De acordo com o
IBGE, o PIB brasileiro teve uma retração de 3,6% em 2016. São dois
anos seguidos de queda; em 2015, houve um encolhimento de 3,8%. Essa
é a maior recessão que o Brasil já enfrentou, pelo menos desde
1948, quando esse cálculo começou a ser realizado.
Por que ocorrem
recessões? No final do século XVIII, com a Revolução Industrial,
vários economistas começaram a supor que o significativo aumento na
capacidade de produção de mercadorias iria gerar uma crise de
excesso de produção ou falta de demanda. No início do século XIX,
o economista francês Jean-Baptiste Say (1767-1832) argumentou que
toda oferta criava automaticamente sua própria demanda.
Resumidamente, quando as empresas produzem mais, geram uma renda
(salários e lucros) maior que, por sua vez, gera mais demanda. Para
Say, uma crise de subconsumo era algo impossível. Porém, em 1929, a
tão temida crise aconteceu. Diferentes autores apresentaram então
outras explicações para as crises econômicas, que iam da
psicologia até às manchas solares.
Crises econômicas é
um assunto complexo, mas a crise brasileira é algo relativamente
simples de entender. Primeiramente, a recessão brasileira tem
origens internas e não externas; nos anos de 2015 e 2016, houve
expansão e não retração da economia mundial. Particularmente,
penso que a crise provém de uma interpretação incorreta da teoria
keynesiana. O economista inglês, assim como os adeptos da teoria do
subconsumo, entendia que as crises econômicas eram resultado de uma
demanda insuficiente.
John Maynard Keynes
(1883-1946) foi o economista mais influente (e provavelmente o menos
compreendido) do século XX. De acordo com sua teoria, o governo,
frente a uma crise, deveria aumentar seus gastos, uma vez que esses
são um dos componentes da demanda agregada. Mesmo um gasto
improdutivo (abrir e fechar buracos, por exemplo) geraria demanda e
ajudaria na recuperação da economia. Nos países ricos, esse gasto
criou o Welfare State e permitiu a consolidação da social
democracia. Nos países pobres, voltou-se para políticas de
industrialização.
John Maynard Keynes
A crise econômica
do Brasil foi sobretudo um problema de falta de credibilidade - que
está lentamente se revertendo. O economista Lawrence Summers disse
certa vez que a melhor política industrial é a confiança. Concordo
plenamente com ele. Para entender a recessão brasileira, vamos
retroagir a 2008, ano da crise das hipotecas nos EUA que colocou fim
a um ciclo de crescimento global. Mesmo nesse cenário adverso, o
governo brasileiro queria manter elevadas taxas de crescimento. Para
alcançar esse objetivo, estimulou a demanda. Passou a aumentar o
gasto público e praticou uma política monetária menos restritiva.
É evidente que um
país com grande deficit público não deve aumentar ainda mais seus
gastos. E, se a inflação está alta, o governo deve praticar uma
política monetária mais restritiva. Ou seja, ao por em prática um
keynesianismo mal compreendido, o governo agiu totalmente fora do bom
senso. Rapidamente o setor privado percebeu os erros do governo,
concluiu que tal política levaria o país à bancarrota e reduziu os
investimentos. Tal atitude produziu um efeito dominó que podemos
chamar de recessão.
A única coisa
complexa em tudo isso é entender como pessoas tão experimentadas
puderam cometer erros tão primários. Essa crise juntamente com a
corrupção, violência e impunidade é a cara do Brasil. A recessão
gerou 12 milhões de desempregados. Ou seja, mais uma vez, o cidadão
comum é quem paga pela incompetência do governo. E aqueles que
produziram a crise? Continuam vivendo confortavelmente em suas casas
esperando a crise passar e quem sabe retornar ao poder. Não duvidem
disso, no Brasil, tudo é possível.
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