Alguns leitores pediram que
eu escrevesse um novo artigo aprofundando o tema cotas raciais. Então vamos a
ele.
A política de cotas raciais
surgiu nos Estados Unidos na década de 1960. Naquela época, algumas
universidades norte-americanas não aceitavam estudantes negros. Existe um caso
bastante emblemático sobre esse assunto. O estudante negro James Meredith teve
de recorrer à Suprema Corte para ser aceito na Universidade do Mississipi, que
só aceitava alunos brancos. Para evitar que ele sofresse algum tipo de agressão
na universidade, Meredith era sempre escoltado por dois agentes das Forças
Armadas.
James Meredith, a realidade era outra
Através do programa de cotas raciais, muitos alunos negros tiveram acesso à universidade. Mas, mesmo naquela época, esse modelo mostrou conter algumas fragilidades. O economista Thomas Sowell (que é negro), especialista no assunto, concluiu que o sistema de cotas beneficiou negros de classe média e alta, e praticamente não favoreceu negros pobres.
Em 2006, o estado do
Michigan realizou um referendo sobre o assunto e 58% dos cidadãos votaram
contra critérios raciais para escolha de candidatos às universidades. Michigan
foi o oitavo estado a abolir as políticas de afirmação racial das
universidades. Em 2014, essa questão chegou à Suprema Corte dos Estados Unidos,
que decretou a constitucionalidade da lei do estado do Michigan que bane
critérios raciais na seleção de candidatos às universidades.
No Brasil, negros nunca
foram impedidos de entrar nas universidades públicas ou privadas. Portanto, não há
sentido em se criar cotas para negros no Brasil. Essa política já nasceu
errada. É uma cópia mal feita do modelo americano dos anos 1960, em que a
realidade era completamente diferente da nossa. Particularmente, acho que
cotas raciais são um insulto aos negros. Quem defende essa política está
indiretamente dizendo que negros são menos capazes de conquistar uma vaga na
universidade pelo seu próprio esforço. E, por isso, precisam de um empurrãozinho do governo.
Outro aspecto que tem de ser
levado em consideração é que o Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, é um
país altamente miscigenado. Acredito que mais da metade dos brasileiros é
descendente de negros. Nessas condições, como definir quem é branco e quem é
negro? Em 2007, essa situação absurda veio à tona. Os gêmeos univitelinos
(idênticos) Alan e Alex Teixeira da Cunha inscreveram-se no vestibular da
Universidade de Brasília – UnB. Ambos morenos, filhos de pai negro e mãe
branca, optaram por concorrer pelo sistema de cotas raciais. Alex foi considerado branco e teve sua
inscrição rejeitada. Alan foi considerado negro e aceito.
Um argumento dos defensores
das cotas raciais é que o Brasil tem uma dívida histórica com os negros.
Concordo plenamente, a escravidão é uma mancha em nossa história. Só há um
problema aí, essa dívida não tem como ser saldada, pois os credores já
morreram. Você considera justo o governo lhe pagar uma indenização por uma
perversidade que foi cometida a um ancestral seu que viveu há mais de cem anos
e que você nem sabe o nome? Não, meus amigos, essa dívida não tem mais como ser
paga. Qualquer tentativa nesse sentido somente irá criar mais injustiça.
Finalmente, cotas raciais
tendem a aumentar, e não diminuir, o racismo. Certa vez perguntei a meu pai como
era o Brasil nos anos 1930. Perguntei se crianças brancas e negras brincavam
juntas ou separadas. Ele me respondeu que brincavam todas juntas. Não vou
generalizar e dizer que isso ocorria em todas as regiões do país e com pessoas
de todas as classes sociais. Mas, de qualquer forma, o Brasil tem um histórico
positivo de tolerância racial e devemos ter orgulho disso. A política de cotas
tende a dividir o país entre negros e brancos e pode enveredar o país no
caminho do ódio racial. Um candidato que presta vestibular e não é aprovado tende a resignar-se. Um candidato branco que é preterido por um sistema de
cotas raciais tende a se sentir injustiçado. Pode passar a odiar a política de
cotas. Ou pior, pode passar a odiar os negros.
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