sábado, 28 de março de 2015

As drogas deveriam ser legalizadas?

Na década de 2000, muita gente apostava suas fichas na economia brasileira. Em 2001, o economista inglês Jim O’Neill criou a sigla BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, que mais tarde se transformaria em BRICS, com a inclusão da África do Sul (em inglês, South África). Segundo o economista, essas eram cinco nações em desenvolvimento, mas com potencial de superar as maiores economias do mundo em algumas décadas. Em 2009, a revista britânica The Economist publicou em sua capa uma imagem do Cristo Redentor como um foguete prestes a alçar vôo. Título da reportagem: Brazil takes off, ou Brasil decola, em tradução livre.

Legalizar é a solução

Curiosamente, nessa mesma época, eu andava pelas ruas do centro de São Paulo e tinha a sensação oposta. A quantidade de moradores de rua era gigantesca e parecia aumentar a cada dia. Eu me questionava: como a economia podia estar indo tão bem se a quantidade de miseráveis crescia a cada dia? Eu me lembro da mesma São Paulo nos anos 1980. Durante a chamada “década perdida”, em meio à inflação descontrolada, estagnação econômica e crise do endividamento externo, havia poucos moradores de rua. Como entender esse aparente paradoxo? Levou um tempinho para eu compreender o que estava acontecendo. Na década de 1980, não existia o crack. Aquela imensa horda de miseráveis que se acumulava no centro da cidade era, na verdade, viciados em crack.

Eu sempre fui um defensor da legalização plena da produção, comércio e uso de drogas. O surgimento do crack veio reforçar essa minha convicção. O crack é a cocaína dos pobres e surgiu somente porque a cocaína custa caro. E por que a cocaína custa caro?  Porque é ilegal. A única forma de inibir o consumo de crack está na completa legalização das drogas.

O meu argumento de que todas as drogas deveriam ser legalizadas está fundamentado em convicções pessoais de cunho filosófico e evidências empíricas. Do ponto de vista filosófico, eu acredito no liberalismo. E, como liberal, eu entendo que o Estado tem suas funções, mas o Estado não é nosso dono. Não é o Estado que vai nos dizer o que é bom e o que é mau, qual caminho devemos ou não devemos seguir. Quando uma pessoa decide se enveredar pelo mundo das drogas, está fazendo uma péssima escolha. Mas essa decisão deve partir do indivíduo e não do Estado.

Do ponto de vista empírico, temos de admitir, a repressão ao comércio de drogas falhou em praticamente todo o mundo. Vamos analisar o caso brasileiro que é o que conhecemos melhor. Vender drogas pode ser uma atividade altamente lucrativa. Os chefões do tráfico têm muito dinheiro e com esse dinheiro compram armas potentes. E com essas armas podem enfrentar a polícia de igual para igual. Nessa guerra, morrem policiais, bandidos e pessoas que nada têm a ver com a história. Virou rotina, principalmente no Rio de Janeiro, pessoas serem atingidas por bala perdida.

Uma outra contradição é: por que algumas drogas são legalizadas e outras não? Por que cigarros e bebidas alcoólicas são comercializadas livremente enquanto a maconha continua ilegal? A nicotina dos cigarros é muito mais viciante que o THC da maconha. Acredito que uma pessoa alcoolizada ao volante é algo mais perigoso que outra que tenha fumado um “baseado” ou até mesmo usado cocaína.

Outro mito é que a maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas. Isso é uma bobagem. Eu tenho vários amigos que apreciam álcool, mas não fumam. Conheço várias outras pessoas que fumam, mas não bebem. E já conheci pessoas que usavam maconha e não bebiam nem fumavam. Gostar de consumir um tipo de droga não significa gostar de outras. Além disso, não existe essa escadinha das drogas mais leves para as mais pesadas. E todo mundo que está no primeiro degrau da escada vai querer subir até o topo.

Imagine um mundo sem repressão às drogas. Os traficantes desapareceriam. Com o fim do tráfico, os bandidos teriam menos dinheiro, menos armas e menos condições de enfrentar a polícia. A guerra contra o tráfico desapareceria, as drogas seriam produzidas por pessoas comuns que trabalham e pagam impostos. Muitas vidas seriam poupadas. Existe apenas um ponto negativo em liberar o comércio de drogas. Se as drogas se tornarem mais baratas e acessíveis, provavelmente o consumo irá aumentar. Isso não é bom. Mas, conforme disse anteriormente, essa é uma decisão pessoal. Drogas podem destruir a vida de uma pessoa. Eu não fico feliz ao ver alguém com a vida destruída por causa do vício em drogas. Porém, mais triste que isso são as pessoas que nunca usaram droga e estão morrendo pela repressão ao consumo.

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