terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Falácias marxistas: o exército industrial de reserva

Imagine um mercado de limões. O preço do limão é determinado de acordo com a oferta e a demanda. Se a oferta aumenta, o preço cai. Se a oferta diminui, o preço sobe. Digamos que o preço de equilíbrio seja quatro reais o quilo. Para esse preço, não existe excesso nem de oferta, nem de demanda. Suponhamos agora que o governo, para favorecer os consumidores, estipule um preço de três reais o quilo. Qual será o resultado? Haverá escassez de limões no mercado. Imagine agora o contrário. O governo, para favorecer os produtores, tabele o preço do limão em cinco reais. O que vai acontecer? Haverá excesso de oferta, irão sobrar limões no mercado. Qual lição podemos tirar desse exemplo tão simples? Fácil, que os preços, salvo algumas exceções, devem se formar no mercado.

Por que existe desemprego?

Esse exemplo, tão singelo, serve também para o mercado de trabalho? Sim, o mercado de trabalho não é muito diferente do mercado de limões. Oferta e demanda se ajustam em um preço de equilíbrio. O desemprego somente vai ocorrer se houver intervenção nesse mercado – seja do governo, seja dos sindicatos. Resumindo, o desemprego persistente tem sempre uma natureza institucional.

Vamos em frente. Avanço tecnológico gera desemprego? Se você respondeu sim, sugiro que volte e comece a ler o texto desde o início. A tecnologia gera transformações no mercado de trabalho, mas não desemprego. Por exemplo, até meados dos anos 1950, a maior parte da população brasileira vivia no campo. Com a mecanização da lavoura, essa mão-de-obra se deslocou para a indústria. E, posteriormente, com o avanço da automação e da robótica, os trabalhadores começaram a migrar da indústria para o setor de serviços.

Eu poderia dar vários exemplos aqui, mas vamos ficar com somente um. Como o avanço da informática impactou o mercado de trabalho? Ele criou mais postos de trabalho ou diminuiu? O avanço da tecnologia funciona sempre da mesma forma. Ele aumenta a demanda por mão-de-obra mais qualificada e diminui a demanda por mão-de-obra pouco qualificada. Com o desenvolvimento da informática, surgiu uma demanda por novos profissionais: programadores, técnicos e analistas. Por outro lado, diminuiu sensivelmente a demanda por datilógrafos e auxiliares de escritórios.

No século XIX, Karl Marx disse que o avanço da maquinaria, ou a substituição do homem pela máquina, gerava um excedente de desempregados, que ele chamou de exército industrial de reserva. Ou seja, o capitalismo, pela sua própria natureza, cria um contingente de trabalhadores inativos. Esse exército de desempregados faz com que os salários permaneçam baixos e inibe os trabalhadores empregados de reivindicarem aumentos.

Essa compreensão acerca do funcionamento de uma economia de mercado é muito tosca, mesmo levando-se em consideração a época em que Marx viveu. Não sabemos nem nunca saberemos se Marx de fato acreditava nessa tolice ou se queria ardilosamente, por meio dela, insuflar trabalhadores numa luta contra o capitalismo.

O avanço da tecnologia – ou, a substituição do homem pela máquina – não gera desemprego. Todo desemprego é gerado por normas intervencionistas elaboradas pelo governo ou pelos sindicatos.

Por incrível que pareça, a teoria de um exército industrial de reserva, de tão fácil refutação, atravessou séculos e continua viva até hoje, em pleno século XXI. Socialistas ainda costumam dizer que os trabalhadores ganham pouco porque o capitalismo gera um contingente de trabalhadores desempregados. É incrível a capacidade que o ser humano tem de criar suas próprias fantasias e acreditar nelas. Que realidade mais azeda essa! Tão azeda quanto um limão.

4 comentários:

  1. Excelente texto. Um tanto equivocado, mas excelente. Não discutirei os efeitos da intervenção estatal ou sindical no mercado de trabalho uma vez que nada foi explicitado dos seus mecanismos pelo Prof. Vamos nos limitar ao dito "exercito indl. de reserva". A existência do último é de ordem quantitativa, não qualitativa. A conta é simples (até para o Prof.): No. de vagas/indivíduos disponíveis. É isto, e não a qualificação que estabelece tanto o nível dos salários quanto o nível do emprego. Mais "gente", mais desemprego, menor salário. Bastante simples, até para o Prof., que toma qualidade por quantidade. Para provar, aí restam Thomas Piketty e o 1% da classe dominante.

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    1. Volte e leia de novo! O quantidade de desempregados não dependem apenas das variáveis quantitativas "Nº de vagas" e "indivíduos", mas também variam na ordem qualitativas (qualificados ou não-qualificados). De qualquer forma as duas ordens interferem no balanço final, além de outras inúmeras provindas de fatores externos à empresa (impostos, absorção da demanda etc.).

      Mas vamos pegar um exemplo conhecido de Marx: a introdução do tear no setor têxtil. A introdução da nova tecnologia (tear) na indústria, não só não causou desemprego algum (já que o capitalismo estava em franco crescimento e, pela falta de oferta de tudo, tudo que era produzido era absorvido pelo mercado), como multiplicou o desempenho dos funcionários por 10. Um exemplo contemporâneo de Marx já prova que sua teoria do "exército industrial de reserva" era uma fraude. Exército esse que ele entendia ser a vanguarda da sua revolução, enaltecendo-os como "o motor da história". Estupidez!

