Entendam bem. O capitalismo
é um jogo de soma zero, ou seja, para alguém ganhar, outro tem de perder. O
mundo deve ser visto como um todo, as nações ricas existem somente porque
existem nações pobres. Alguém concorda com esse argumento? Pois eu tive de ouvir
isso em uma palestra de um sociólogo. O tema da palestra era Capitalismo e
Discriminação Racial. A argumentação central era de que o capitalismo reforça o
preconceito e a discriminação. Na plateia, uma garotada de vinte poucos anos,
que tende a achar que o palestrante está certo em tudo que diz. Afinal, ele deve
ser uma autoridade no assunto.
Cotas raciais, é essa a solução?
Eu nunca tive vocação para
ser herói, mas naquela hora senti que tinha de fazer alguma coisa. E, por sorte,
inspiração ou sei lá o que, consegui acertar na mosca. Fiz algumas observações
e uma pergunta que desconcertou o tal sociólogo. Perguntei se ele era a favor ou
contra as cotas raciais. A princípio, ele fugiu da pergunta. Enrolou, enrolou e
não disse nada. Fui enfático então. Disse: professor, o senhor não respondeu à
minha pergunta. O senhor é a favor ou contra as cotas raciais? Encurralado, ele
teve de responder. Disse que era a favor. Era o que eu queria. Daí para frente,
fiz poucas observações. Deixei por conta dos alunos, que começaram a bombardear
o palestrante com perguntas e mostrar como essa política de cotas raciais é
injusta e incoerente. Todos os alunos que se manifestaram eram contra a
política de cotas raciais. Se alguém era a favor, ficou calado. O palestrante
ficou desconcertado.
Existe um milhão de
argumentos contra cotas raciais. Se eu abordar esse assunto com profundidade,
esse artigo vai se transformar em um livro de 100 páginas. Vamos ficar com o
argumento mais básico de todos. Quem estuda nas universidades públicas brasileiras? Na sua
maioria, pessoas brancas e de classe média ou alta. Pobres dificilmente entram
em universidades públicas, principalmente nos curso mais concorridos: medicina,
direito, engenharia etc. Não concordo com cotas raciais e nem com cotas sociais para alunos pobres que
estudaram em escola pública, por uma razão muito simples. Se as universidades
públicas admitirem alunos menos qualificados, o nível vai cair. De acordo com o Times Higher Education, o Brasil não tem
uma universidade que figure entre as 50 melhores do mundo. Temos de pensar em
formas de melhorar o nível de nossas universidades e não de piorar. Alunos pobres
não entram nas universidades públicas porque têm uma educação básica
extremamente deficiente. A solução para esse problema é melhorar a educação
básica e não criar cotas.
Cotas raciais é algo por
demais absurdo. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de bom senso consegue
perceber isso. Imagine dois alunos, um branco e um negro, igualmente pobres e
que estudaram na mesma escola pública de má qualidade. Por que o negro tem
direito a cota e o branco não? Eles não são igualmente pobres e igualmente
carentes? Por que favorecer somente o negro? Isso não seria uma discriminação
contra quem é branco? É evidente que sim. Mas, se esse sistema de cotas é tão
absurdo, como um professor universitário que fez no mínimo uma graduação e um
mestrado não consegue perceber isso? Na verdade, ele percebe. Por essa razão o
tal sociólogo fugiu do assunto. Se ele dissesse que era contrário às cotas
raciais, estaria indo contra uma das principais bandeiras que o seu partido político
defende – esse professor, por acaso, é militante de um desses partidos de esquerda de menor expressão. Se ele dissesse que era a favor, seria linchado pelos alunos. Por isso
ele tentou se esquivar da pergunta. Mas, prensado contra a parede, preferiu ser
linchado a trair seu partido.
E por que esse tal partido
defende algo tão injusto e sem sentido? Por uma razão muito simples: demagogia. Defender cotas raciais rende votos. Quando um partido defende cotas raciais, podem ter certeza, haverá muito
mais gente apoiando que criticando. Se um partido político, por outro lado, disser abertamente
que cotas raciais é algo injusto, muita gente dirá que esse é um partido
de uma elite branca e rica. Isso é uma tremenda bobagem. A elite rica e branca
desse país é tão desprezível do ponto de vista numérico que não consegue eleger
nem um vereador. Nenhum partido político no Brasil vai ter sucesso defendo os
interesses da elite endinheirada. Aliás, essa é uma das razões de termos tantos
partidos políticos assumidamente de esquerda e nenhum de direita.
Concluindo, não pense que os
manda-chuvas dos partidos de esquerda são bobos porque defendem uma agenda
ultrapassada. Bobos são os que acreditam nessas ideias e votam nesses partidos.
Os políticos de esquerda querem mesmo é o poder. Até aí, todos os partidos
querem também. A diferença está nos meios para se chegar ao poder. Meritocracia,
livre-mercado e aperfeiçoamento das instituições podem ajudar o desenvolvimento
econômico, mas não geram muitos votos. Redistribuição de renda, protecionismo e
cotas raciais, por outro lado, podem tornar a economia menos eficiente, mas são
ótimas bandeiras para conseguir votos. E no meio desse fogo cruzado, está uma
população majoritariamente pouco instruída e facilmente manipulável. Otimismo
em relação ao Brasil? Tento ter, mas está difícil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário