Em meados dos anos 1990,
quando eu fazia graduação em economia, conheci uma garota do curso de letras.
Um certo dia, começamos a falar sobre economia. Falei para ela sobre algumas
ideias que eu acreditava. Ela não gostou nenhum pouco. Fechou a cara e me disse
bem brava: “isso é neoliberalismo”. Essa foi a primeira de várias situações
muito parecidas que viriam a ocorrer. Eu perdi a conta de quantas vezes fui
chamado de neoliberal. Depois de um tempo, concluí que, para preservar as
amizades, muitas vezes, era melhor evitar falar sobre política ou economia. Contudo,
acho que nós, liberais, temos algo a comemorar. O pensamento anti-liberal já
estava desacreditado há tempos, mas o fracasso do governo Dilma 1 foi a pá de
cal que faltava para sepultá-lo de vez.
O PT aderiu ao neoliberalismo?
Vamos recordar como isso
aconteceu. Quando Lula foi eleito em 2002, todos imaginavam que ele iria
colocar em prática ideias heterodoxas e anti-liberais de algum economista de
terceira classe. Quem seria o Ministro da Fazenda de Lula? Talvez a professora
emérita da UFRJ, Maria da Conceição Tavares. Ou quem sabe, o guru dos
desenvolvimentistas brasileiros, Luiz Gonzaga Beluzzo. Mas Lula, que não é bobo,
– para quem não sabe, os petistas se dividem em dois grupos, os bobos e os
cínicos – percebeu que nomear um desses economistas embusteiros seria a ruína
de seu governo. Lula, entre tantos economistas
desenvolvimentistas-keynesianos-heterodoxos, preferiu nomear para Ministro da
Fazenda um quase desconhecido médico de Ribeirão Preto, interior de São Paulo,
chamado Antônio Palocci. Tão esperto quanto Lula, ou mais, Palocci deu o
seguinte recado para o mercado. Fiquem tranquilos, nós vamos dar continuidade
às boas políticas ortodoxas de FHC, mas não podemos dizer isso abertamente.
Temos de continuar malhando o Judas. Temos de continuar falando mal do
neoliberalismo. Mas essa fala é de mentirinha, é puro marketing eleitoral,
serve somente para enganar os petistas bobos. E foi dessa forma que o PT se
transformou aparentemente em um partido neoliberal.
De fato, parecia que o
pensamento anti-liberal do PT tinha morrido ali, mas tudo mudou com a eleição da
atual presidente. Dilma, juntamente com Guido Mantega e Aloízio Mercadante,
fazem parte do outro grupo, o dos petistas bobos, aqueles mesmos que Lula e
Palocci levaram no bico. Diante de uma desaceleração da economia mundial, eles
resolveram – em vez de manter a ortodoxia econômica, que vinha funcionando até
então – ressuscitar o moribundo nacional desenvolvimentismo, lá do período do
general Ernesto Geisel. O resultado dessa brincadeira irresponsável, todos
sabemos bem: estagnação da economia, endividamento público e inflação.
A situação atual do governo Dilma
é crítica. Além da crise econômica, há uma crise política, perda de apoio popular
e denúncias de corrupção. Mas, em meio a tantas notícias ruins, creio que há
uma luz no fim do túnel. O Brasil que vai emergir findo o atual governo será um
Brasil melhor. Seja qual for o partido que venha governar o país, dificilmente irá
por tudo a perder flertando com políticas heterodoxas ou desenvolvimentistas
como fez a nossa atual presidente e sua trupe de saltimbancos. Inconscientemente,
Dilma deu uma contribuição e tanto a toda a nação. Deu uma lição de como não se
deve governar. E todos os políticos com um mínimo de inteligência devem ter
aprendido como provocar uma crise econômica sem ganhar nada em troca.
Na verdade, eu estava bem
mais pessimista em relação ao futuro do país que agora. Quando Dilma venceu as
eleições de 2014, pensei que um desastre estava por vir. Achei que a presidente
iria dar continuidade à sua política econômica desastrosa e lançar o Brasil
precipício abaixo. Mas a presidente me surpreendeu e mostrou que existe um
pouco de capacidade cognitiva dentro de sua cabeça avantajada. Ao nomear Joaquim
Levy como novo Ministro da Fazenda, ela reconheceu que o Brasil estava no
caminho errado e que precisava de um economista ortodoxo para colocar o país de
novo no rumo certo. Levy tem uma tarefa difícil pela frente: implementar medidas
recessivas em uma economia estagnada. Nada pode ser mais antipopular que isso.
Se Aécio tivesse vencido as eleições, ele estaria pondo em prática a mesma
política de austeridade fiscal. Petistas iriam dizer: esses tucanos só sabem
arrochar salários. De certa forma, foi bom que Dilma tenha ganhado as eleições.
Os petistas estão sentindo o gosto do seu próprio veneno. Nada mais justo.
Afinal de contas, quem comeu a carne, que roa os ossos.
O PT, se sobreviver à
tsunami que está se formando – crise econômica, crise política e corrupção –
provavelmente irá se transformar. Perante esse cenário tão adverso, alguns
ratos já estão abandonando o navio, como a senadora Marta Suplicy que está
ainda indecisa para qual partido deve ir. Para mim, tanto faz. Um rato a menos
ou um rato a mais não muda nada. O que fica de positivo após tudo isso? Acredito
que uma nação mais madura e menos hostil à economia de mercado. Espero que o
país dê um passo à frente e o discurso contra o liberalismo seja finalmente abandonado.
Mas talvez isso não aconteça. Infelizmente, nunca devemos subestimar a falta de
inteligência humana.
"De certa forma, foi bom que Dilma tenha ganhado as eleições. Os petistas estão sentindo o gosto do seu próprio veneno. Nada mais justo."
ResponderExcluireu completaria: "Nada poderia ser mais didático". Mas nem com tanto didatismo, há os bobos e os cínicos que não hão de aprender.