de novo no rumo certo. Levy tem uma tarefa difícil pela frente: implementar medidas recessivas em uma economia estagnada. Nada pode ser mais antipopular que isso. Se Aécio tivesse vencido as eleições, ele estaria pondo em prática a mesma política de austeridade fiscal. Petistas iriam dizer: esses tucanos só sabem arrochar salários. De certa forma, foi bom que Dilma tenha ganhado as eleições. Os petistas estão sentindo o gosto do seu próprio veneno. Nada mais justo. Afinal de contas, quem comeu a carne, que roa os ossos.

O PT, se sobreviver à tsunami que está se formando – crise econômica, crise política e corrupção – provavelmente irá se transformar. Perante esse cenário tão adverso, alguns ratos já estão abandonando o navio, como a senadora Marta Suplicy que está ainda indecisa para qual partido deve ir. Para mim, tanto faz. Um rato a menos ou um rato a mais não muda nada. O que fica de positivo após tudo isso? Acredito que uma nação mais madura e menos hostil à economia de mercado. Espero que o país dê um passo à frente e o discurso contra o liberalismo seja finalmente abandonado. Mas talvez isso não aconteça. Infelizmente, nunca devemos subestimar a falta de inteligência humana.

domingo, 1 de março de 2015

Brasil: Pátria Concurseira

Você tem algum amigo que está estudando para prestar concurso público? Eu tenho três. Por que tantas pessoas querem conquistar um emprego público? Funcionários públicos concursados fazem jus ao salário que recebem? Qual o perfil dos candidatos aprovados nos concursos mais disputados? Quais as implicações políticas dessa indústria do concurso público que não para de crescer? É sobre isso que vou tratar nesse artigo.

Concurso Público: uma indústria que não para de crescer

Por que tantas pessoas querem conquistar um emprego público?

Simples, porque o governo remunera melhor que o mercado e concede mais benefícios. Isso é bom ou mau? Vamos ver. Acompanhe meu raciocínio. Se você tivesse uma empresa e precisasse contratar um empregado, digamos um contador. Qual salário você ofereceria? Provavelmente, você faria uma pesquisa de mercado. Digamos que o salário médio de um contador seja de quatro mil reais. Você iria oferecer então um salário próximo à média. Correto? O que o governo brasileiro faz? Oferece um salário três ou quatro vezes maior que a média do mercado. É fácil para o governo fazer isso, pois na realidade quem paga esses altos salários não é o governo e sim o contribuinte. Com a devida vênia, tenho de citar novamente Aristóteles: “o que é comum a muitos é o que recebe menos cuidados, por que todos têm maior preocupação com o que é seu do que aquilo que possuem em conjunto com outros”. Eu duvido que os políticos que fixam esses super salários são assim tão generosos com seu próprio dinheiro. Será que eles agem da mesma forma na hora de contratar uma empregada doméstica por exemplo? Será que eles pagam a uma empregada quatro vezes o valor médio do mercado? É muito fácil ser pródigo com o dinheiro alheio.

Funcionários públicos concursados fazem jus ao salário que recebem?

É difícil imaginar algo mais caótico que a administração pública no Brasil. Não faz muito tempo, o governo do Estado de São Paulo fez um concurso para professores. Qual foi o resultado? O governo não conseguiu preencher todas as vagas. A maioria dos candidatos foi reprovada. Por que isso aconteceu? Simples, porque os salários são baixos e as condições de trabalho são terríveis. As pessoas estão desistindo da carreira de professor da rede pública. Qual foi solução encontrada pelo governo? Para não deixar alunos sem aula, o governo admitiu professores reprovados no concurso.

