sábado, 11 de abril de 2015

O país do futuro

Em artigo recentemente publicado na Revista Veja, o economista Mailson da Nóbrega argumenta que não há razões para tanto pessimismo em relação ao Brasil (Longe do Colapso – 08/04/2015). Concordo plenamente. O país está enfrentando uma grave crise política e econômica, mas não estamos mais seguindo rumo a um precipício. O Brasil não vai se transformar em uma Venezuela. Levará alguns anos, mas o país voltará a crescer.

Sem educação de qualidade, não há desenvolvimento

Porém, que análise podemos fazer do Brasil no longo prazo? Como estará nosso país nas próximas décadas? Será que o Brasil ainda merece fazer parte dos Brics? Nesse caso, acho que temos razões de sobra para estarmos pessimistas. Num horizonte de tempo mais amplo, o Brasil poderia se tornar uma potência econômica. Mas isso dificilmente irá acontecer. Todos os países desenvolvidos fizeram no passado grandes investimentos em capital humano. E isso não está acontecendo no Brasil. Temos ainda um bônus demográfico positivo, ou seja, ainda somos um país jovem. Esse investimento deveria estar sendo feito neste momento. Mas não está.

Quando falamos sobre capital humano, é praticamente inevitável falar sobre a Coreia do Sul. No final dos anos 1950, a Coreia era um país paupérrimo, devastado pela guerra, sem indústria, sem riquezas naturais e com uma população predominantemente analfabeta. Em aproximadamente quarenta anos, esse país asiático conseguiu deixar para trás um quadro grave de pobreza e tornou-se um país desenvolvido. Como a Coreia conseguiu avançar tanto em um intervalo de tempo tão curto? Isso tem a ver com um conjunto de fatores. Mas, no meu entender, o aspecto mais fundamental do desenvolvimento coreano está relacionado à educação. Os coreanos apostaram pesado em educação, investiram muito em capital humano. Hoje, estão colhendo os resultados desse investimento.

O termo capital humano é bastante utilizado por economistas liberais, pelo menos desde a década de 1960. Se definirmos capital como algum tipo de riqueza capaz de produzir mais riqueza, o conhecimento humano pode ser considerado um tipo de capital. Por outro lado, economistas marxistas nunca aceitaram esse termo. Capital, dentro dessa abordagem, não significa meramente meios de produção. Capital é o elemento que define as relações de poder dentro de uma sociedade. Trabalhadores são desprovidos de meios de produção e por isso são obrigados a vender sua força de trabalho para os capitalistas. Dizer que trabalhadores detêm a posse de capital é uma afronta ao pensamento marxista. E, como é de praxe entre os marxistas, quando a teoria não explica a realidade, descarta-se a realidade e fica-se com a teoria.

Não há dúvida de que existe capital humano. Essa teoria não foi criada por economistas burgueses para ludibriar trabalhadores, como dizem os marxistas. Consideremos, por exemplo, algumas empresas de informática e internet, tais como: Microsoft, Google, Yahoo, Apple, Facebook, entre outras. Essas empresas não surgiram porque seus fundadores tinham muito dinheiro. Surgiram porque seus fundadores eram criativos e inovadores. Os criadores dessas empresas não eram, mas se tornaram magnatas bilionários. O criador do Facebook, Mark Zuckerberg, por exemplo, passou a integrar a lista dos homens mais ricos do mundo com pouco mais de vinte anos. Para essas pessoas pelos menos, podemos afirmar sem dúvida que o conhecimento (capital humano) foi o fator determinante do sucesso.

O capitalismo de hoje é muito diferente do capitalismo do século XIX, que Marx estudou. Nós estamos vivendo a era do conhecimento. Possuir conhecimento, nos dias de hoje, é algo mais valioso que ser proprietário de máquinas, equipamentos e instalações. Se o acesso ao conhecimento estiver disponível a todos, isso praticamente iguala as condições de todos os agentes no mercado. Não faz sentido falar em classes sociais na era do conhecimento.   

Voltando a falar de Brasil, infelizmente, não temos muito que comemorar em relação a esse assunto. De acordo com o PISA – Programme for International Student Assessmement – uma espécie de Enem internacional –, nossa educação básica é extremamente deficiente. Escolas privadas de elite no Brasil são, muitos vezes, inferiores a escolas públicas de países desenvolvidos. Com relação ao ensino superior, a situação é parecida. De acordo com Times Higher Education, o Brasil não possui uma universidade que figure entre as cinqüenta melhores do mundo. A USP – Universidade de São Paulo – considerada a melhor universidade do Brasil, está somente entre as setenta melhores do mundo. É muito pouco para um país que quer se tornar uma potência. Um dos poucos exemplos de investimento de sucesso em capital humano no Brasil foi a criação do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Se o Brasil não tivesse feito, no passado, esse investimento em capital humano, não teríamos hoje uma empresa que produz e exporta aviões.

A Coreia do Sul é provavelmente o caso mais bem sucedido de investimento em capital humano, mas não é o único.Um país que tem chamado bastante a atenção nos últimos anos é a Polônia. Estudantes poloneses têm se saído muito bem no PISA, deixando para trás estudantes de países que têm tradição em ensino de qualidade, como Alemanha, Canadá, Suécia, entre outros. Eu arriscaria dizer que a Polônia vai se tornar um país desenvolvido nas próximas duas décadas. Isso não será uma grande novidade, outros países já fizeram essa mesma trajetória. A Finlândia, que é um país sempre muito bem ranqueado no PISA, não era um país rico até algumas décadas passadas. Com relação ao Brasil, podemos dizer que estamos ficando para trás. Como dizem, o Brasil é o país do futuro. É e sempre será.

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