Em todos modos de produção
que existiram – exceto no comunismo primitivo –, as sociedades sempre se dividiram
em duas classes: os dominantes e os dominados. Com a divisão de classes, surge
a exploração do homem pelo homem. Isso é muito fácil de perceber nos modos de
produção mais antigos como o escravismo e o feudalismo. Mas, e no capitalismo?
Existe exploração? Um trabalhador recebe salário, é pago pelo seu trabalho,
então ele não é explorado, correto? Não, no capitalismo também existe
exploração, só que essa é disfarçada. Todavia, Marx mostrou, através da teoria
da mais valia, como ocorre a exploração no modo capitalista de produção.
Karl Marx: teorias equivocadas
Talvez o leitor não acredite nessa balela toda de divisão de classes, de explorados e exploradores e tudo mais. Porém, os adeptos do socialismo acreditam. Então acho que vale a pena gastar um pouco do nosso tempo para entender melhor essa teoria e onde estão seus equívocos. Se você tiver algum amigo socialista (eu tenho alguns), esse artigo vai lhe proporcionar alguns argumentos interessantes.
Muito bem, antes de tudo,
convém ressaltar que a teoria da mais valia está baseada na teoria do valor
trabalho. Entender como se determina o valor de uma mercadoria não é algo
trivial. A teoria do valor trabalho é considerada ultrapassada pelos
economistas modernos. Na realidade, na metade do século XIX, quando Marx
desenvolveu a teoria da mais valia, muitos economistas já tinham percebido que
não é a quantidade de trabalho embutida em um bem que determina o seu valor.
Portanto, a teoria de Marx parte de uma premissa que hoje praticamente todos os
economistas – exceto os marxistas, logicamente – consideram equivocada.
A forma mais fácil de
entender a teoria da mais valia é através de um exemplo. Suponhamos que um
operário trabalhe dez horas em uma empresa. Ele recebe um salário proporcional
a essas dez horas. Porém esse salário estaria sempre no nível de subsistência –
Marx e a maioria dos economistas de sua época supunham que os salários sempre
se mantinham nesse nível. Mas digamos que o tempo de trabalho necessário para que
operário produza o valor correspondente ao custo de sua subsistência seja de
seis horas. O que acontece com as quatro horas excedentes? O valor gerado nesse
período fica para o capitalista. A mais valia é, portanto, a materialização do
trabalho excedente. A exploração no capitalismo ocorre mediante extração de
mais valia.
Onde estão os erros dessa
teoria? Marx considera que somente o trabalho humano gera valor. Capital
(máquinas, equipamentos, instalações etc.) não produz valor. Para que não
houvesse exploração, todo valor gerado na produção de mercadorias deveria
pertencer à classe trabalhadora. O capitalista é um simples parasita que extrai
mais valia dos trabalhadores.
Será que isso está correto?
Vejamos. O capitalista em algum momento de sua vida – ou de alguém que legou a
ele os meios de produção – teve de se esforçar, poupar recursos, para chegar a
essa situação. Todo objeto da riqueza é fruto do sacrifício humano. O
sacrifício dos operários é obvio. Porém a posse de meios de produção exige
sacrifícios semelhantes dos capitalistas. Logo, trabalhadores e capitalistas
têm justificativas morais semelhantes para auferir renda.
Vejamos outro ponto que Marx
não analisou. Quem gera inovação tecnológica? Os capitalistas ou os
trabalhadores? É evidente que são os capitalistas. O que acontece com uma
economia sem capitalistas? Entra em estagnação. Foi justamente isso que levou ao fim
do comunismo na União Soviética, na China e em quase todo o mundo.
A capacidade de inovação e
produção de riquezas do capitalismo é algo simplesmente extraordinário. Eu não
estou me referindo apenas à produção de carros chiques e sofisticados,
computadores, celulares, internet e coisas do gênero. Estou me referindo também
à saúde e à produção de alimentos.
No Brasil, no início do
século XX, a expectativa de vida era pouco superior a 30 anos. Atualmente, está
acima de 70. Isso aconteceu porque mais pessoas têm acesso a saneamento e a água
potável. Também porque empresas capitalistas inovadoras desenvolveram vacinas e
antibióticos que permitiram tratar de doenças que dizimavam milhões de
indivíduos. A inovação capitalista está presente também na agricultura. Há algumas
décadas, seria impossível produzir alimentos suficientes para alimentar a atual
população do planeta.
E os socialistas? Deixaram
alguma inovação relevante? Que eu me recorde, o único produto soviético que é
comercializado até hoje em larga escala é o fuzil AK-47. Essa arma rústica e de
fácil manuseio, desenvolvida em 1947 pelo engenheiro e militar russo Mikhail
Kalashnikov, é até hoje largamente comercializada. É provavelmente a arma de
fogo mais comercializada no mundo e também a favorita de terroristas e
traficantes de drogas. Ao ver o destino que sua invenção tomou, Kalashnikov
disse certa vez que preferiria ter inventado um cortador de grama.
Entre as inovações
capitalistas e socialistas, eu já fiz a minha escolha. Mais complicado é
convencer socialistas aonde a teoria da mais valia, quando levada às suas
últimas conseqüências, pode chegar.