Se ser professor é algo cada vez menos atraente no Brasil, o mesmo não acontece com outros cargos da administração pública. Vou contar para vocês apenas uma história, mas tenho uma centena de outras bem semelhantes. Um amigo meu foi aprovado em um concurso de nível médio. Quando tomou posse e começou a trabalhar, percebeu algo estranho. No setor dele, não havia serviço. Ele ficava oito horas sem fazer absolutamente nada. Percebeu, então, que praticamente todos seus colegas ficavam estudando durante o expediente para prestar um concurso de nível superior. Ele perguntou então ao seu chefe se poderia trazer apostilas e estudar no trabalho. O seu chefe não apenas concordou como o incentivou a fazer isso. Pois bem, esse meu amigo ficou por um tempo estudando oito horas por dia e conseguiu passar em concurso de nível superior. Ele me disse depois que estava muito contente com o novo cargo, que o salário era muito bom, mas havia um pequeno problema. Ele continuava sem ter o que fazer nas oito horas de trabalho. Resumindo, alguns funcionários públicos podem fazer jus ao dinheiro que recebem, mas muitos (talvez a maioria) não fazem.

Qual o perfil dos candidatos aprovados nos concurso mais disputados?

Algumas pessoas acham que o concurso público é uma oportunidade que pessoas mais pobres têm de ascender socialmente. Na verdade, não é bem assim. Para passar em concurso de nível superior, o candidato tem de ficar alguns anos sem trabalhar e dedicar em torno de oito horas ao estudo diário. A partir disso, já dá para concluir qual o perfil típico dos candidatos aprovados. De um modo geral, são jovens (menos de trinta anos), solteiros, sem filhos e de classe média ou alta. Pessoas pobres dificilmente conseguem passar em um concurso muito disputado, porque geralmente têm uma formação escolar deficiente e não podem se dar ao luxo de parar de trabalhar e se dedicar exclusivamente aos estudos. O concurso público, na verdade, funciona como um mecanismo de concentração de renda, tornando os ricos ainda mais ricos.

Quais as implicações políticas dessa indústria do concurso público que não para de crescer?

Quem tiver interesse em prestar um concurso público não encontrará dificuldade em obter material para estudar. Há uma quantidade gigantesca de empresas voltadas exclusivamente para atender a essa demanda. São cursinhos, apostilas, livros, DVDs, cursos on line, vídeo-aulas etc. Ou seja, existe uma indústria do concurso público espalhada pelo país. Para os concurseiros e cursinhos, quanto mais concurso melhor. E quanto mais o governo aumenta os salários de servidores públicos, tanto melhor. E qual o partido favorito dos concurseiros e donos de cursinhos? Aguardem um pouco, vou responder a essa pergunta relatando aqui uma experiência pessoal.

Em 1992, prestei concurso, fui aprovado e comecei a trabalhar no Banco do Brasil. Eu já não gostava muito do PT nessa época e a partir dessa experiência passei a gostar cada vez menos. Na agência em que eu trabalhava, o PT era uma espécie de vaca sagrada. Se alguém falasse qualquer coisa negativa em relação ao PT, um militante imediatamente chamava a atenção. Na minha agência, havia inclusive uma funcionária esquerdista fanática que ia trabalhar com uma boina ridícula, estilo Che Guevara. As reuniões de funcionários eram para lá de ideológicas, pareciam mais uma reunião do partido comunista. O PSDB era visto como o grande inimigo a ser combatido.

Em 2001, me desliguei do banco. Não sei exatamente qual o impacto que o mensalão e outros escândalos de corrupção do PT tiveram sobre o comportamento dos funcionários. Um antigo colega me disse que o pessoal continua votando no PT, mas o voto ideológico se transformou simplesmente em um voto corporativo. Antes, os funcionários achavam que o PT era bom para o país. Atualmente, acham que votar no PT é somente mais seguro. Tucanos tendem a ser a favor das privatizações e isso é a última coisa que eles querem.

O PT, ao ser tão leniente em relação aos salários dos funcionários públicos, criou mais um voto de cabresto no país. Além dos beneficiários do Bolsa Família, milhões de concurseiros, funcionários públicos e pessoas que têm negócios relacionados à indústria do concurso público votam em massa no PT. Simplificando, o governo impõe sobre o setor produtivo uma carga tributária imensa e sustenta um exército funcionários públicos, uma grande parte dos quais muito bem pagos e total ou quase totalmente ociosos. Eu tenho às vezes a sensação de que estamos vivenciando os momentos finais que antecederam à Revolução Francesa. O povo está cansado de trabalhar duro e sustentar uma classe de parasitas. Até quando isso vai durar? Até quando devemos suportar isso?