      Um cara que não é dado o devido valor e que é essencial na compreensão da administração de empresas, logo, do mercado, é Frederick Winslow Taylor. Ele foi um cara que nasceu em família rica, mas, por conta de um problema na visão, ele resolveu trabalhar de operário numa metalúrgica na Filadélfia. Ele começou a pensar os mecanismos do trabalho exercido por ele e por seus colegas e enxergou certos padrões que o ajudaram a, posteriormente, escrever o livro Administração Científica. Além de ser a personificação da refutação da Luta de Classes, ele entendeu que, se a empresa focar no funcionário (dando-o tarefas específicas e orientando-o), ele trabalhará com mais eficiência (produzirá mais) e com mais eficácia (não perderá tempo fazendo coisas inúteis ao processo ao qual é responsável), sendo eficiente e eficaz ele receberá aumentos salariais (como o próprio Taylor recebeu durante a vida) e trará mais lucro pra empresa e pros proprietários dela. Deu-se início ao princípio básico da Administração de Empresas. Então, Taylor foi o cara que percebeu que a tensão entre "burgueses e proletários" era inútil e que a cooperação entre ambos resultava no regime de ganha-ganha.

      Sobre o Piketty, é uma estupidez que Marx gritou e que nunca pararam de repetir: "a acumulação de capital na mão de poucos". E daí que 1% da população possui quase 50% da fortuna da Terra? A Economia não é um jogo de soma zero, e não é porque o Rockefeller é bilionário que isso te afete de algum modo. Antes de ler Piketty, leia Mises, Hayek ou Friedman.

      Em suma: o seu post inteiro se resume em falácias.

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    2. Pelo menos em algo concordamos: "o seu post [do prof. autor] inteiro se resume em falácias". Mas imagino que você tenha se referido ao meu comentário (e não ao post).

      Assim sendo, devemos lembrá-lo de que todo bom "bourgeois" liberal só consegue enxergar o "ponto de equilíbrio". O antes ou depois, o processo, não lhe faz referência alguma (recomendo a leitura do "Processo" de Franz Kafka para entender o que é o fenômeno do processo). Nesse contexto, para o Liberal, simplesmente há uma pane no "radar" teórico, uma vez que sua "ideologia" é baseada na noção neoclássica de mundo.

      Na teoria de Marx, contudo, o capitalismo, como "processo", leva à concentração de riqueza na classe dominante, e desemprego, crise e miséria para a classe dominada. Basta verificar a crise de 2008. Nesta, a concentração foi, simplesmente, exponencial - ao ponto de todo o planeta notar o domínio do 1%.

      Ainda sobre a teoria de Marx, no período ao qual você menciona, da implantação do tear, o capitalismo estava em sua fase de ascensão. Logo, desemprego baixo e salários em alta. Nessa fase, a vida proletária melhora. No entanto, (e é aí que o bom burguês liberal "nada sabe") nas fases de crise (que são maioria no capitalismo), a acumulação da minoria aumenta e a - e em detrimento mesmo da - miséria da maioria.

      Uma informação de adendo: na época do lançamento de "O Capital" (1867) - portanto, época de Marx - o capitalismo vivia em sua plena primeira GRANDE crise. Logo, ele era contemporâneo da crise, e não do crescimento, como você afirma. E sua teoria se confirma na evolução dos acontecimentos que levaram à Primeira Grande Guerra.

      Já o seu amigo Taylor simplesmente confirmou o que era ele em essência. Um "bom burguês". Não se muda a essência do lobo por colocá-lo em pele de ovelha. Quando Taylor era um proletário, participava dos movimentos da classe operária. Quando ascendeu a cargo de gerenciamento... bom, parece que resolveu seu "problema na visão" e passou a "enxergar" direito (ou à direita, como queira) e a acompanhar à classe à qual era oriundo e - o que dá no mesmo - contra a sua classe antagônica, a proletária.

      O que nos leva à constatação de Piketty (e do resto do planeta). Se não há problema relevante algum em que 1% detenha mais, e enfatizo, mais de 50% da riqueza do planeta, como um "bom" teórico liberal, você aceitará fazer um pequeno exercício mental.

      O que aconteceria com esse 1% da população (e à sua riqueza) se os 99% simplesmente parassem de trabalhar por um ano? Digamos que esse 99% fariam qualquer outra coisa para sobreviver. Enfatizo que o foco da questão não é os 99%, mas o 1% dominante.

      Sabemos todos que 3/4 da população mundial não têm acesso às benesses do sistema capitalista (OCDE, FAU-ONU e muitos outros estudos, inclusive do Goldman Sachs, que primeiro detectou a dominância da classe do 1% e que essa classe SÓ teria UM problema a abalar as suas garantias: a democracia. E esta, a direta). O 1/4 restante, com exceção do 1%, claro, sobrevive - novamente cabe ênfase, sobrevive - razoavelmente - e eis o motivo por apoiar o capitalismo. A esses, damos o nome de "classe média". Lembra-se? É aquela que luta contra seus próprios interesses por falta de informação de qualidade? Disse eu, informação, não educação, o que não é exatamente a mesma coisa. Uma educação voltada para a "fábrica" e aos interesses da classe dominante não é informação, muito menos educação. É treinamento. Mas esse é outro tema que aqui não há espaço para desvelar.

      Voltando ao nosso exercício, pode-se verificar por obviedade que o 1% estaria, ao final do prazo, na miséria. Donde pode-se concluir que o sistema capitalista não vive de riqueza. Vive de acumulação de "mais-valia". Riqueza que não cresce, que não gera acumulação, às custas do mais-valor, simplesmente, não é capitalismo.

      Meu bom "bourgeois", não administre somente, informe-se.

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  2. Veja minha resposta no blog

    http://futuroerealidade.blogspot.com.br/2015/02/percepcoes-sobre-o-8-startup-chopp.html

    Trato de articular uma visão do empresariado com a economia solidária.

    Abraços.

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