Você tem algum amigo que
está estudando para prestar concurso público? Eu tenho três. Por que tantas
pessoas querem conquistar um emprego público? Funcionários públicos concursados
fazem jus ao salário que recebem? Qual o perfil dos candidatos aprovados nos
concursos mais disputados? Quais as implicações políticas dessa indústria do
concurso público que não para de crescer? É sobre isso que vou tratar nesse
artigo.
Concurso Público: uma indústria que não para de crescer
Por que tantas pessoas querem conquistar um emprego
público?
Simples, porque o governo
remunera melhor que o mercado e concede mais benefícios. Isso é bom ou mau?
Vamos ver. Acompanhe meu raciocínio. Se você tivesse uma empresa e precisasse
contratar um empregado, digamos um contador. Qual salário você ofereceria? Provavelmente,
você faria uma pesquisa de mercado. Digamos que o salário médio de um contador
seja de quatro mil reais. Você iria oferecer então um salário próximo à média.
Correto? O que o governo brasileiro faz? Oferece um salário três ou quatro
vezes maior que a média do mercado. É fácil para o governo fazer isso, pois na
realidade quem paga esses altos salários não é o governo e sim o contribuinte. Com
a devida vênia, tenho de citar novamente Aristóteles: “o que é comum a muitos é
o que recebe menos cuidados, por que todos têm maior preocupação com o que é
seu do que aquilo que possuem em conjunto com outros”. Eu duvido que os
políticos que fixam esses super salários são assim tão generosos com seu
próprio dinheiro. Será que eles agem da mesma forma na hora de contratar uma
empregada doméstica por exemplo? Será que eles pagam a uma empregada quatro
vezes o valor médio do mercado? É muito fácil ser pródigo com o dinheiro
alheio.
Funcionários públicos concursados fazem jus ao
salário que recebem?
É difícil imaginar algo mais
caótico que a administração pública no Brasil. Não faz muito tempo, o governo
do Estado de São Paulo fez um concurso para professores. Qual foi o resultado?
O governo não conseguiu preencher todas as vagas. A maioria dos candidatos foi
reprovada. Por que isso aconteceu? Simples, porque os salários são baixos e as
condições de trabalho são terríveis. As pessoas estão desistindo da carreira de
professor da rede pública. Qual foi solução encontrada pelo governo? Para não
deixar alunos sem aula, o governo admitiu professores reprovados no concurso.
Se ser professor é algo cada
vez menos atraente no Brasil, o mesmo não acontece com outros cargos da
administração pública. Vou contar para vocês apenas uma história, mas tenho uma
centena de outras bem semelhantes. Um amigo meu foi aprovado em um concurso de
nível médio. Quando tomou posse e começou a trabalhar, percebeu algo estranho.
No setor dele, não havia serviço. Ele ficava oito horas sem fazer absolutamente
nada. Percebeu, então, que praticamente todos seus colegas ficavam estudando
durante o expediente para prestar um concurso de nível superior. Ele perguntou então
ao seu chefe se poderia trazer apostilas e estudar no trabalho. O seu chefe não
apenas concordou como o incentivou a fazer isso. Pois bem, esse meu amigo ficou
por um tempo estudando oito horas por dia e conseguiu passar em concurso de
nível superior. Ele me disse depois que estava muito contente com o novo cargo,
que o salário era muito bom, mas havia um pequeno problema. Ele continuava sem
ter o que fazer nas oito horas de trabalho. Resumindo, alguns funcionários públicos
podem fazer jus ao dinheiro que recebem, mas muitos (talvez a maioria) não
fazem.
Qual o perfil dos candidatos aprovados nos concurso
mais disputados?
Algumas pessoas acham que o
concurso público é uma oportunidade que pessoas mais pobres têm de ascender
socialmente. Na verdade, não é bem assim. Para passar em concurso de nível
superior, o candidato tem de ficar alguns anos sem trabalhar e dedicar em torno
de oito horas ao estudo diário. A partir disso, já dá para concluir qual o
perfil típico dos candidatos aprovados. De um modo geral, são jovens (menos de
trinta anos), solteiros, sem filhos e de classe média ou alta. Pessoas pobres
dificilmente conseguem passar em um concurso muito disputado, porque geralmente
têm uma formação escolar deficiente e não podem se dar ao luxo de parar de
trabalhar e se dedicar exclusivamente aos estudos. O concurso público, na
verdade, funciona como um mecanismo de concentração de renda, tornando os ricos
ainda mais ricos.
Quais as implicações políticas dessa indústria do
concurso público que não para de crescer?
Quem tiver interesse em
prestar um concurso público não encontrará dificuldade em obter material para
estudar. Há uma quantidade gigantesca de empresas voltadas exclusivamente para
atender a essa demanda. São cursinhos, apostilas, livros, DVDs, cursos on line,
vídeo-aulas etc. Ou seja, existe uma indústria do concurso público espalhada
pelo país. Para os concurseiros e cursinhos, quanto mais concurso melhor. E
quanto mais o governo aumenta os salários de servidores públicos, tanto melhor.
E qual o partido favorito dos concurseiros e donos de cursinhos? Aguardem um
pouco, vou responder a essa pergunta relatando aqui uma experiência pessoal.
Em 1992, prestei concurso,
fui aprovado e comecei a trabalhar no Banco do Brasil. Eu já não gostava muito
do PT nessa época e a partir dessa experiência passei a gostar cada vez menos.
Na agência em que eu trabalhava, o PT era uma espécie de vaca sagrada. Se alguém
falasse qualquer coisa negativa em relação ao PT, um militante imediatamente
chamava a atenção. Na minha agência, havia inclusive uma funcionária
esquerdista fanática que ia trabalhar com uma boina ridícula, estilo Che
Guevara. As reuniões de funcionários eram para lá de ideológicas, pareciam mais
uma reunião do partido comunista. O PSDB era visto como o grande inimigo a ser
combatido.
Em 2001, me desliguei do
banco. Não sei exatamente qual o impacto que o mensalão e outros escândalos de
corrupção do PT tiveram sobre o comportamento dos funcionários. Um antigo
colega me disse que o pessoal continua votando no PT, mas o voto ideológico se
transformou simplesmente em um voto corporativo. Antes, os funcionários achavam
que o PT era bom para o país. Atualmente, acham que votar no PT é somente mais
seguro. Tucanos tendem a ser a favor das privatizações e isso é a última coisa
que eles querem.
O PT, ao ser tão leniente em
relação aos salários dos funcionários públicos, criou mais um voto de cabresto
no país. Além dos beneficiários do Bolsa Família, milhões de concurseiros,
funcionários públicos e pessoas que têm negócios relacionados à indústria do
concurso público votam em massa no PT. Simplificando, o governo impõe sobre o
setor produtivo uma carga tributária imensa e sustenta um exército funcionários
públicos, uma grande parte dos quais muito bem pagos e total ou quase totalmente
ociosos. Eu tenho às vezes a sensação de que estamos vivenciando os momentos
finais que antecederam à Revolução Francesa. O povo está cansado de trabalhar
duro e sustentar uma classe de parasitas. Até quando isso vai durar? Até quando
devemos suportar isso?
Funcionalismo o poder invisível.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu concordo com muita coisa que você disse, mas discordo da parte do "não ter nada pra fazer". Trabalhar no Judiciário me deixou doente, de cama, pois era extremamente estressante, o serviço não parava 1 minuto, eu nunca tinha invejado tanto uma faxineira como invejei naquela função de conciliadora. Era divórcio atrás de divórcio, e o número só crescia, 70 num mês, 120 no outro, 150 no outro e por ai ia. Eu era estagiária também, ganhava uma micharia sendo que num escritório eu poderia ter ganhado até uns 2 mil por mês, mas lá ganhava 500 reais pra trabalhar mais de 4 horas (meu contrato era de 4 horas e eu fazia 5 todo dia se quisesse faltar em dias de prova, e no final até isso me foi negado sendo que não dava para estudar TUDO aquilo de matéria, num dia que me roubava 5 horas de trabalho, e eu ainda mal, chorando e deprimindo cada dia mais e mais (resultado - depressão grave)), e ser mais cobrada que um juiz era. O volume de processo era imenso, a juiza para quem trabalhei, trabalhava mais de 7 horas por dia, sem parar, fazia plantão de fim de semana, cuidava de outras varas, sozinha, enquanto outros saiam numa boa mais cedo ou nem ia trabalhar de sexta. 1 funcionária da vara morreu infectada por fungo nos processos, 1 teve um "derrame" e ficou 1 mês paralisada na cama por causa de estresse, outra teve câncer (que investigações cientificas tb dizem ser causado por estresse) e eu até hoje tenho ânsia só de pegar um livro de direito. Não sei se isso é não fazer nada. Mas sim, de fato, tem mto emprego público que não se faz nada, mas o judiciário não é um deles. E não para, e não tem fim, por mais rápido que você vá, vc ta sempre atrasado. Mas é mto boa a sua matéria.
ResponderExcluirhttp://meninadeparis.com
Fique com Deus
Dayana
Mandou muito bem e finalizou com o adjetivo perfeito para todos os tipos de funcionários públicos: parasitas.
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