domingo, 15 de fevereiro de 2015

O governo deve redistribuir renda?

Entre 1968 e 1973, durante o regime militar, o Brasil vivenciou o melhor período de desempenho econômico de sua história, que ficou conhecido como “Milagre Econômico”. Nesse intervalo de tempo, o Brasil teve um crescimento médio de 11% ao ano, queda da inflação e superávit no balanço de pagamentos. Mas, como nada é perfeito, o milagre teve o seu calcanhar de Aquiles. Durante esse período, houve um considerável aumento da concentração de renda no país.

Paraisópolis: o retrato da desigualdade

Aí surge a nossa questão fundamental. Por que houve aumento da desigualdade no período do milagre? A resposta mais aceita pelos economistas é que isso foi uma decorrência nas alterações ocorridas no mercado de trabalho. Com o aumento da atividade econômica, ocorreu também um crescimento na demanda por mão-de-obra. O problema é que houve um forte aumento na demanda por mão-de-obra qualificada e um pequeno aumento na demanda por mão-de-obra pouco qualificada. Resultado: os engenheiros, administradores e economistas tiveram um substancial aumento de renda. Por outro lado, os trabalhadores sem qualificação tiveram um pequeno aumento na renda.

Existe ainda uma segunda explicação para esse aumento na concentração de renda. É a folclórica “Teoria do Bolo”. Essa teoria é bem simples de entender. Para haver crescimento, é necessário investimento. Para haver investimento, é necessário poupança. Agora, pensem. Quem poupa mais? Os mais ricos ou os mais pobres? Logicamente que os mais ricos. Os mais pobres gastam toda (ou quase toda) sua renda em consumo. Conclusão, a concentração da renda estimula poupança, que estimula investimentos, que estimula o crescimento. Sabendo disso, os militares produziram intencionalmente um aumento na concentração da renda para gerar crescimento. Ou, como os que acreditam nessa teoria costumam dizer, era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuir.

Fiz essa não tão breve introdução simplesmente para exemplificar uma teoria econômica: existe uma certa incompatibilidade entre crescimento e redistribuição de renda. O instrumento clássico que o governo usa para redistribuir renda é a política fiscal. O governo desempenha o papel de Robin Hood, tira dos ricos (aumento de impostos) e dá aos pobres (políticas sociais). Vejam, quando o governo pune os ricos, simplesmente por serem ricos, e recompensa os pobres, simplesmente por serem pobres, ele cria um estímulo à ineficiência. Ou seja, os ricos (mais eficientes) têm de pagar mais impostos (são punidos). Já os pobres (menos eficientes) recebem ajuda do governo (são recompensados). Você não precisa ser PhD pela Universidade de Chicago para deduzir o que vai acontecer à economia se o governo aprofundar muito políticas dessa natureza. Correto?  

O que dizem os defensores da redistribuição da renda? Pessoas que vivem em situação de pobreza extrema não têm condição de sair dessa situação sem algum tipo de estímulo externo. A pobreza extrema gera uma série de problemas sociais: aumento da violência e da criminalidade, uso de drogas, gravidez na adolescência, crianças abandonadas etc. A pobreza pode gerar também desperdício de capital humano. Imagine se Bill Gates tivesse nascido numa família muito pobre e que aos 14 anos de idade tivesse sido forçado a deixar os estudos e começado a trabalhar em um supermercado para ajudar na renda familiar. Será que, nessas condições, ele teria conseguido fundar a Microsoft? Acho pouco provável.

Grandes expoentes do pensamento liberal como Friedman e Hayek eram favoráveis a algum tipo de redistribuição de renda. Acho que eles – como sempre ou quase sempre – estavam corretos. Qual o tamanho dessa redistribuição? Logicamente não existe um número fechado para essa questão. Essa é mais uma daquelas situações em que a diferença entre o remédio e o veneno pode estar na dose.

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