Isso nos leva
necessariamente a uma indagação: se a situação econômica tem melhorado, por que
a violência tem aumentado em vez de diminuir? Para quem acha que a questão
social não é relevante e a solução é simplesmente reprimir, convém notar que, em
2014, policiais civis e militares mataram 3.022 pessoas no Brasil - uma média de
oito pessoas por dia. Esse número representa um crescimento de 37% em relação a
2013. A polícia no Brasil é extremamente letal e cadeia parece que também não é
a solução. Com 607.700 presos, o Brasil tem a quarta maior população
encarcerada do mundo, atrás somente de China, Estados Unidos e Rússia.
Particularmente, acredito
que esse aumento da violência tem a ver com uma combinação explosiva: liberdade
sexual e baixos níveis de instrução. Explico melhor. Por volta dos anos 1970 –
com um certo atraso –, a revolução sexual chegou finalmente ao Brasil. Isso, por
um lado, foi positivo. Vivíamos em uma sociedade patriarcal, com mulheres submissas
e oprimidas. Quem (da minha geração) não se lembra da então sexóloga Marta
Suplicy argumentando contra o tabu da virgindade no programa TV Mulher?
Sou plenamente favorável à
emancipação sexual das mulheres. Mas, por outro lado, acredito que toda essa
liberdade sexual em um país com baixíssimo nível de instrução produziu
resultados indesejados: famílias desestruturadas, crianças abandonadas,
violência doméstica, entre outras coisas. Adolescentes passaram a ter filhos
cada vez mais cedo e ser mãe solteira se tornou algo cada vez mais normal. Sem
essa base familiar, muitas dessas crianças oriundas de famílias pobres e de
pouca instrução acabam se transformando em marginais.
Não acredito num retorno aos
valores morais dos anos 1950-60. Isso pode acontecer para alguns grupos, mas
não para a sociedade como um todo. A humanidade, por vezes, parece caminhar em
círculos, mas creio que estamos na realidade seguindo em frente. Certas
mudanças são definitivas, não há como voltar atrás. Portanto, não existe outra
alternativa, as pessoas têm de aprender a lidar com essa liberdade. Entendo que
a educação poderia dar uma grande contribuição para redução da violência.
Pessoas mais instruídas normalmente têm maior capacidade de discernimento e consequentemente tendem a evitar
comportamentos destrutivos. Basta fazer uma comparação do Brasil com algum país
desenvolvido. Na Suécia, por exemplo, as pessoas, de um modo geral, são
liberais do ponto de vista sexual, mas o país apresenta baixíssimos níveis de
violência. É evidente que a Suécia é um país rico, com alta renda per capita e
um Estado de Bem-Estar Social generoso. Tudo isso ajuda, mas acredito que o
ponto mais importante está na educação. Enquanto não resolvermos essa questão,
continuaremos sendo uma das nações mais violentas do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário