sexta-feira, 8 de maio de 2015

A polêmica das cotas raciais

Alguns leitores pediram que eu escrevesse um novo artigo aprofundando o tema cotas raciais. Então vamos a ele.

A política de cotas raciais surgiu nos Estados Unidos na década de 1960. Naquela época, algumas universidades norte-americanas não aceitavam estudantes negros. Existe um caso bastante emblemático sobre esse assunto. O estudante negro James Meredith teve de recorrer à Suprema Corte para ser aceito na Universidade do Mississipi, que só aceitava alunos brancos. Para evitar que ele sofresse algum tipo de agressão na universidade, Meredith era sempre escoltado por dois agentes das Forças Armadas.


James Meredith, a realidade era outra

Através do programa de cotas raciais, muitos alunos negros tiveram acesso à universidade. Mas, mesmo naquela época, esse modelo mostrou conter algumas fragilidades. O economista Thomas Sowell (que é negro), especialista no assunto, concluiu que o sistema de cotas beneficiou negros de classe média e alta, e praticamente não favoreceu negros pobres.

Em 2006, o estado do Michigan realizou um referendo sobre o assunto e 58% dos cidadãos votaram contra critérios raciais para escolha de candidatos às universidades. Michigan foi o oitavo estado a abolir as políticas de afirmação racial das universidades. Em 2014, essa questão chegou à Suprema Corte dos Estados Unidos, que decretou a constitucionalidade da lei do estado do Michigan que bane critérios raciais na seleção de candidatos às universidades.

No Brasil, negros nunca foram impedidos de entrar nas universidades públicas ou privadas. Portanto, não há sentido em se criar cotas para negros no Brasil. Essa política já nasceu errada. É uma cópia mal feita do modelo americano dos anos 1960, em que a realidade era completamente diferente da nossa. Particularmente, acho que cotas raciais são um insulto aos negros. Quem defende essa política está indiretamente dizendo que negros são menos capazes de conquistar uma vaga na universidade pelo seu próprio esforço. E, por isso, precisam de um empurrãozinho do governo.

Outro aspecto que tem de ser levado em consideração é que o Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, é um país altamente miscigenado. Acredito que mais da metade dos brasileiros é descendente de negros. Nessas condições, como definir quem é branco e quem é negro? Em 2007, essa situação absurda veio à tona. Os gêmeos univitelinos (idênticos) Alan e Alex Teixeira da Cunha inscreveram-se no vestibular da Universidade de Brasília – UnB. Ambos morenos, filhos de pai negro e mãe branca, optaram por concorrer pelo sistema de cotas raciais.  Alex foi considerado branco e teve sua inscrição rejeitada. Alan foi considerado negro e aceito.

Um argumento dos defensores das cotas raciais é que o Brasil tem uma dívida histórica com os negros. Concordo plenamente, a escravidão é uma mancha em nossa história. Só há um problema aí, essa dívida não tem como ser saldada, pois os credores já morreram. Você considera justo o governo lhe pagar uma indenização por uma perversidade que foi cometida a um ancestral seu que viveu há mais de cem anos e que você nem sabe o nome? Não, meus amigos, essa dívida não tem mais como ser paga. Qualquer tentativa nesse sentido somente irá criar mais injustiça.

Finalmente, cotas raciais tendem a aumentar, e não diminuir, o racismo. Certa vez perguntei a meu pai como era o Brasil nos anos 1930. Perguntei se crianças brancas e negras brincavam juntas ou separadas. Ele me respondeu que brincavam todas juntas. Não vou generalizar e dizer que isso ocorria em todas as regiões do país e com pessoas de todas as classes sociais. Mas, de qualquer forma, o Brasil tem um histórico positivo de tolerância racial e devemos ter orgulho disso. A política de cotas tende a dividir o país entre negros e brancos e pode enveredar o país no caminho do ódio racial. Um candidato que presta vestibular e não é aprovado tende a resignar-se. Um candidato branco que é preterido por um sistema de cotas raciais tende a se sentir injustiçado. Pode passar a odiar a política de cotas. Ou pior, pode passar a odiar os negros.

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