Durante a campanha à
Presidência da República, a candidata Dilma Rousseff repetiu exaustivamente que
uma das conquistas do seu governo foi a redução do desemprego. Isso é verdade.
E, infelizmente, o candidato da oposição não soube explicar esse estranho
paradoxo: como pode uma economia estagnada apresentar taxas decrescentes de
desemprego?
Debate 2014: faltou dizer alguma coisa
Vou tentar responder a essa
pergunta e, para efeitos de simplificação, vou fazer uma análise comparativa do
desemprego no Brasil apenas nos anos de 2013 e 2014. De acordo com dados da
Pesquisa Mensal de Emprego (PME) efetuada pelo IBGE, o desemprego recuou de
5,4%, em 2013, para 4,8%, em 2014. Como o IBGE calcula esses
números? Complicado? Nem tanto. Veja o diagrama abaixo, ele vai facilitar sua
vida.
População total
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População com menos de 10
anos
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PIA
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População não
economicamente ativa
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PEA
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População com 10 anos ou
mais (PIA)
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Desempregados
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População economicamente
ativa (PEA)
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Ocupados
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Da
população total do país, nós subtraímos as pessoas com menos de 10 anos. Chamamos
a parte restante de População em
Idade Ativa (PIA). Do que restou, subtraímos agora aqueles
que não querem ou não podem trabalhar: aposentados, pensionistas, estudantes,
donas de casa, encarcerados etc. Sobrou a famosa População Economicamente Ativa
(PEA). Fazem parte da PEA as pessoas engajadas no mercado de trabalho. Ou seja,
quem pertence à PEA tem de estar necessariamente trabalhando (ocupado) ou
procurando emprego (desempregado). Portanto, desempregado é o sujeito maior de
dez anos que está procurando emprego, mas não encontra. Finalizando, a taxa de
desemprego é calculada da seguinte maneira:
Taxa de desemprego =
Desempregados / População Economicamente Ativa
Uma outra relação também
importante, embora não tão conhecida, é a taxa de participação da força de
trabalho.
Taxa de participação
da força de trabalho = PEA / PIA
O que o candidato Aécio
poderia ter dito (mas não disse) é que a taxa de desemprego diminuiu, mas
emprego também diminuiu. A taxa de participação da força de trabalho recuou de 57%, em 2013, para 56%, em 2014. Resumindo, a
taxa de desemprego diminuiu não porque o país gerou mais empregos (muito pelo
contrário) e sim porque aumentou o número de pessoas que nem trabalham, nem
procuram emprego. Esse aumento de inativos tem
alguma coisa a ver com os programas assistencialistas do governo, notadamente o
Bolsa Família? É possível que sim, mas são necessárias mais análises para se
chegar a um resultado mais conclusivo.
Sabe-se ainda que essa
redução da PEA aconteceu sobretudo entre jovens de 18
a 24 anos. Muito bem, se esses jovens tivessem deixado
de integrar a PEA porque um membro da família passou a receber assistência do
governo e, em função disso, puderam se dedicar exclusivamente aos
estudos, teríamos aí um fato para ser comemorado. Mas não foi isso que
aconteceu. Entre 2013 e 2014, houve um aumento no número de jovens que não
trabalham e nem estudam. A minha conclusão pessoal é que ainda não é possível
afirmar isso com todas as letras, mas alguns fatos parecem indicar que a
expansão desse arcabouço de proteção social no Brasil está criando um exército
de inativos e isso não é nada bom.
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