Certa vez, assistindo a uma palestra sobre finanças
pessoais, ouvi o seguinte argumento: uma das maiores desgraças que pode
acontecer a um ser humano é a ruína financeira. Depois de refletir sobre isso,
conclui que o palestrante estava certo. E praticamente todas, ou quase todas,
as pessoas em uma economia capitalista estão submetidas a esse risco.
Coincidentemente, há uns dias, encontrei um amigo, que eu não via há anos. E,
infelizmente, essa era a sua situação. É verdade que esse meu amigo fez algumas
bobagens na vida, mas acho que não merecia estar sofrendo tanto assim. Normalmente,
nessas situações, tenho uma tendência a pensar que o mundo é cruel, que o modelo
capitalista é injusto e que as coisas deveriam ser diferentes. Então fico
maquinando na minha cabeça como seria essa outra sociedade. E minha conclusão final é sempre a mesma. O capitalismo, com todas suas
mazelas, é o melhor modo de produção já criado pelo homem.

Socialismo: tô fora

Socialismo: tô fora
Primeiramente, temos de entender que o capitalismo surgiu a
partir a evolução natural das forças produtivas. Diferentemente do socialismo,
a economia de mercado não foi inventada por alguém, ela não é produto da mente
de algum intelectual iluminado. Capitalismo não é utopia, é fruto da vida
prática, do trabalho diário, do cotidiano e das tradições. Ele se constitui em
um conjunto de práticas, valores e costumes criado por pessoas comuns. Esse
conjunto de valores econômicos, políticos e institucionais está sendo
continuamente testado e aprimorado num processo quase que darwiniano. Práticas
eficientes permanecem e ineficientes são (quase sempre) naturalmente eliminadas. O capitalismo
também não é imposto através de uma revolução abrupta e violenta. Ele é
resultado de uma lenta evolução. Diferentemente dos socialistas que alegam
que a violência é a parteira da história, os defensores da economia de mercado
são amantes da paz.
Somente uma economia de mercado pode ser livre. Trocar mercadorias é algo natural, quase tão natural quanto trocar palavras. Colocar restrições ao funcionamento de uma economia de mercado é algo opressor, é quase tão opressor quanto proibir as pessoas de conversar, de trocar palavras. Além de trocar mercadorias, muitas pessoas têm o sonho de empreender um negócio. Impedir as pessoas de tentar realizar esse sonho também é um tipo de opressão. Somente em países capitalistas, as pessoas são livres para empreender.
No socialismo, a economia de mercado é substituída pela planificação econômica. Economias planificadas, além de menos eficientes do ponto de vista produtivo, são necessariamente autoritárias. Vejamos um exemplo. Suponha que em um país socialista os governantes (planificadores econômicos) sejam amantes das artes e concluam que o país deve ter mais teatros e museus. Por mais que eu goste de artes, tenho de admitir que essa decisão de construir mais teatros e museus é obviamente autoritária. Em uma economia de mercado, os consumidores escolhem, através de suas decisões de compra, os produtos que devem ser ofertados no mercado. Eu, particularmente, não aprecio muito a música popular que é feita hoje no Brasil. Mas entendo que esses artistas fazem sucesso porque o público (mercado) os consagrou. Por mais que eu não goste desses artistas, acho essa situação preferível a uma outra em que um poder central determine que tipo de música devemos ouvir.
Uma economia de mercado é fundamentada no conceito de
propriedade privada. A riqueza de cada indivíduo, por sua vez, é fruto de seu trabalho,
empenho e dedicação num momento passado. O desrespeito à propriedade privada é a
legitimação do roubo. No socialismo, a propriedade privada é substituída pela
propriedade pública. Esse coletivismo compulsório é uma violação à propriedade
privada e a aceitação do roubo como instrumento de política econômica.
Críticos do capitalismo alegam que uma economia de
mercado produz grandes desigualdades. Isso é verdade, porém essa desigualdade é
uma das forças do capitalismo. A desigualdade acentua a competição e a busca por aumentos de produtividade. Uma sociedade igualitária levaria as pessoas a uma
situação de acomodação e, consequentemente, à estagnação econômica.
Outro equívoco: socialistas tendem a interpretar o capitalismo como um
jogo de soma zero. Ou seja, um jogo, em que, para alguns ganharem mais, outros têm de ganhar
menos. Essa é uma visão equivocada. O capitalismo é, na verdade, um jogo de
soma positiva, todos saem ganhando. Capitalistas e trabalhadores não deveriam
ser vistos como inimigos, mas sim como aliados. Quanto mais o capitalista ganha
dinheiro, mais pessoas ele pode contratar e mais salários ele pode pagar. Quanto mais o capitalista fica rico,
mais a nação como um todo enriquece também.
O socialismo foi capaz de produzir igualdade, mas nunca, e em nenhuma parte do mundo, conseguiu gerar riqueza. Pessoas pobres em uma economia capitalista desenvolvida são mais ricas que um cidadão médio de uma economia socialista. Os socialistas do presente, bem como os do passado, são pessoas ressentidas, que acham que não têm o rendimento merecido e, por isso, querem impor a todos um igualitarismo forçado.
Voltando ao meu amigo falido, não há muito o que fazer.
Em uma economia de mercado, pessoas talentosas, inteligentes, capazes,
empreendedoras conseguem ganhar mais dinheiro que as que não têm esses mesmos
atributos. O capitalismo pune os perdedores. Pode ser darwiniano, pode ser
cruel, mas é também necessário. Essa punição é o preço da eficiência e da geração de uma riqueza crescente a ser dividida
(desigualmente) por todos. Na realidade, o problema da repartição da renda,
continua sendo um dos pontos mais nevrálgicos do capitalismo. Mas esse assunto
fica para um próximo post. Podemos pensar em mudar o capitalismo, reformá-lo,
torná-lo mais igualitário e mais justo. Mas jamais em abandoná-lo. E, com relação ao socialismo, digo
simplesmente o seguinte: muito obrigado, mas não estou interessado.
The Soviet Story
A reestruturação produtiva, o desmonte dos direitos sociais e a economia globalizada sob a égide do ideário neoliberal podem diminuir o trabalho vivo no processo produtivo, mas, nunca eliminá-lo. O trabalho morto, o trabalho cristalizado nas operações técnicas, o trabalho excedente, o trabalho produtor de mais-valia aumenta na proporção em que o trabalho vivo é diminuído. O corolário que se segue é a expulsão de muitos trabalhadores do mercado de trabalho. "Exército industrial de reserva" é o termo que nomeia o número de pessoas que excedem a capacidade produtiva. Não acho justo um sistema que funciona graças a existência de um número permanente de pessoas "sobrantes". O que é ruim é o estatismo, o capitalismo de estado, a tomada de poder por uma burocracia central e a estatização das forças produtivas. O que é ruim, também, é o capitalismo, produtor de desempregados. Proponho a economia solidária como meio para fazer fenecer o Estado, emancipar o trabalho do capital e outras coisas mais.
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