Em 2001, o economista
britânico Jim O’Neill criou o termo BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China –,
segundo ele, países emergentes que reuniam condições de se tornarem grandes potências
econômicas nas próximas décadas. Essa expressão foi alterada posteriormente
para BRICS, com a inclusão da África do Sul (South Africa, em inglês). Tudo
isso é muito bacana, mas sejamos realistas: quais são as chances reais do
Brasil se transformar em uma potência econômica nas próximas décadas?
Existe um grande fator
pesando contra. Boa parte dos brasileiros tem uma visão bastante negativa do
capitalismo. O Brasil tem diversas mazelas sociais: pobreza, violência, desigualdade,
entre outras. A causa de todos esses problemas costuma ser atribuída ao
capitalismo. Esse raciocínio está logicamente equivocado. Na verdade, o
capitalismo é a única alternativa conhecida de tornar as nações mais ricas.
Isso é algo muito fácil de
observar. Durante quase toda sua história, a humanidade viveu em situação de
extrema pobreza. Somente a partir do final do século XVIII, com o advento da
Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo, esse quadro começou a
mudar. Pessoas comuns passaram a usufruir de bens que antes eram destinados
somente a pessoas muito ricas. Por exemplo, no Brasil colonial, objetos simples
como talheres ou copos de vidro eram considerados bens de luxo. No Brasil dos
anos 1960-70, somente pessoas alto poder aquisitivo podiam ter automóvel,
telefone ou viajar para o exterior. O capitalismo tem um grande poder de baratear
as mercadorias. A história nos mostra isso claramente. Com o passar do tempo,
os produtos vão ficando melhores e mais baratos. Produtos antes de luxo se
tornam acessíveis às pessoas de mais baixa renda. Mas não foi somente o consumo
que se expandiu, a saúde também melhorou. No começo do século XX, a expectativa
de vida no Brasil era de pouco mais de 30 anos, atualmente é de 75.
Outros dizem que o capitalismo
gera exclusão social. Essa é outra falácia. O melhor mecanismo de inclusão
social é um mercado de trabalho dinâmico, que gere emprego a todos. Somente o
capitalismo concorrencial pode promover esse mercado. Quanto mais regulações o
governo coloca ao funcionamento do mercado de trabalho, menos eficiente ele se
torna.
Podemos concluir que o
problema do Brasil não é excesso e sim falta de capitalismo. O Brasil na
realidade nunca foi um país realmente capitalista. Temos no Brasil um espectro
de capitalismo, um sistema meio público, meio privado, altamente intervencionista,
governista, dirigista e patrimonialista. Um modelo econômico caracterizado por
impostos elevados, corrupção desenfreada, distribuição de privilégios, burocracia
infernal e profundamente hostil em relação a quem deseja empreender. Esse
capitalismo de compadrio tem conseqüências nefastas. Empresas, em vez de
buscarem inovação – como seria normal em um sistema realmente capitalista – ,
vão competir por privilégios distribuídos pelo governo. Falta ao Brasil um
capitalismo verdadeiro, liberal e competitivo
Outros citam as experiências social-democratas como
exemplo de sucesso. Ledo engano. A social-democracia não torna os países mais
ricos. Ela simplesmente redistribui de maneira mais igualitária uma riqueza já
existente. O que torna um país mais rico é o livre mercado. Países ricos são
países economicamente livres. De acordo com o Índice de Liberdade Econômica (Index
of Economic Freedom), criado pelo prestigioso centro de pesquisa
norte-americano Heritage Foundation, o Brasil ocupa a 118ª posição, num ranking
de 178 países, ordenados de acordo com o grau de liberdade econômica. Por todo
mundo, vemos uma forte correlação entre liberdade econômica e qualidade de vida
da população. Em países mais livres, as pessoas têm salários mais altos,
direitos civis mais protegidos, meio-ambiente mais limpo e maior expectativa de
vida. Em países mais livres, há menos corrupção, menos trabalho infantil e
menos desemprego.
As pessoas não se dão conta
de que as grandes conquistas da civilização não aconteceram em escritórios do
governo. Henry Ford não revolucionou a indústria automobilística por ordem de
um burocrata de Estado. O mesmo podemos dizer de Bill Gates e a indústria da
informática. Empresários arriscam seus recursos, produzem riqueza e geram
empregos. No entanto, no Brasil, as pessoas tendem a hostilizar os grandes empresários.
Capitalistas normalmente são vistos como pessoas mesquinhas e gananciosas. No
Brasil, ter lucro é quase um pecado, uma espécie de opróbrio moral, significa
explorar trabalhadores e extrair mais valia.
Muitos brasileiros veem o
capitalismo como um jogo de soma zero, no qual, para alguém ganhar, outro tem
de perder. Dentro dessa perspectiva, empresários são ricos porque exploram
trabalhadores. Isso tudo é um grande equívoco. Na realidade, no capitalismo,
temos trocas voluntarias que proporcionam benefícios mútuos. Alguns podem
ganhar mais, outros podem ganhar menos. Mas, no final, todos saem ganhando.
Em vez de valorizar o
mercado, brasileiros esperam benesses do Estado. Porém o Estado não gera
riqueza. O Estado somente extrai coercitivamente recursos da sociedade mediante
impostos e gasta esses mesmos recursos, fornecendo serviços públicos para essa
mesma sociedade. Como o Estado não costuma ser muito eficiente na hora de
gastar esses recursos, o melhor seria se esses permanecessem na
sociedade e cada indivíduo gastasse da forma que considera mais adequada. Quanto
mais as pessoas clamam por serviços gratuitos, mais dinheiro o governo terá de
extrair das pessoas. Portanto, o ideal é termos um Estado mínimo, que cobre
menos impostos e se dedique somente às suas funções essenciais. Resta apenas a
parte mais complicada: convencer os inimigos do capitalismo de que esse é o
melhor caminho a ser trilhado.